quarta-feira, 23 de novembro de 2011

“Há saudosistas da guerra que andam a agitar as pessoas para se manifestarem” - Governadora de Maputo


Por temer rebelião. Governo anuncia proibição de manifestações e põe Polícia em prontidão

“Há saudosistas da guerra que andam a agitar as pessoas para se manifestarem” - Governadora de Maputo

Maputo (Canalmoz) – O Governo está cada vez mais assustado com o ideia de uma possível manifestação popular, por isso a Polícia da República de Moçambique (PRM) foi advertida para ser “muito vigilante contra prováveis manifestações com que pretendem desestabilizar a boa governação do Governo”.
A governadora da província de Maputo, Maria Jonas, apelou à Polícia da República de Moçambique nos distritos de Magude e Manhiça, para reforçar a “vigilância” contra os que apelidou de “saudosistas da guerra que andam a agitar as pessoas para se manifestar”.
O Governo considera o distrito da Manhiça como sendo um ponto estratégico que poderá ser escolhido pelos prováveis manifestantes contra o Governo. Pela sede do distrito da Manhiça passa a estrada nacional N1 que liga Maputo ao Centro e Norte do País.
O governo desta vez receia um movimento feminino na Manhiça, estando assim a crescer os focos de descontentamento. Nos últimos dias surgiram alguns movimentos femininos que vêm reivindicando a atribuição de Direitos de Uso e Aproveitamento de Terra (DUATs) pelo Governo do presidente Armando Guebuza
O Executivo, entretanto, acusa a oposição de estar por detrás dessas manifestações que descreve como sendo de “cunho político”.
“Apelamos aos comandos distritais da PRM para reforçarem a vigilância contra as prováveis manifestações que pretendem desestabilizar a nossa boa governação”, disse Maria Jonas no fim da semana passada, visivelmente desapontada com a acção do Governo distrital da Manhiça que ela acha que nada está a fazer para impedir as manifestações.
Uma fonte do Governo distrital da Manhiça disse na ocasião que “a situação não está boa”.
“A qualquer movimento a coisa pode arrebentar”.
A situação tem sido objecto de discussão tanto a nível do Governo, como do partido Frelimo, diz-nos a fonte da Manhiça. Segundo essa mesma fonte o governo instruiu a Polícia “para tomarem cuidado com alguns movimentos que vêm de Maputo para se manifestar aqui na Manhiça”.

PRM minimiza os apelos

O Canalmoz contactou o comandante distrital da PRM na Manhiça, superintendente da Polícia João Zimile, para ouvi-lo em contraditório. Desvalorizou os apelos da governadora Maria Jonas. “Nós nada temos a ver com os políticos”.
“Aqui não há nada de política. As pessoas que têm vindo a reivindicar, exigem aquilo que acham ser seus direitos, como o não pagamento de salários, atribuição de terras e outros problemas”.
Assustado com os cenários de instabilidade, sobretudo com a ameaça dos desmobilizados de guerra, o Governo moçambicano está ainda a usar os chefes de quarteirões para advertir as pessoas a não se manifestarem.
Os chefes de quarteirões tem vindo a ameaçar que o governo não vai admitir o desfile de pessoas agrupadas.
Os chefes de quarteirão andam a dizer em certos bairros da periferia de Maputo que o Executivo não vai permitir que os cidadãos de Maputo saiam às ruas para protestarem contra qualquer que seja o motivo.
Segundo informações trazidas ao Canalmoz, o senhor Macamo, chefe do quarteirão 17 do bairro de Ferroviário e os chefes dos quarteirões 32, 37 e 38, dos bairros da Polana Caniço têm andado a ameaçar a população, anunciando que estão proibidas manifestações populares.
“Queremos avisar que está proibido alinhar com todos os grupos que aparecerem em protesto contra o Governo”, disse um responsável do bairro da Polana Caniço.
Com efeito, está proibido qualquer sinal de manifestação. Os chefes dos quarteirões referidos foram-nos citados e terão dito aos populares que o Governo não quer ver pessoas a protestar. “Ninguém deve seguir um aglomerado de pessoas agitadas, porque desestabilizam a ordem e tranquilidade públicas”. É a mensagem que está a ser passada.
Ainda na semana passada, a governadora da província de Maputo, Maria Jonas, fez o mesmo tipo de apelos às populações de Mothasse e Matsandzane. Pediu-lhes para não seguirem os que ela apelidou de “saudosistas da guerra e que andam a agitar as pessoas”.
“Queremos a Paz”, disse a governadora Maria Jonas. Confirmava desse modo os receios do Governo.
Entretanto, o Governo moçambicano tem estado a movimentar armamento para as regiões centro e norte do país, na sequência dos receios que tem sobre possíveis levantamentos populares. Armas e outros equipamentos militares foram transportados na última terça-feira, de Maputo para pontos desconhecidos. (Bernardo Álvaro)

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