segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Epopeia das Trevas (58)




A civilização Branca entrou bem nas outras civilizações alegando que eram inferiores, selvagens, que ritualizavam sacrifícios humanos. Com estas justificações invadiram-nos e submeteram-nos à escravidão. Perguntavam-lhes sempre: onde está o oiro, onde estão os diamantes, onde estão as esmeraldas? Os povos não davam valor a essas coisas. Preocupavam-se em amar os deuses da sua natureza e da Natureza.

Invocando os sacrifícios humanos dos apelidados selvagens, iniciaram a matança de milhares, de milhões. Sem comparação possível com os rituais dos corpos que eram oferecidos aos deuses das civilizações destruídas. Os civilizadores Brancos queriam apenas roubar e tudo lhes servia e serve de pretexto. Exterminaram civilizações que desapareceram da História, restando alguns exemplares que mal se lembram do que se passou com os seus antepassados.

Foi assim com os Maias, Astecas, Incas, Hindus, Islamitas, Índios dos Estados Unidos da América, Índios do Brasil e os Negros. Aqui é uma anedota extraordinária: a civilização Branca defendia-se que esta gente andava nua. Vestiam qualquer coisa para se taparem. Não sabiam o que era vestuário, por isso diziam que eram muito primitivos. Mas os seus olhos lançavam faíscas de lascívia para os seios nus e para os corpos das nativas.

Eles, e especialmente elas, as Brancas, deram nas vistas que o calor era demais e ofereceram os seus corpos quase desnudos, imitando as selvagens de corpo escuro, moreno, tisnado, sensual, apetitoso da cor misteriosa do luar africano.

Foram compensados, habilmente ludibriados com a liberdade da carta de alforria. A questão é: pode um escravo ser livre? Nunca! Passa de uma escravidão para outra. O escravo é liberto mas não se liberta, não consegue sobreviver porque não lhe deram acesso a nenhuma instrução, a nenhuma profissão. Ele deveria reivindicar esse privilégio. Mas como, se ele não sabe ler, não sabe escrever. Nesta condição, libertar é neo-escravizar.

Foi isto que se passou com as independências em África. Oportunistas africanos educados na civilização Branca, lutaram pela independência, prometeram bem-estar aos seus povos, correram com os colonizadores, mais tarde lembraram-se que os Brancos antes de serem escorraçados, deveriam ficar algum tempo para deixarem aos Negros as profissões necessárias para manterem os países na normalidade.

De qualquer modo a civilização Branca apoiou esse abandono. Sabiam com sarcasmo que uma inapta multidão de escravos satisfaria a continuação dos seus desejos. Na administração colonial caíam algumas migalhas, no neocolonialismo essa rubrica deixou de existir. Substituiu-se por outra: o lucro do despejo e da espoliação dos casebres. É mais fácil, não dá trabalho nem chatices explorar. É por isso que se diz que a fome não é branca, é negra.

Ressoa-me na memória a homilia sacerdotal do estigma dos três cês, a perversão social dos desejos fáceis do feminino: casa, carro e conta bancária.

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