terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ben Ali e Hosni Mubarak já se foram… Quem são os próximos chefes de Estado a zarparem?


Canal de Opinião, por Noé Nhantumbo

Beira (Canalmoz) – Não é possível sustentar a estabilidade política e governativa de um país através de um sistema baseado no nepotismo e na corrupção. Não é possível pretender que se acredite que alguém governa quando de facto o que faz é atropelar as regras fundamentais da governação. Os impérios não são eternos. Todos os impérios tiveram prazo. Nada dura sempre.
Já é tempo de aprender com os factos.
Com o tipo de governação que persiste em dominar o cenário em Moçambique está semeada a aceleração da queda de um império que, segundo alguns, seria de “MIL ANOS”. Onde tudo se resume ao nepotismo e a aparência de normalidade governativa e em que agendas e objectivos de desenvolvimento são deturpados e condicionados aos apetites de alguns membros da corte ou de um clube restrito de membros de um partido, decerto que se perde a noção do todo.
Toma-se e dispõe-se do que é património do Estado como se fosse uma camisa ou veículo de propriedade individual. Assaltam-se os cofres públicos e aparentemente, sem vergonha na cara ou sem poderes para exercer convenientemente o seu cargo, o ministro das Finanças teima em permitir que isso aconteça. Sem seriedade governativa o cenário de desrespeito pelas regras continuará porque os que assim actuam têm a certeza de que são e estão impunes.
Alguns casos são mesmo caricatos.
Como que distraidamente ou não tendo nenhum conhecimento dos antecedentes de certas pessoas vê-se o PR nomeando administradores distritais com processos judicias em andamento. Secretários permanentes de províncias com um passado de desvios de fundos são transferidos para outras províncias. Ministros que demonstraram incompetência em certos pelouros são simplesmente transferidos para outros pelouros. Não interessa aparentemente a competência técnica mas a confiança política ou a obediência cega dos nomeados ao dono e senhor da corte.
Esta maneira de governar o país é lesiva aos cidadãos. Os resultados estão à vista. Só não vê quem não quer. Crescem todos os dias as dificuldades dos governados.
Mubarak caiu e saiu pela porta dos fundos no Egipto porque tornou seu partido num ‘gang’ de mafiosos que controlavam todos os dossiers económicos e financeiros do Egipto. Há algumas semelhanças com a situação que se vive em Moçambique. É preciso ter a sensatez de reconhecer que a situação não está boa e que afirmá-lo não é ser-se contra a pátria ou ser-se apóstolo da desgraça. É bem antes pelo contrário. O País não pode ser abandonado nas mãos de um punhado.
Se os preços dos alimentos básicos estão aumentando, se os transportes estão um caos, se os resultados dos estudantes moçambicanos são cronicamente sofríveis, se a saúde pública continua a ser uma área em que o governo não consegue melhorar independentemente de uma certa aparência de melhoria no Hospital Central de Maputo, se a moeda moçambicana sofre e diminui de valor à menor oscilação internacional ou sempre que alguém decide manipular o seu valor por alguma razão de conveniência, isso quer simplesmente dizer que as coisas não estão assim tão bem como alguns pretendem que os moçambicanos continuem acreditando.
Um governo competente e aberto ao diálogo com os governados é um governo humilde, com ministros e governadores que não escondem a sua incompetência por detrás da arrogância ou prepotência. E a verdade é que o Governo de Moçambique teima em exibir uma arrogância enorme e desproporcional ao seu real nível de desempenho.
O controlo do Parlamento e o domínio efectivo do dossier económico nacional por parte de gente pertencente ou militando no partido no poder parece ser o sustentáculo da prepotência e arrogância exibidos.
Sem uma abordagem dos problemas nacionais com a profundidade e consequência necessárias, as medidas paliativas e o comportamento reactivo dos governantes continuará a ser insuficiente para resolver os problemas dos cidadãos e do País.
O tempo exige criatividade, competência técnica e não militância ou seguidismo político.
Compete aos governantes de hoje e aos políticos dos diversos partidos levar o país e seus cidadãos a bom porto.
É preciso que se entenda e se compreenda em todas as suas consequências que governar não é exactamente o mesmo que ser comissário político ou especialista em retórica e demagogia.
Impõe-se repensar profundamente o que significa governar um país.
O compadrio e a auto-protecção vigente entre os regimes da África Austral não vai ser suficiente para travar os ventos da mudança.
Os cidadãos estão manifestamente esgotados e já não aguentam mais tanta sujeira governativa.
Sistemas medíocres, ultrajantes e contranatura devem ser colocados no seu devido lugar. Esse lugar, não há outro, é o caixote de lixo da história. Não há que esperar pela sua renovação ou mudança de comportamento de seus integrantes… Quanto mais tarde for, pior para todos! Temos todos de acordar e agir. Moçambique merece. (Noé Nhantumbo)

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