quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O Cavaleiro do Rei (I). Novela


Em Luanda, executa-se a solução final do extermínio de crianças, porque: Com a derrocada da energia eléctrica, e geradores por todo o canto que se somam ao fumo dos carros, o pó da loucura das obras, e o abate criminoso de árvores, torna-se impossível sobreviver em Luanda… sob pena de morrermos envenenados.
Existem reinos, que por vontade própria regressam, vivem, revivem, convivem na Idade Média. Este é um desses reinos.


Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné.


Capítulo (I)
O Cavaleiro Epok

Sempre para as mesmas almas, a Terra continuará plana e centro do Universo e com apenas seis mil anos de idade. São estas almas de nobreza quadrada, fugitivas do redondo, que conceberam um potente imã que atrai da Terra todas as riquezas para seu exclusivo proveito. Protegidos por pretores que aniquilam as reivindicações dos servos da gleba, a escravidão há-de ser, eterniza-se, democratiza-se… propaga-se.Enquanto nas ruínas dos prédios, os baldes de águas nojentas voam na mais perfeita anormalidade, e se espalham, derramam no solo as epidemias da contemplação visual, do desenvolvimento económico e social do futuro abismal, normal.

Arreda daqui, arreda dali, multidões esfomeadas revendem e furtam-se para sobreviverem. A eterna pandemia mundial, habitual, grassa-lhes como coelhos. Grassam também os modernos aventureiros escolares Francisco Pizarro, Hernan Cortes, e Diego de Almagro, atraídos pelo brilho das pedras preciosas, e pelos vapores petrolíferos.O rei e a rainha desconcertaram-se do aconchego da corte celestial, rumando ao encontro dos seus súbditos no condado de Viana. Com eles avançaram festejados mosqueteiros em trajes de gala, muito rendados, montados em cavalos bem aparelhados. Reluzentes, luzidios arreios trabalhados em prata, onde se destacam alguns ornamentados a oiro.

Aperram-se os mosquetes, porque os súbditos desordenados teimam, desafiam o rei.A secreta real receia, que os insubmissos súbditos pretendam implantar os ideais republicanos da França e dos Estados Unidos da América. Os espiões reais têm fortes suspeitas que o revolucionário La Fayette, navegue várias naus em apoio dos Jingola, que já tomaram pouso na incipiente democracia.O casal real acaba de descer do luxuoso coche estilo D. João V. O soberano faz um leve gesto de cabeça. Aproximam-se alguns liteireiros que repousam uma liteira doirada, onde a rainha acostará. Da praxe floreiam-se inúmeras vénias e beija-mãos dos inúmeros marqueses, condes, condessas, duques, duquesas, enfim, toda a nobreza.


O rei avantaja-se para a plebe muito curiosa, porque raramente vêem o soberano em público. Querem-no ver pessoalmente, provar que ele existe. Mas, a plebe constringiu-se a estar presente pelos zelosos mosqueteiros.A plebe confunde-se, não sabe se dar boas-vindas. Há receios de qualquer gesto ficar incompreendido. Pelas traseiras, vários mosqueteiros agressivos picam-nos com as pontas das espadas.

A plebe uiva de dor. O rei entende que é saudação e retribui. Os críticos afiam as línguas, conspiram, murmuram:- Não foi muito elegante sua alteza inaugurar fontanários, e fazer entrega das chaves de alguns estábulos a elementos escolhidos da plebe.- É… esqueceu-se dos cavalos, da água e das velas. A água continuará a vir do reino carregada por aguadeiros. A luz de vela é um luxo, e só os protegidos do rei a ela têm acesso.

Gil Gonçalves

Foto: Angola em fotos
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