sexta-feira, 24 de maio de 2013

Perseguição implacável de Dos Santos - William Tonet


Luanda  - Neste mês de Maio, gostaria de falar do germinar das sementes de uma PAZ verdadeira, sem rememorar as agruras do 27 de Maio de 1977, mas desconsigo.
Fonte: Folha8
E isso porque falar da PAZ tão ansiada pela maioria dos povos de Angola é diferente da actual que discrimina e elimina quem não se ajoelha para dizer amém aos deuses do convento.
Tanto assim é que, nos anais da actual história do regime, escrita com tinta vermelha, os feitos de outros actores não constam nas suas estatísticas, pese terem colocado pedras nos caboucos para que Angola se libertasse do jugo colonial, da tirania comunista e se possa converter numa pátria justa e igual para todos.

Maio é para a maioria dos autóctones, um mês de tristes recordações, por coincidentemente, também ter sido, no dia 15 de Maio de 1977, por agitação de políticos irresponsáveis, incitados por comunicados incendiários do então Ministério da Informação, terem sido bárbara e cruelmente assassinados sem julgamento, 80 mil intelectuais.

Trinta e seis anos depois, aos 15 de Maio de 2013, o actual Ministério da Comunicação Social, emite um comunicado para ameaçar, precisamente, os dois únicos órgãos de imprensa, que o regime não conseguiu comprar ou manietar: Folha 8 (privado-independente) e a Rádio Despertar (ligada à UNITA), de extinção, caso não incluam nas suas linhas editoriais a idolatria ao status quo.

E nessa cavalgada, José Luís de Matos ordenou que os órgãos de comunicação públicos,  arregimentassem os habituais comentadores-batuqueiros, para ajudarem na disseminação do ódio, numa clara demonstração de serem incapazes de sobreviver com independência mental e diferença de opiniões. Por isso, comentar neste espaço as atoardas do pastor Luís Nguimbi, do sociólogo Paulo de Carvalho, do jurista João Pinto, do jornalista Celso Mavoluneke e outros seria baixar ao nível da sarjeta.

Por tudo isso, hoje tenho a certeza desta perseguição ao F8 fazer parte de um programa estruturado e mancomunado na Presidência da República, visando a minha eliminação física. Ora, se esta é, também, a vontade do presidente, José Eduardo dos Santos, que seja coerente e mande disparar já a arma que porta a bala assassina, para se acabar de vez com esta teatralização, iniciada há muito tempo, com prisões arbitrárias, não pagamento da dívida, por prestação de serviços à Presidência da República e ao governo, num período: 1991/2, em que se diziam pobres, invasão e roubo de computadores na redacção do F8, retirada e proibição de publicidade no jornal,  julgamento e sentença forjada, fabricação de documento falso, por parte do procurador adjunto da República, Adão Adriano e do actual reitor da Universidade Agostinho Neto, para atingir a minha imagem e honorabilidade académica, retirada ilegal e pidesca da carteira profissional de advogado e instigação ao desemprego, para além do confisco de terrenos, um dos quais por parte do actual vice presidente da República, um homem que disso nem precisa, por ser podre de rico.

Na política, não havendo coincidência, estas acções realizadas num contexto onde não existe uma separação de poderes, o meu assassinato terá, para a minha família, amigos, comunidade nacional e internacional, um único responsável: o actual Presidente da República, que depois da eliminação física de Jonas Savimbi, me elegeu como inimigo número 1 a abater.

Se a minha morte constituir a eternidade de um consulado, discriminador, injusto e que governa cada vez mais distante dos povos carentes dos seus direitos básicos, que seja feita a vontade de quem se julga o dono de Angola.

Pode ser que esteja enganado, em relação a José Eduardo dos Santos, mas, até hoje, esta é a minha mais firme convicção, pois deixei de o ver como um homem bom, pese a sua imagem. Hoje ele é o maior factor de instabilidade e nada é feito em Angola, contra opositores, jornalistas e intelectuais não bajuladores sem o seu conhecimento.

Voltando à triste ameaça e extrapolação de competências do ministro, José Luís de Matos, que agiu como ponta de lança de um regime com aversão à democracia e à liberdade de imprensa, ao não apresentar uma única prova, sobre as acusações imputadas, com a agravante de não nos ter enviado o aludido comunicado, que faz um ataque soez, traiçoeiro e de baixo coturno, ao não dizer ao que veio, salvo achincalhar, difamar e caluniar numa lógica ditatorial.  

Bem andaria o ministério se tivesse abraçado a pedagogia, tratando-nos como iguais perante a lei e a Constituição, ao invés de exibir a discriminação, orientando mesmo que os órgãos públicos publicitassem e comentassem o comunicado, mas proibindo o contraditório. Este tipo de jornalismo (ir)responsável e discriminador, convertido em caixas de ressonância exclusiva do MPLA, não pode servir de exemplo, em democracia.

Nunca! Por estimular o recalcamento, as divisões e o ódio entre os cidadãos e os povos, constituindo uma séria ameaça à paz e à verdadeira estabilidade social tão almejada.
Se denunciar a corrupção, a delapidação do erário público, a má distribuição da riqueza, o enriquecimento ilícito de uns poucos é crime, então estamos entendidos.

Se abordar a  pobreza extrema, a discriminação aberrante, a falta de educação, de saúde pública, de emprego, de pensões condignas aos antigos combatentes e aos desmobilizados de guerra ou da fome, que hoje, por exemplo, flagela, mais de 350 mil almas na província do Kunene é crime, então estamos conversados. Mas, para nós é um dever de cidadania, de justiça e sentido de responsabilidade jornalística, do qual não abdicaremos por valer a pena abraçar.

Será incitação à violência publicar um relatório que denuncia o papel relevante de dois traficantes de armas, eleitos para regularizar a dívida de Angola à Rússia, com o país a perder, por ter sido escandalosamente roubado, como se fossemos um Estado controlado pelo mercenário de guerra francês, Bob Denard?

É crime noticiar a bem sucedida digressão internacional, de Abel Chivukuvuku, líder da CASA CE e de Isaías Samakuva da UNITA, discriminados nos órgãos públicos, que os considera cidadãos de segunda categoria?

Não tendo apontado factos, ficando-se pela generalidade, o Ministério da Comunicação Social, tal como o Ministério da Informação, em Maio de 1977, coloca-se na pele de agitador de águas, preparando o campo, para os assassinos de serviço, premirem os gatilhos, visando a eliminação da nova fornalha de intelectuais comprometidos com Angola, a democracia e o futuro.

Por tudo isso, pela nossa crença e devoção a Deus, o F8 vai manter-se fiel à sua linha editorial, tendo noção, no entanto, que um regime desrespeitador das leis e da Constituição, pode sempre na sua arrogância, fazer tudo, desde cassar a licença, proibir a circulação do jornal, prender e até assassinar todos os nossos jornalistas, sem a menor comoção e sentimento de justiça. Assim, compete-nos a manutenção do orgulho de continuarmos serenos, coerentes e verticais nas nossas convicções e dispostos a morrer em nome da democracia e de todas as liberdades.


Sem comentários: