MICHEL LAMY
Para Charpentier, isso não tem a menor dúvida: a Arca ficou no local, escondida sob o Templo, e os Templários descobriram-na. Esta afirmação deverá ser aceite com muita circunspeção, mas não deixa de ter interesse. Se admitirmos, por um instante, a sua validade como hipótese de investigação, torna-se lógico pensar que, entre 1104 e 1108, Hugues de Champagne e Hugues de Payns, uma espécie de aventureiros da Arca perdida, tenham conseguido descobrir documentos que permitiam localizá-la. O trabalho dos monges de cister e dos sábios judeus que os ajudaram teria consistido então na tradução e interpretação dos textos eventualmente fragmentários trazidos por Hugues de Champagne. Depois, munidos de informações adequadas, e depois de terem obtido como alojamento o local do Templo de Salomão, os primeiros cavaleiros do Templo teriam podido realizar escavações que conduziriam à descoberta da Arca.
Quanto a isto, Charpentier cita em primeiro lugar, como memória, uma tradição oral que faria dos Templários os detentores das Tábuas da Lei. Lembra o regresso ao Ocidente dos primeiros templários, em 1128. Assim, abandonavam a sua missão. É claro que se tratava de obter a fundação de uma ordem militar dotada de uma regra especial, mas seria necessário, para tal, abandonar tudo no Oriente, durante um longo período? Não bastaria enviar um embaixador, tanto mais que os cavaleiros não tiveram a menor dificuldade em obter o que desejavam graças à força dos apoios de que beneficiavam? Ora, o preliminar da regra que então lhes foi dada por São Bernardo começava assim:
Bem agiu Damedieu conosco e com o Nosso Salvador Jesus Cristo, o qual enviou os seus amigos da Santa Cidade de Jerusalém à Marca de França e da Borgonha [ ... ].
Charpentier comenta e sublinha:
A obra é realizada com a ajuda de Nous. E os cavaleiros foram mesmo mandados à Marca de França e da Borgonha, isto é, à Champagne, sob a proteção do conde de Champagne, onde podem ser tomadas todas as precauções contra qualquer ingerência dos poderes públicos ou eclesiásticos: naquele lugar onde, nessa época, se pode garantir melhor um segredo, uma vigilância, um esconderijo.
E Charpentier pensa que os Cavaleiros do Templo, ao regressarem ao Ocidente, traziam, se assim o podemos dizer, nas suas bagagens, a Arca da Aliança. E precisa:
No portal norte de Chartres, o portal chamado “dos Iniciados”, existe duas colunatas esculpidas em relevo e ostentando, uma, a imagem do transporte da Arca por uma junta de bois, com a legenda: Archa cederis; a outra, a Arca que um homem cobre com um véu, ou agarra com um véu, perto de um monte de cadáveres entre os quais se distingue um cavaleiro de cota de malha; a legenda é: «Hic amititur Archa cederis» (amititur possivelmente em vez de amittitur).
Terá de ver-se aí um indício suficiente para apoiar a tese de Charpentier? Podemos, temos inclusive o dever de sermos extremamente cépticos. No entanto, é mesmo a Arca da Aliança que parece estar representada, em cima de um carro de quatro rodas, em Chartres. Com efeito, uma escultura idêntica, representando o transporte da Arca, encontra-se nas ruínas da sinagoga de Cafarnaum.
Essa representação mostra que, em Chartres, se atribuía um interesse muito especial ao transporte da Arca e poderia significar que os escultores não ignoravam que ela fora deslocada. Isso não quer dizer, de modo algum, que tenha sido trazida para o Ocidente pelos Templários, nem sequer que estes tenham uma relação especial com essa deslocação. Precisamente, poderemos observar que a decoração da catedral de Chartres evoca mais de uma vez os cavaleiros do Templo.
O outro segredo de Salomão
O segredo descoberto no local do Templo pelos Templários pode não ter qualquer relação com a Arca da Aliança, embora continue ligado a Salomão. De qualquer modo, é forçoso reconhecer que há muitos pontos comuns entre os Templários e este rei. Em primeiro lugar, temos de lembrar que, logo no início, Hugues de Payns e os seus amigos tinham tomado o nome de «Pobres Cavaleiros de Cristo» e isso até terem ocupado o local do Templo de Salomão - pelo menos é o que geralmente se diz. Ora, a partir do momento em que obtiveram a sua regra (logo, após as suas possíveis descobertas), lê-se no prólogo da versão francesa: «Aqui começa a regra da pobre cavalaria do Templo.»
Muito em breve encontramos nas doações que lhes foram feitas os títulos de cavaleiros do Templo de Salomão. A expressão não veio, pois, por hábito e foi decidida muito rapidamente. Notemos, por outro lado, que o minnesãnger alemão, Wolfrain von Eschenbach, que se afirmava Templário, escrevia no seu Parzival que o Graal fora transmitido por Flégétanis, «da linhagem de Salomão», e que os Templários eram os seus guardiões.
Voltaremos a este ponto. Pensemos também na construção do Templo que Salomão confiara a mestre Hiram. O arquiteto, segundo a lenda, foi morto por companheiros invejosos aos quais recusara a divulgação de determinados segredos. A seguir ao desaparecimento de Hiram, Salomão enviara nove mestres à sua procura, nove mestres como os nove primeiros Templários à procura do arquiteto dos segredos.
Imagem: http://4.bp.blogspot.com/
Para Charpentier, isso não tem a menor dúvida: a Arca ficou no local, escondida sob o Templo, e os Templários descobriram-na. Esta afirmação deverá ser aceite com muita circunspeção, mas não deixa de ter interesse. Se admitirmos, por um instante, a sua validade como hipótese de investigação, torna-se lógico pensar que, entre 1104 e 1108, Hugues de Champagne e Hugues de Payns, uma espécie de aventureiros da Arca perdida, tenham conseguido descobrir documentos que permitiam localizá-la. O trabalho dos monges de cister e dos sábios judeus que os ajudaram teria consistido então na tradução e interpretação dos textos eventualmente fragmentários trazidos por Hugues de Champagne. Depois, munidos de informações adequadas, e depois de terem obtido como alojamento o local do Templo de Salomão, os primeiros cavaleiros do Templo teriam podido realizar escavações que conduziriam à descoberta da Arca.
Quanto a isto, Charpentier cita em primeiro lugar, como memória, uma tradição oral que faria dos Templários os detentores das Tábuas da Lei. Lembra o regresso ao Ocidente dos primeiros templários, em 1128. Assim, abandonavam a sua missão. É claro que se tratava de obter a fundação de uma ordem militar dotada de uma regra especial, mas seria necessário, para tal, abandonar tudo no Oriente, durante um longo período? Não bastaria enviar um embaixador, tanto mais que os cavaleiros não tiveram a menor dificuldade em obter o que desejavam graças à força dos apoios de que beneficiavam? Ora, o preliminar da regra que então lhes foi dada por São Bernardo começava assim:
Bem agiu Damedieu conosco e com o Nosso Salvador Jesus Cristo, o qual enviou os seus amigos da Santa Cidade de Jerusalém à Marca de França e da Borgonha [ ... ].
Charpentier comenta e sublinha:
A obra é realizada com a ajuda de Nous. E os cavaleiros foram mesmo mandados à Marca de França e da Borgonha, isto é, à Champagne, sob a proteção do conde de Champagne, onde podem ser tomadas todas as precauções contra qualquer ingerência dos poderes públicos ou eclesiásticos: naquele lugar onde, nessa época, se pode garantir melhor um segredo, uma vigilância, um esconderijo.
E Charpentier pensa que os Cavaleiros do Templo, ao regressarem ao Ocidente, traziam, se assim o podemos dizer, nas suas bagagens, a Arca da Aliança. E precisa:
No portal norte de Chartres, o portal chamado “dos Iniciados”, existe duas colunatas esculpidas em relevo e ostentando, uma, a imagem do transporte da Arca por uma junta de bois, com a legenda: Archa cederis; a outra, a Arca que um homem cobre com um véu, ou agarra com um véu, perto de um monte de cadáveres entre os quais se distingue um cavaleiro de cota de malha; a legenda é: «Hic amititur Archa cederis» (amititur possivelmente em vez de amittitur).
Terá de ver-se aí um indício suficiente para apoiar a tese de Charpentier? Podemos, temos inclusive o dever de sermos extremamente cépticos. No entanto, é mesmo a Arca da Aliança que parece estar representada, em cima de um carro de quatro rodas, em Chartres. Com efeito, uma escultura idêntica, representando o transporte da Arca, encontra-se nas ruínas da sinagoga de Cafarnaum.
Essa representação mostra que, em Chartres, se atribuía um interesse muito especial ao transporte da Arca e poderia significar que os escultores não ignoravam que ela fora deslocada. Isso não quer dizer, de modo algum, que tenha sido trazida para o Ocidente pelos Templários, nem sequer que estes tenham uma relação especial com essa deslocação. Precisamente, poderemos observar que a decoração da catedral de Chartres evoca mais de uma vez os cavaleiros do Templo.
O outro segredo de Salomão
O segredo descoberto no local do Templo pelos Templários pode não ter qualquer relação com a Arca da Aliança, embora continue ligado a Salomão. De qualquer modo, é forçoso reconhecer que há muitos pontos comuns entre os Templários e este rei. Em primeiro lugar, temos de lembrar que, logo no início, Hugues de Payns e os seus amigos tinham tomado o nome de «Pobres Cavaleiros de Cristo» e isso até terem ocupado o local do Templo de Salomão - pelo menos é o que geralmente se diz. Ora, a partir do momento em que obtiveram a sua regra (logo, após as suas possíveis descobertas), lê-se no prólogo da versão francesa: «Aqui começa a regra da pobre cavalaria do Templo.»
Muito em breve encontramos nas doações que lhes foram feitas os títulos de cavaleiros do Templo de Salomão. A expressão não veio, pois, por hábito e foi decidida muito rapidamente. Notemos, por outro lado, que o minnesãnger alemão, Wolfrain von Eschenbach, que se afirmava Templário, escrevia no seu Parzival que o Graal fora transmitido por Flégétanis, «da linhagem de Salomão», e que os Templários eram os seus guardiões.
Voltaremos a este ponto. Pensemos também na construção do Templo que Salomão confiara a mestre Hiram. O arquiteto, segundo a lenda, foi morto por companheiros invejosos aos quais recusara a divulgação de determinados segredos. A seguir ao desaparecimento de Hiram, Salomão enviara nove mestres à sua procura, nove mestres como os nove primeiros Templários à procura do arquiteto dos segredos.
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