Revolução Negra
A independência do Haiti, influenciada pela Revolução Francesa, é considerada a única revolta de escravos bem-sucedida desde a Antigüidade clássica. Esse capítulo da história enche de orgulho os afro-descendentes latino-americanos, como símbolo da abolição. Na época, provocou temor nas nações escravocratas – Estados Unidos, Brasil e Cuba
por Aloisio Milani
© AKG IMAGES/LATINSTOCK
Iniciada em 1791, a revolta dos escravos foi a única vitoriosa desde a Antigüidade Revolta em Leocane, água-forte, autor desconhecido, 1840, Haiti
O trabalho na cana era extenuante e desumano. Por décadas, a colônia francesa de São Domingos sustentou um dos mais lucrativos negócios do Novo Mundo com o chicote apontado para o corpo dos escravos africanos. Os negros cavavam valas para o plantio das mudas, cuidavam dos brotos, zelavam pelo crescimento, faziam a colheita e toda a fabricação do açúcar. Os lucros dependiam da exploração do trabalho. A manutenção da escravidão pelos donos de engenho se baseava em castigos brutais e tinha um nível de perseguição implacável.
Os relatos da época descreviam que as punições das chibatas eram mais comuns do que receber comida. Mutilavam-lhes membros, orelhas e genitais; faziam-nos comer excrementos; amarravam-lhes grilhões e blocos de madeira; prendiam-nos a postes fincados no chão. A tortura sistemática originava, não sem razão, uma sede de vingança. E este foi um dos motivos da revolta que seria iniciada em 1791 e conformou a única rebelião vitoriosa de escravos desde a Antigüidade clássica. A independência do Haiti, proclamada em 1804, só nasceu por causa dela.
Na ilha de Ahti – como os índios descreveram a região montanhosa para Cristóvão Colombo em 1492 –, o período colonial deixaria as marcas de genocídios, torturas e escravizações desde fins do século XV. A população nativa foi dizimada. Passou de aproximadamente meio milhão para cerca de 60 mil em rápidos 15 anos. Enquanto os espanhóis deixavam parte do território à medida que acabava a riqueza das minas de ouro, os franceses passavam a ocupar o norte da ilha.
Em 1697, a Espanha reconheceu a soberania da França nas terras. A partir daí, o empreendimento dos colonizadores foi a cana-de-açúcar produzida pelas mãos dos escravos. São Domingos era um oásis exponencialmente lucrativo para a burguesia marítima, responsável pelo tráfico negreiro, e para os produtores de açúcar. Cerca de 20 anos antes da revolta, a colônia começou a viver a apoteose. Exportava 35 mil toneladas de açúcar bruto e 25 mil toneladas de açúcar branco. A elite branca ostentava mais e mais. Entre 1783 e 1789, a produção quase dobrou. E a colônia não avançava sem os escravos.
A independência do Haiti, influenciada pela Revolução Francesa, é considerada a única revolta de escravos bem-sucedida desde a Antigüidade clássica. Esse capítulo da história enche de orgulho os afro-descendentes latino-americanos, como símbolo da abolição. Na época, provocou temor nas nações escravocratas – Estados Unidos, Brasil e Cuba
por Aloisio Milani
© AKG IMAGES/LATINSTOCK
Iniciada em 1791, a revolta dos escravos foi a única vitoriosa desde a Antigüidade Revolta em Leocane, água-forte, autor desconhecido, 1840, Haiti
O trabalho na cana era extenuante e desumano. Por décadas, a colônia francesa de São Domingos sustentou um dos mais lucrativos negócios do Novo Mundo com o chicote apontado para o corpo dos escravos africanos. Os negros cavavam valas para o plantio das mudas, cuidavam dos brotos, zelavam pelo crescimento, faziam a colheita e toda a fabricação do açúcar. Os lucros dependiam da exploração do trabalho. A manutenção da escravidão pelos donos de engenho se baseava em castigos brutais e tinha um nível de perseguição implacável.
Os relatos da época descreviam que as punições das chibatas eram mais comuns do que receber comida. Mutilavam-lhes membros, orelhas e genitais; faziam-nos comer excrementos; amarravam-lhes grilhões e blocos de madeira; prendiam-nos a postes fincados no chão. A tortura sistemática originava, não sem razão, uma sede de vingança. E este foi um dos motivos da revolta que seria iniciada em 1791 e conformou a única rebelião vitoriosa de escravos desde a Antigüidade clássica. A independência do Haiti, proclamada em 1804, só nasceu por causa dela.
Na ilha de Ahti – como os índios descreveram a região montanhosa para Cristóvão Colombo em 1492 –, o período colonial deixaria as marcas de genocídios, torturas e escravizações desde fins do século XV. A população nativa foi dizimada. Passou de aproximadamente meio milhão para cerca de 60 mil em rápidos 15 anos. Enquanto os espanhóis deixavam parte do território à medida que acabava a riqueza das minas de ouro, os franceses passavam a ocupar o norte da ilha.
Em 1697, a Espanha reconheceu a soberania da França nas terras. A partir daí, o empreendimento dos colonizadores foi a cana-de-açúcar produzida pelas mãos dos escravos. São Domingos era um oásis exponencialmente lucrativo para a burguesia marítima, responsável pelo tráfico negreiro, e para os produtores de açúcar. Cerca de 20 anos antes da revolta, a colônia começou a viver a apoteose. Exportava 35 mil toneladas de açúcar bruto e 25 mil toneladas de açúcar branco. A elite branca ostentava mais e mais. Entre 1783 e 1789, a produção quase dobrou. E a colônia não avançava sem os escravos.
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