sexta-feira, 1 de julho de 2011

Bento Bento aterroriza opositores do MPLA em Luanda



Cerca de quatrocentos militantes do MPLA - em representação de 20 Comités de Especialidade - participaram, segunda-feira, 27, no auditório “28 de Agosto”, no bairro Vila Alice, em Luanda, numa reunião presidida pelo 1.º secretário provincial do partido no poder para ouvir, entre outras, orientações inusitadas:

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destruir os “discos duros” de computadores, cujos proprietários ou usuários não perfilhem as mesmas opiniões da “Grande Família” e particularmente do seu líder, José Eduardo dos Santos; constituir grupos de intervenção em debates de fim de semana sob orientação de um corpo de piquete; ameaçar, ou agredir de forma velada, cidadãos que se aprestem a participar de manifestações públicas contra o Executivo. Fontes independentes dizem, entretanto, que tal medida é uma “assanhadisse” da inteira e exclusiva responsabilidade de Bento Bento, na medida em que, asseguram as nossas fontes, a direcção do partido no poder tem apelado à tolerância política e a unidade na diversidade entre os angolanos. É caso para perguntar: o que faz correr Bento Bento?

O passado dia 27 de Junho pode representar o início de uma nova era na vida dos comités de especialidade do MPLA. Tudo tem a ver com a radical mudança que o 1º secretário do partido em Luanda, Bento Bento, anunciou aos seus militantes, segundo a qual todos os quadros superiores do partido, em particular, e, de um modo geral, os integrantes dos referidos comités, deverão dar início a um combate sem tréguas a todas as manifestações de insatisfação popular, que segundo foi apurado pela direcção do partido no poder, tem crescido exponencialmente e são já muito visíveis os sinais de crescimento desta insatisfação nos vários bairros da cidade de Luanda.

De acordo com palavras de Bento Bento, que é também membro do Bureau Político do MPLA, o momento agora é de combate no domínio da Comunicação Social e da cibernética, apelando a todos os membros inscritos nos comités de especialidade para que doravante enveredem por uma postura de verdadeira «guerra» contra todos aqueles que incitam à «confusão» - um termo em voga no país para designar descontentamento popular – e cujo sentido perverso tem sido habilmente aplicado em circunstâncias de aperto quando o partido MPLA se vê acossado pelas imensas reivindicações dos cidadãos, organizações independentes ou mesmo partidos políticos, no tocante à má-governação, falta de democracia, manipulação dos órgãos públicos de Comunicação Social, o enriquecimento restrito e inexplicado das famílias da elite política governante e a contestada longevidade do presidente Eduardo dos Santos que já leva 32 anos no poder.

Os membros destas organizações - muito criticadas pela Oposição que as acusa de serem utilizadas como chamariz para aliciar indefinidamente os quadros nacionais e fomentar no seu seio a bajulação para fins de promoção nos cargos administrativos e de direcção nas instituições do Estado - foram instados na passada segunda-feira a agirem em bloco nos debates radiofónicos de fim de semana, com intervenções combinadas em grupos específicos que deverão receber instruções precisas a partir de um centro de comando, a ser montado na sede daquela organização política, à Vila Alice, na antiga rua João de Barros.

A par deste procedimento completamente adverso e coercivo, pois deturpa a opinião para fins eleitoralistas e coíbe os especialistas no tratamento sério das matérias em debate, o 1º secretário do MPLA de Luanda, Bento Bento, foi mais longe dirigindo-se especialmente para o comité de especialidade dos informáticos do MPLA apelando para que estes tudo façam para impedir, por mecanismos e ferramentas informáticas disponíveis, toda e qualquer tentativa de cidadãos descontentes poderem transmitir por via electrónica opiniões desfavoráveis que possam afectar a «boa» imagem do partido.

Segundo fonte bem posicionada, que participou da referida reunião quase secreta no Auditório 28 de Agosto na sede provincial, Bento Bento chegou mesmo a usar a expressão «destruir os discos duros» dos malfeitores, em alusão aos angolanos que não partilham das opiniões e prática política do partido no poder. Enfatizando com exemplos hilariantes a necessidade dos intelectuais e quadros do partido enquadrados nos comitês começarem a partir de agora facebookar de modo concertado para defenderem o nome de Eduardo dos Santos, aquele dirigente partidário não evitou o escandaloso apelo ao recurso baixo de identificar se possível os impulsionadores das manifestações populares de contestação ao regime a fim destes serem exemplarmente punidos de acordo com a gravidade da situação.

Para o caso das manifestações de rua, o 1º secretário avançou a subversão e a ameaça directa aos participantes, uma acção de que se deverão encarregar os militantes enquadrados nos Caps de bairro, cabendo aos membros dos comités de especialidade atacarem o inimigo com manobras mais sofisticadas com recurso à ciência e técnica com o fim de destruir o que for possível e bloquear o que estiver ao alcance.

A reunião, que foi grandemente aplaudida, teve ainda o condão de saudar a resistência do coronel Khadafi na Líbia, Laurent Gbagbo, na Cote D’Ivoire, e os demais líderes do norte de África destituídos - segundo leitura própria daquele secretário – pela intromissão abusiva da França e Estados Unidos da América que se arrogam agora em
mandões do mundo após queda do império russo e do bloco do Leste.
Para fontes que estiveram no local, a transformação dos comités de especialidade do MPLA em grupos concertados de combate ao crime da Liberdade de Expressão e do fortalecimento da luta pela democracia, constitui um sério revés a todo processo de reunificação da família angolana e cria laivos preocupantes que põem em perigo a ciência e a qualidade da intelectualidade angolana, inquinando sobremaneira os esforços da unidade na adversidade ao mesmo tempo que coloca em perigo a integridade física dos cidadãos.

Uma das fontes, por sinal um militante de grande prestígio que pediu o anonimato, disse que o partido acabou por sequestrar grande parte dos quadros nacionais e intelectuais de grande valia para o desenvolvimento da política económica e social do país, pois é por demais consabido que o partido só promove a lugares de relevo aqueles quadros que aderem ao pensamento político do líder do partido, o presidente José Eduardo dos Santos.

Um dos militantes, que comentou com enorme desagrado o desvio que agora se confere aos comités de especialidade, recordou que num país como o nosso onde o maior empregador é o Estado e este é gerido por políticas partidárias, o especialista, médico, engenheiro ou até desportista vê-se compulsado para uma prática dócil e de apoio incondicional ao MPLA sem a qual se pode ver atirado para o desemprego ou o sub-emprego. A reunião contou com mais de 400 militantes tendo decorrido numa sala que lotou por completo.

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