terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Selvajaria Nacional


As criancinhas brincam no espaço do terraço. Traiçoeiros, os monstros geradores lançam-lhes fumo. Ninguém se preocupa, como se existisse, existe, uma vontade louca de as assassinar. Por quanto tempo os seus pequeninos pulmões sobreviverão, neste campo fumarento e funesto de concentração?

Os chineses do leite assassino infantil julgaram-se e condenaram-se à morte. E em Luanda, os assassinos dos fumos, dos sons e dos pós mortais (?). Há aqui um erro de cálculo… os filhos dos magnatas, dos poderosos, dos novos-ricos também não escapam. O interesse das negociatas sobrepõe-se à vida deles.

Na rua próxima, o homem de Neandertal espanca a esposa. Ela vai arrastada pela potência turbulenta da pancadaria do macho. Ninguém liga, ninguém quer saber. É tudo banal, tão normal, tão civilizacional.

Banco Millennium Angola, chegou e terreno roubou.

De noite, os novos-ricos, poderosos e magnatas não deixam ninguém dormir. Com a barulheira das obras deles, das farras, do roncar das motas e dos falsos hinos roqueiros das igrejas, que são quase mil para poucos fiéis. E a barulheira destrói os pequeninos cérebros das crianças, faz surdez, malucos e atrasados mentais, porque destrói as células neuronais.

É um notável cenário nocturno que terminará, pois claro, na selva que se pretende… a instituição da selvajaria nacional. Generais, bancos e especuladores permanentes, destroem e ocupam passeios, fecham ruas, largos e árvores que desaparecem. Negociatas ilícitas confrontam-se fisicamente entre negócios e novos-ricos. Poderosos que danificam o que resta das estruturas – ainda – coloniais. Isto não é obra, é selvajaria. Onde estão a água, a luz e os esgotos?! No fim vão dizer que se… esqueceram.

É preciso notar que os prédios também desabam, porque os novos-ricos quando chegam, partem-lhes as paredes internas. Saem, entram outros novos-ricos, partem outra fez as paredes. E assim sucessivamente, até desabarem… estão a desabar.

E com tal anarquia, tamanha selvajaria de destruição nacional, quando se entornar uma chuvada daquelas, muitos prejuízos arruinarão a gula dos novos-ricos de meia-tigela.

Da maneira que as coisas se movem em Luanda, a selvajaria incontrolável ditará a lei. Quanto ao Zimbabué, para lá caminhamos a jacto. É uma questão de honra… de orgulho nacional.

Eis também mais um exemplo notável de selvajaria económica.
«Manuel Pinho considerou surpreendente a forma como a economia angolana tem crescido, seis anos depois de o país ter alcançado a paz, constituindo deste modo um indicador positivo para o seu desenvolvimento nos mais variados domínios.»
Manuel Pinho, ministro da Economia e da Inovação de Portugal, In Angop.

Enquanto a maior miséria de todos os tempos se avista, os eleitos por Deus, navegam com o dinheiro que resta… nos estádios de futebol do CAN.

Deixem de pensar e comecem a trabalhar nos campos. Para exportarem jinguba, mangas, caju, laranjas, bananas, água mineral, etc. etc. O petróleo já não dá… não dava trabalho… já lá estava á espera.

Gil Gonçalves
Foto: As obras do famoso construtor/destruidor de Luanda, general Led. Obras clandestinas nas traseiras da Pomobel. Se fosse um pobre votante, que ingenuamente votou no poder dele, a casota seria logo destruída. Tudo o que é dos pobres é para destruir. Porque o poder ainda se mantém generalíssimo.
Visitem-me também em: Universidade e Universe


2 comentários:

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

«As criancinhas brincam no espaço do terraço. Traiçoeiros, os monstros geradores lançam-lhes fumo. Ninguém se preocupa, como se existisse, existe, uma vontade louca de as assassinar. Por quanto tempo os seus pequeninos pulmões sobreviverão, neste campo fumarento e funesto de concentração? (...) Na rua próxima, o homem de Neandertal espanca a esposa. Ela vai arrastada pela potência turbulenta da pancadaria do macho. Ninguém liga, ninguém quer saber. É tudo banal, tão normal, tão civilizacional».

Quem lê estas linhas é transportado para o local, tal é a vida na narração! Uma crónica com alma poética.

Gil Gonçalves disse...

Muito grato, Mano.