quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Epopeia das Trevas (56)




O amor, são muitos sentimentos, qual deles devemos seguir? Normalmente mergulhamos no sentimento da carne, mais tarde amaldiçoamo-nos pela escolha. Terminamos na eterna dúvida, não sabemos o que é amar, não sabemos o que é o amor. Nos ritos do casamento, o sacerdote costuma prevenir: «neste dia unem a plenitude dos tempos eternos. Mostrem-se tolerantes quando se provocarem. Mantenham-se firmes no amor, nos muitos momentos difíceis, e momentâneos felizes».

É como a amizade. Tive muitas mas nunca consegui descobrir quem era de facto amiga. Também tive muitas amigas, também fiquei sem saber qual delas me era fiel. E assim continuamos nesta angústia do augusto eterno. E tudo se acaba, se recompõe, tudo volta ao que já era.
Bendigo a Deus esses instantes que me lembram, que sempre me acompanharam, mas que só agora notei.

Iam com os embondos da adversidade nas cabeças. Aos quitundulos apressavam-se. Não havia tempo a perder. O destino das balas é muito rápido, macabro. A morte é muito paciente, sabe esperar. Não se preocupa muito, porque sabe que todos a procuram. Tem sempre um lugar vago na eternidade.

Retornaremos às matas, cumpriremos o nosso destino, a nossa odisseia. Defraudaram-nos os quitutes. Vamos para Kalunga, regressamos às nossas raízes, ao reencontro do tempo dos Aymaras, no templo do lago Titicaca.
Antes da chegada dos colonizadores, os Aymara viviam felizes no lago Titicaca.

Depois confinaram-nos, acamparam-nos, concentraram-nos em campos murados. Ainda existem muitos muros, agora nas ditaduras democráticas de contenção. E prometem que sempre existirão. Assim o garante o comunismo chinês que se prepara subtilmente para conquistar, impor ao mundo um sistema político e económico ultrapassado. Mais muros da fome, do arame farpado, electrificado. Os monumentos do sofrimento da civilização: Auschwitz-Tsirkenau, Neuengamme, Bergen-Belsen, Mittelbaudora, Buchenwald, Flossenberg, Natzweiler, Ravensbruk, Sachsenhausen, Terezin, Dachau, Mauthausen, Stutthof, Chelmno, Gross-Rosen, Treblinka, Sobibor, Lublin-Maidanek, Belzec, Plaszow. Os campos de Valeriano Weyler, Nisei, Estaline, do marechal de campo britânico, Roberts, e do seu sucessor Kitchener.

Se tenho fome e não tenho nada para comer, que mal fiz? Porque não me dão comida? Vivo entre pessoas ou com seres irracionais? Espero que Zeus acabe brevemente com isto. Uns – a minoria – merecem viver. A maioria é para Jingola ver. Mas, quem merece viver?

Coloquem lá as nossas fotografias nos vossos murais da fome para que se lembrem de nós. De mais vítimas que tentaram atravessar os muros desumanizados da vergonhosa fome e não conseguiram. Agora impuseram-nos os campos modernos da concentração da fome global, globalizada.

O dia aparece, clareia, mais um, outro tempo sem esperança. Mais um dia de fome. Que comeremos hoje? Não sei! Não sabemos, ninguém sabe, ninguém quer saber. É assim a nossa vida. É este o legado da civilização do homem branco. Fome! Sempre fome! A civilização da fome. Não fazemos parte da História, perderam-nos nela.

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