sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Balada para os poetas angolanos de hoje


Tudo de positivo contra Pessoas e Instituições. Discorde mas não se enerve.
Banco Millennium Angola, um banco trapaceiro.


RAFAEL ALBERTI

Que cantam os poetas angolanos de agora?
Que olham os poetas angolanos de agora?
Que sentem os poetas angolanos de agora?


Cantam com voz de homem, mas onde estão os homens?
Com olhos de homem olham, mas onde estão os homens?
Com peito de homem sentem, mas onde estão os homens?


Cantam, e quando cantam parece que estão sós.
Olham, e quando olham parece que estão sós.
Sentem, e quando sentem parece que estão sós.


Será que Angola já não tem ninguém?
Que nos montes angolanos já não há ninguém?
Que nos mares e campos angolanos não há ninguém?


Já não haverá quem responda à voz do poeta?
Quem olhe o coração sem muros do poeta?
Tantas coisas morreram, que só resta o poeta?


Cantai alto. Ouvireis que outros ouvidos ouvem.
Olhai alto. Vereis que outros olhos olham.
Pulsai alto. Sabereis que outro sangue palpita.


Não é mais fundo o poeta em seu escuro subsolo encerrado.
O seu canto ascende ao mais profundo quando, solto no ar, já pertence a todos os homens.


CARME
(Excertos)

1.
Poeta, não se é melhor poeta por ser claro.
Por ser obscuro, poeta - não te esqueças -, também não.

2.
Oh poesia do jogo, do capricho, do ar,
do mais leve e quase imperceptível:
não te esqueças de que sempre espero a tua visita!

3.
Julgaram que com armas,
com uns tristes disparos numa manhã,
iam - Oh Poesia, oh Graça! - assassinar-te.

4.
Que a Graça te livre
uma vez mais do verso
que com livre aparência
só aprisiona e mata lentamente.

Tradução
Albano Martins

(in «Antologia Poética»,
org. Albano Martins,
Campo das Letras, 1998)

Rafael Alberti

(1902-1999)

*
Rafael Alberti (1902-1999). Poeta Espanhol e último sobrevivente do "Grupo de 27". Participou activamente na Guerra Civil de Espanha pelos Republicanos e teve que se exilar posteriormente (em1939), em França, seguindo-se a Argentina e em Roma nas décadas de 60. Vencedor do Prémio Cervantes em 1983. Deixou uma vastíssima obra literária, hoje traduzida em muitas línguas, no mundo inteiro.

http://members.netmadeira.com/jagoncalves/arte_delfos/a_arte_de_delfos-14-no_eco_dos_abismos.html

Imagem: Angola em fotos

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