Portugal está entre «as maiores lavandarias dos recursos roubados de
Angola»
O advogado angolano David Mendes disse esta sexta-feira, em Lisboa, que
Portugal compactua com a corrupção em Angola ao aceitar investimentos com
origem ilícita deste país, instando o Estado português a investigar e devolver
estes recursos à Angola.
«Facilmente pode-se chegar à conclusão que Portugal tem interesse em que
este grupo que sustenta a corrupção em Angola continue (a atuar), porque entram
em Portugal, semanalmente, quase 40 milhões de dólares» (30,9 milhões de
euros), disse Mendes, que integra também a Associação Mãos Livres.
O advogado angolano fez estas declarações à margem de uma audiência
pública, organizada pela eurodeputada socialista Ana Gomes, em que se discutiu
um relatório sobre corrupção em Angola.
O documento, da Corruption Watch e da Associação Mãos Livres, aponta o
alegado envolvimento de figuras do regime angolano, incluindo o Presidente angolano
José Eduardo dos Santos, e intermediários num contrato que terá lesado Angola
em mais de 700 milhões de dólares (541 milhões de euros), num acordo para
restruturar a dívida de Angola à Rússia que data dos anos de 1990.
«O fluxo de dinheiro de Angola para Portugal é superior aos
investimentos feitos em Angola», afirmou Mendes.
De acordo com o advogado, «esse grupo (angolano) de pessoas ligadas ao
poder tem uma relação umbilical também com políticos portugueses que estão no
poder».
«Portugal poderia saber de uma forma fácil como estas pessoas obtém o
dinheiro e chegar à conclusão que este dinheiro é ilícito», referiu ainda,
citado pela Lusa.
«Sendo dinheiro ilícito, ainda que os investimentos em Portugal sejam
lícitos, o Estado português tem a obrigação de cancelar estes investimentos e
devolver o dinheiro para Angola», acrescentou.
Portugal, segundo o ativista, tem a obrigação de saber se os capitais
que entram no seu território pagam os seus impostos em Angola, um país que tem
tantas limitações no que se refere ao bem-estar da população, que passa por
carências extremas.
«A par da China e do Brasil», Portugal está entre «as maiores
lavandarias dos recursos roubados de Angola», referiu ainda o ativista político
angolano Rafael Marques.
Marques, entretanto, já vê «sinais na sociedade portuguesa, sobretudo
dos magistrados, de prestar a atenção a esta situação e este é um sinal
positivo que deve ser reconhecido, porque a magistratura portuguesa acaba por
conferir alguma respeitabilidade ao Estado português».
«Há uma certa resistência por parte da sociedade angolana a tudo isso
que se passa, mas tem mais a ver com o discurso de Portugal, do que com os
cidadãos portugueses», indicou ainda Rafael Marques.
«O governo português é visto como um acessório de propaganda do governo
angolano, pelas declarações que os dirigentes portugueses fazem a favor da
elite angolana, desta elite corrupta», sublinhou o ativista angolano.
LUSA
ANGOLA24HORAS
Sem comentários:
Enviar um comentário