sexta-feira, 22 de julho de 2011

Elogio fúnebre ao ditador que ceifou duas vidas, mas que permanecem vivas nos nossos corações


Tantas vidas para viver
Mas confesso que não sei qual delas escolher
A de paciente foi a que mais me fez sofrer
E a de ficar só, nunca soube porquê
Como o livro da sabedoria aberto mas que ninguém lê
Deito-me para dormir
Mas não consigo, quem consegue? Se levantar, caminhar?
Sempre com a polícia antiterror a rondar
E não consigo satisfazer nenhum dos meus desejos
Há um que consigo. Pego na minha guitarra, e dedilho-a

Quero viver! Não quero mais sofrer!
Quero viver! Não quero mais sofrer!
Quero viver! Não quero mais sofrer!

Gosto de pairar por sob as altas montanhas
E sentir-me livre, como uma águia
Porque também sou uma majestade
Uma deusa eterna, uma estátua de jade
E no meu magnífico voo, para os meus desejos vou
Eu sou a Terra, os oceanos, os olhos do Universo
Já vi tudo passar pelos meus olhos
E no entanto ainda não me cansei
Mas tenho a certeza adquirida
Que do meu sonho imposto despertarei

Quero viver! Não quero mais sofrer!
Quero viver! Não quero mais sofrer!
Quero viver! Não quero mais sofrer!

Já ando nisto há quarenta anos, séculos, milénios
e raramente vi justiça exemplar
pelo contrário, habituei-me ao mundo
da injustiça triunfar
por mais que ande, sulque nas avassaladoras multidões
nunca deixo de lamentar, amargurar os inocentes
campos verdes, primaveris crianças nos turbilhões
pedófilos de olhares maliciosos, maldosos
até já extinguiram as asas das borboletas
preferem-nas obsoletas

Quero viver! Não quero mais sofrer!
Quero viver! Não quero mais sofrer!
Quero viver! Não quero mais sofrer!

Uma das vidas que me mais tem feito sofrer
É o amor que até agora nunca consegui ver
Alguém me pode mostrar onde o encontrar?
Mas juro que hei-de caminhar
E quando finalmente o apanhar, vou-lhe amarrar
Assim ele nunca mais se vai afastar
É que o amor é assim, chega rápido e vai
Como se nunca existisse
Continuo nesta longa caminhada
Na luta, no destino final, pelo amor resignado

Quero viver! Não quero mais sofrer!
Quero viver! Não quero mais sofrer!
Quero viver! Não quero mais sofrer!

Tantas vidas para viver
Mas confesso que não sei qual delas escolher
A de paciente foi a que mais me fez sofrer
E a de ficar só, nunca soube porquê
Como o livro da sabedoria aberto mas que ninguém lê
Deito-me para dormir
Mas não consigo, quem consegue? Se levantar, caminhar?
E não consigo satisfazer nenhum dos meus desejos
Há um que consigo. Pego na minha guitarra, e dedilho-a

Quero viver! Não quero mais sofrer!
Quero viver! Não quero mais sofrer!
Quero viver! Não quero mais sofrer!

Brevemente encontrarei o ditador sem poder
a falecer. Ele não deixa ninguém viver
espoliou-nos tudo, até a terra, os cemitérios
não temos onde falecer
Ó ditador, muito em breve nos encontraremos
Eu, rodeado pelos jasmins
e tu, pelas chamas do teu inferno

Elogio fúnebre a dois militantes do BD-Bloco Democrático, assassinados pela Polícia no Cacuaco, Luanda, e que até agora a Polícia guarda silêncio, como se fosse um acto normalíssimo assassinar quem quer se seja.

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