Num livro que estará à venda amanhã em França, lê-se
que o Presidente angolano terá pago 50 milhões de dólares a um intermediário
próximo do Presidente Nicolas Sarkozy para "comprar" o julgamento, em
Paris, de Pierre Falcone, figura central do caso 'Angolagate'.
Daniel Ribeiro, correspondente em Paris
(www.expresso.pt
O
livro "La Republique des Mallettes" ("República das
malinhas", edições Fayard), do jornalista Pierre
Péan , descreve uma França dominada pela corrupção e pela circulação de
avultadas somas de dinheiro, em "comissões ocultas", ao mais alto
nível do Estado.
Segundo
Péan, sulfurosos intermediários - considerados "perigosos" por Hervé
Morin, ex-ministro da Defesa do Governo de François Fillon - circulam nos
bastidores do Eliseu e dos principais ministérios de Paris (ler texto
relacionado).
"La
Republique des Mallettes", a partir de amanhã nas livrarias, relata
diversos casos obscuros através sobretudo do percurso do obscuro homem de
negócios francês, Alexandre Djourhi , com passado alegadamente ligado à
delinquência.
"Tesouro
de guerra"
No
trabalho de 484 páginas, Djourhi e outros intermediários são implicados em
negociações de diversos contratos militares e civis da França no estrangeiro
que deram origem a avultadas "comissões ocultas".
"O
objetivo destes negócios era um só: constituir um 'tesouro de guerra' para as
campanhas eleitorais", escreve Péan.
No
livro são acusadas de "ligações perigosas" diversas personalidades
francesas de primeiro plano: do ex-presidente, Jacques Chirac, ao
ex-primeiro-ministro, Dominique de Villepin, passando pelo atual presidente,
Nicolas Sarkozy e o seu ex-braço-direito no Eliseu e atual ministro do
Interior, Claude Guéant.
"Comprar
um julgamento"
Em
"La Republique das malinhas", o autor assegura que o Presidente
angolano, José Eduardo dos Santos , terá pago 50 milhões de dólares a
Alexandre Djouhri para "comprar um julgamento" e, desse modo,
libertar da prisão Pierre Falcone, figura central do caso 'Angolagate', sobre
uma venda de armamento russo a Angola nos anos 1990.
Já
na fase final do processo, a partir de 2008, Péan implica diretamente Claude
Guéant nas fortes pressões de bastidores sobre a Justiça do seu país. Este
último, então secretário-geral do Eliseu, teria mesmo jurado aos angolanos - na
véspera da sentença que condenaria Pierre Falcone, a 27 de outubro de 2009, a
uma pena de prisão - que ele seria libertado!
Os
angolanos acreditaram piamente em Guéant e Falcone também porque, diz o autor,
este último até tinha já comprado um bilhete de avião para a China, com voo
marcado para a própria noite do dia da leitura da sentença!
Djouhri,
que teria recebido o dinheiro de José Eduardo dos Santos contra a promessa da
libertação de Pierre Falcone e teria distribuído uma parte por personalidades
francesas não identificadas no livro, teria ficado furioso com a sentença e
acusou Patrick Ouart, conselheiro para a Justiça de Nicolas Sarkozy, de ter
manobrado nos bastidores contra a libertação de Falcone.
Pierre
Péan chega a escrever que Djouhri, já no passado implicado em casos de
agressões e ajustes de contas físicos, ameaçou de morte Ouart. Devido às
ameaças, diz o autor, Ouart demitiu-se do cargo no Eliseu no fim de novembro de
2009.
Depois
disso, assegura Péan, Claude Guéant pegou novamente no dossiê e tentou sem
sucesso libertar, através de um procurador, o mandatário do Governo angolano
para a compra de armamento, que tinha sido condenado por "venda ilícita de
armas", "abuso de bens sociais", "fraude fiscal",
"tráfico de influências ativo" e "branqueamento de
capitais".
Pierre
Falcone acabaria por ser libertado, em recurso, pelo Tribunal da Relação,
apenas a 29 de abril de 2011, que o limpou de praticamente todas as acusações.
A
ingenuidade de Eduardo dos Santos
Mas,
neste capítulo do 'Angolagate', Pierre Péan garante que Nicolas Sarkozy também
tentou tudo para contentar os pedidos insistentes de Eduardo dos Santos para a
libertação de Falcone e a retirada das acusações de tráfico de armas contra Angola.
Péan
sublinha que o 'Angolagate' estava a criar graves problemas aos negócios
franceses em Angola e que Nicolas Sarkozy enviou durante o processo judicial
emissários a Luanda para tranquilizar José Eduardo dos Santos e lhe prometer
que "a página do passado estava definitivamente virada".
Mas,
do relato, sobressai o que Péan sugere ser uma grande ingenuidade de Eduardo
dos Santos - Djouhri tê-lo-ia convencido que, "com muito dinheiro",
estaria em condições de controlar a Justiça e impedir que Pierre Falcone fosse
preso!
A
leitura do autor do livro é que o Presidente angolano acreditou nas promessas
do intermediário porque ele era "apadrinhado" por Claude Guéant.
"Para o Presidente angolano quem diz Claude Guéant, diz Nicolas
Sarkozy", escreve Péan.
O
autor diz que a maior parte do dinheiro pago por José Eduardo dos Santos a
Alexandre Djouhri foi parar a contas em Hong-Kong ou Genebra. "Apenas
cinco milhões teriam chegado em notas a Paris através de um avião da Sonangol,
a companhia petrolífera angolana, e teriam sido distribuídos a destinatários
que as informações oficiosas não designam", lê-se em "La République
des mallettes".
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