quinta-feira, 14 de julho de 2011

Angola e a ditadura do PIB


Como o crescimento projectado do Pib era artificialmente inflado, o país fica endividado além da sua capacidade de pagamento. Frente à ameaça da moratória entra então uma segunda rodada de negociações, assegurando o controlo por firmas americanas das reservas de petróleo ou outros recursos. (Como a China fará a seguir em Angola). Em resumo, Perkins era encarregado de organizar, para as grandes empresas americanas, o aprisionamento dos países na armadilha da dívida, na chamada “debt trap”. In Armadilha da dívida. Ladislau Dowbor
…O caso da Arábia Saudita é exemplar: “Eu simplesmente punha a minha imaginação para funcionar e escrevia relatórios que apresentavam uma visão de futuro glorioso para o reino. (Como também se faz em Angola). Eu tinha referências aproximadas para as cifras que eu poderia utilizar para estimar coisas como o custo aproximado de produzir um mega watt de energia eléctrica, uma milha de estrada, água, esgoto” etc. (...) “Eu sempre tinha em mente os verdadeiros objectivos: maximizar pagamentos a firmas dos EUA, e tornar a Arábia Saudita cada vez mais dependente dos Estados Unidos. (Assim como Angola, dependerá em absoluto da China). Não levei muito tempo a entender como os dois objectivos se articulavam; quase todos os novos projectos desenvolvidos exigiriam “upgrading” e serviços de apoio contínuos, e eram tão complexos do ponto de vista técnico que assegurariam que as empresas fornecedoras teriam que mantê-los e modernizá-los.
Na realidade, conforme eu avançava com o meu trabalho, comecei a juntar duas listas para cada um dos projectos que eu visionava: uma para os contratos do tipo “design e construção”, e outra para acordos de serviço e gestão de longo prazo. MAIN, Bechtel, Brown & Root, Halliburton, Stone & Webster, e muitas outras empresas americanas de engenharia e construção teriam lucros generosos para as décadas seguintes”. A expansão das firmas era acompanhada da negociação da sua protecção militar, evidentemente apresentada como segurança do país, convenientemente ameaçado pelas tensões regionais “A sua presença (da indústria da defesa) iria requerer uma outra fase de engenharia e construção, projectos, incluindo aeroportos, (como o novo aeroporto de Luanda) sites de mísseis, bases de pessoal militar, e toda a infra-estrutura associada com estas instalações”. Um dos chefes do Perkins se referia ao reino da Arábia Saudita como “a vaca que iremos ordenhar até que o sol se ponha sobre a nossa aposentadoria”…
…É interessante fazer o paralelo entre Perkins, o homem do sistema que sai denunciando, e Stiglitz, que larga o Banco Mundial e publica “A globalização e os seus malefícios”, ou ainda David Korten que participa dos programas da USAID na Ásia e sai denunciando o que se faz na realidade (“Quando as corporações regem o mundo”). O sistema é realmente bastante podre, e chamar isto de “livre mercado” é realmente um insulto a Adam Smith» In Actualizações. Ladislau Dowbor)

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