sábado, 9 de junho de 2012

Entre a firmeza governamental e o vazio governamental. Canal de Opiniãopor Noé Nhantumbo

  
As agendas oficiais hoje são mais as que convém aos senhores que estão no governo, isto é as que convém aos seus negócios privados do que o que é preciso fazer-se pelos cidadãos.

Beira (Canalmoz) – Enquanto de alguns quadrantes se ouve dizer que já basta de diagnósticos e isso tem a sua razão de ser, continuam a ser são muitos os encontros desenhados com o objectivo de auscultar sensibilidades e determinar quais são os constrangimentos para a realização dos planos governamentais na esfera económica.
Os académicos que se apresentam com coragem e não se cansam de repetir seus pontos de vista contra determinadas práticas que são definidas no Conselho de Ministros são olhados com desconfiança e de esguelha. São tidos como empecilhos para a acção que alguns círculos governamentais julgam fundamental para levar a cabo seu trabalho. É a contradição entre aquilo que o país realmente precisa e um conjunto de directrizes visando realizar tudo menos o que maioria dos moçambicanos precisa e necessita.
São cada vez mais e maiores as contradicções entre o que os cidadãos pensam que o País deve ser e o que o Governo induz o País a ser.
A questão moçambicana, da sua economia e da sanidade de suas finanças é algo não tão simples como alguém se colocar a esquerda ou a direita dos assuntos em questão.
Não se pode desprezar o lado académico e teórico das posições assim como não se deve tomar de ânimo leve aqueles que dizem que chegou o tempo de por em prática o que aconselham os diversos diagnósticos existentes e deixarmo-nos de estar constantemente a fazer novos diagnósticos. Continua-se a gastar mais a diagnosticar do que a fazer.
Quando uma equipa de governo é formada e se decidem ou se aprovam programas deve estar subjacente que um dos objectivos de tal equipa é promover um diálogo aberto com os governados no sentido de todo o trabalho decidido ser realizado num ambiente sadio e de construção permanente de consensos. É tudo mais complicado e difícil quando se governa em constante oposição dos governados e das instituições da sociedade civil – a verdadeira sociedade civil e não a que foi montada para parecer haver consonância entre os cidadãos e o governo.
Embora se entenda que a crítica e apresentação de opiniões ou pontos de vista contrários faça parte do processo de concretização de ideias, é de considerar que o governo precisa de espaço para levar a cabo o seu trabalho. Mas isso não se faz nem se conquista com arrogância e prepotência. E o governo está agora mais do que nunca a seguir caminhos que desagradam.
A questão da governação em Moçambique tem aspectos que normalmente não são referidos ou abordados pelos analistas. Uns não se pronunciam porque receiam serem catalogados de oposicionistas e sujeitos a represálias; outros calam-se porque seus postos de trabalho e sua progressão na carreira profissional seria colocada em risco. No Governo já se tornou impaciente e relutante escutar os outros.
Certo é, porém, que muito do que se diz dificilmente seria aplicável ou pelo menos resultaria num atraso considerável na execução do que se tem que fazer ou do que o governo tenha decidido fazer. É preciso fazer. Auscultar e consultar a cada momento tem os seus custos, mas o que sucede é que as agendas oficiais hoje são mais as que convém aos senhores que estão no governo, isto é as que convém aos seus negócios privados do que o que é preciso fazer-se pelos cidadãos.
O país muitas vezes fica refém de decisões que pouco se relacionam com aquilo que seria mais acertado fazer em determinadas situações. Onde se aconselha estudar com maior profundidade um determinado dossier importante, alguns governantes, que dominam pouco o assunto, recorrem a ditadura da posição para ordenar que se prossiga, se vá em frente. Afinal bem sabem eles que só assim ganham mais algum e as suas contas correntes crescem. Só se ouvem a eles próprios. Não deixam o País andar. Impedem mais do que fazem. Não deixam fazer.
Não é brilhante nem de louvar que a única coisa que o ministro das Obras Públicas e Habitação diga seja que “enquanto não forem reunidos os fundos necessários para investir na reabilitação de raiz na estrada N6 o que se fará será o tapamento de buracos nas zonas mais críticas”. Refiro-me sobretudo ao troço Beira-Inchope, um autêntico crime contra os moçambicanos desta região do País.
Não é preciso convocar uma conferência de imprensa para anunciar que se vai tapar buracos. Até para anunciar que se vão tapar buracos o governo já pára o País ao tentar mostrar serviço que não passa de sua obrigação corrente que afinal nem cumpre.
Tapar buracos, ainda por cima à velocidade de caracóis não é bem o que os utentes daquela importante via rodoviária precisam. O ritmo a que trabalham e o que acabam por atrapalhar com as obras, acaba por juntar buracos a desordem rodoviária atrasando ainda mais a vida aos cidadãos.
É fácil convencer os governados de que o “bolso está furado” ou que o cofre está vazio quando quem o afirma tem a autoridade moral e política de fazê-lo. Mas face ao esbanjamento e a artificialidade dos procedimentos pouco são os cidadãos convencidos de que a razão da falta de trabalho de manutenção e reabilitação das estradas e outras infra-estruturas públicas seja a falta de dinheiro público.
Há sempre dinheiro para o que não faz falta e nunca há para atender às reais necessidades dos cidadãos.
Cada vez mais as pessoas se convencem que quem não paga impostos ou foge a eles é que está certo, tal a roubalheira e o desperdício que vai no governo e nas instituições.
Temos necessidade de firmeza governamental e de um governo que se faça sentir e respeitar. Uma coisa é respeitar o governo que temos e nisso os moçambicanos não tem nenhum problema e outra coisa é respeitar um grupo de pessoas que pouco ou nada faz em nosso benefício.
Quando um governo se transforma num grupo de “corta-fitas” torna-se numa carga pesada e indigesta.
O Ministério de Interior não tem de se comportar abusivamente contra os direitos humanos dos cidadãos. Este ministério tem de actuar com mão pesada contra os imigrantes ilegais, contra as redes de introdução de imigrantes ilegais, contra o tráfico de mulheres para a prostituição, contra a venda de vistos e outros documentos de identificação moçambicanos. Este ministério tem de aceitar treinar e actualizar os agentes da PRM em cooperação com entidades congéneres de maneira que o combate ao crime e sua prevenção sejam de acordo com as necessidades sociais. No lugar de linchamentos temos de ouvir dizer que a justiça em Moçambique funciona de maneira aceitável, de acordo com os padrões convencionais e internacionalmente aceites.
Moçambique tem de deixar de ser porta aberta e corredor de passagem de capitais ilícitos e proliferação de actividades ilícitas. Uma combinação de acções entre os ministérios do Interior, Justiça, Procuradoria Geral da República tem de ser entendido como uma necessidade inadiável.
Temos fraquezas e temos outras facilidades tropicais que são instituídas para favorecer o enriquecimento de agentes do estado no exercício de suas funções e isso tem de acabar. Nada se faz para acabar com isso porque enquanto uns roubam em cima outros podem ir roubando em baixo para que a cadeia de divertimento à custa no cidadão não pare.
Aquele barulho que se faz na comunicação social face a actos incríveis e de difícil aceitação é decorrente de comportamentos anómalos institucionais bem identificados.
Não é o tamanho do território nem a exiguidade de meios que devem contribuir para uma porosidade cada vez maior de nossas fronteiras.
A migração ilegal está afectando em grande medida a estabilidade social e económica do país. Se por exemplo se atender que muitas das transacções económicas que se realizam são produto de importações ilegais e que a estrutura de preços de mercadorias e produtos contrabandeados é lesiva aos cidadãos, isso concorre directamente para a diluição do poder de compra dos moçambicanos. Que redes internacionais se beneficiam da porosidade fronteiriça moçambicana é evidente. Com a cumplicidade de ministros e figuras que usam a intimidação política.
Será que os fundos esporadicamente encontrados na posse de traficantes nas fronteiras não podem servir para financiar actividades ilícitas que colocam em perigo a paz no país?
Quem sai com largos milhares de dólares e volta com mercadorias para o circuito comercial lícito está ao serviço de quem? A quem beneficia?
Queremos um país aberto e sem xenofobias de qualquer tipo e espécie. Mas isso é diferente de termos um país à mercê dos traficantes de todo o tipo com a cumplicidade de quem é suposto agir em nome do Estado para impedir precisamente o que estamos a assistir.
Urge cooperar com quem faz melhor do que nós e sobretudo urge fechar as portas aos traficantes de pessoas e bens. A normalidade governativa é um processo em que todos os agentes do estado e funcionários de todos os níveis devem estar engajados.
A seriedade que os moçambicanos querem ver nos seus governantes não se compadece com atitudes elitistas e de distanciamento entre governantes e governados.
“Não se pode deixar para amanhã o que se deve fazer hoje”. Houve tempos em que se poderia alegar toda uma série de justificações para sustentar a não execução diligente do trabalho que é da responsabilidade de quem governa o país. Esse tempos já passaram e agora chegou a altura de se definirem responsabilidades e tudo o que é feito seja monitorizado sem esperar por visitas ministeriais e presidenciais. (Noé Nhantumbo)
Imagem: Ninguém pergunta ao vazio. Pergunta por que constata que, do que sabe, ...
pt-br.facebook.com

Sem comentários: