E o xerife de Nottingham acaba de nos impor mais taxas que penalizam, por exemplo as zungueiras, que não têm dinheiro para comerem quanto mais para pagarem taxas, pois que não conseguem sobreviver. E o Robin dos Bosques? Onde é que ele está? Mas que regresso vertiginoso à escravatura neste castelo se decreta, se legaliza. Deviam-lhes ser concedidas as taxas dos rendimentos do petróleo, isso sim, é que seria correcto, verdadeira justiça social. Vale sempre a pena citar David Mendes: «Ou Angola acaba com a corrupção ou a corrupção acaba com Angola.»
A presente situação de imposição de um sistema ortodoxo de opressão, do mais retrógrado possível, é insustentável. Receio que a manter-se assim – mas pelo contrário, mais se solidifica, mais nos aterroriza – as suas amarras cederão, partir-se-ão. Atingiu-se o limite insuportável, para além das forças de qualquer ser humano. Não dá mais para viver assim. E por isso mesmo, uma grande catástrofe se aproxima. O curioso é que não é necessário ser perito para o certificar. Apagaram-nos as luzes da liberdade e deram-nos a escuridão da miséria injustificável. Quanto mais o preço do petróleo sobe, por anedótico que pareça, a miséria e a fome, sua companheira inseparável, também sobe. Até já ultrapassaram o limite convencionado da escala. Melhor, já não existem métodos de medição para estas coisas. E tamanha é a ferocidade dos impositores e impostores das leis, que se preparam para aniquilar a venda ambulante e de quem lhes compre. Mas que vulcão, mas que erupção. Isto parece inspirado pelos assessores estrangeiros que também nos governam na sombra. Alguns fazem-no tão claramente que já nada nos surpreende. O fim aproxima-se velozmente, no eclodir do conflito que conduz à queda de um regime impopular. Mais tempo menos tempo todos acabarão por cair. Assim como vieram, assim desaparecerão. Deste poder nada mais há a esperar, é apenas mais um regime da escola fundamentalista.
Pretendi ser generoso comigo… concedi-me um prémio, e no dia antes do início de um novo ano de miséria mais acentuada, propus-me a compra de uma garrafa de vinho Dão, dessas de sete decilitros e meio. No supermercado pediram-me apenas pela garrafa… cinco mil kwanzas. Noutro supermercado, por um vulgar melão de quatro quilos, nove mil oitocentos e três kwanzas. Peixe importado, La Courbonne, da Noruega, comprado nos armazéns em mau estado de conservação. Come assim como está, porque em regime de escravidão, escravo não tem direitos. Tem sim senhor! O direito de comer porcarias. Dois chouriços que circulam por aí, duzentas gramas, Sicasal e Incarpo, só têm gordura. São os restos que atiram para o lixo e aproveitam-se, exportam-se para aqui? É curioso, mais parecem borracha. E carne congelada que depois de confeccionada, passados para aí dez ou quinze minutos parece sola de sapato.
Eis-nos regressados ao ciclo da «banana podre não tem futuro.»
Não é do petróleo quem quer, mas quem merece. E por isso mesmo é um governo do petróleo e para o petróleo. E contra milhões de esfomeados petrolíferos ninguém combate. Isto não foi, não é independência, é um cortejo fúnebre, é a crónica da desgraça anunciada. É o comité de especialidade da morte. Quando um povo perde o espírito da solidariedade, entreajuda, e escravizados por estrangeiros, essa nação e governo sustentam-se com exércitos particulares. O futuro desabará como um edifício de alicerces duvidosos. Isto é o que se chama aniquilar uma nação nas calmas. Nem se previnem, muito pelo contrário, desprezam as sábias sugestões de Hillary Clinton citadas no jornal Público: «O desenlace – que ainda na véspera ninguém se arriscava prever – tornou proféticas as palavras da secretária de Estado norte-americana, quinta-feira, 13Jan11, durante uma conferência no Qatar. "Os que se agarram ao statu quo podem conseguir minimizar o impacto dos problemas dos seus países durante algum tempo, mas não para sempre", avisou Hillary Clinton, pedindo aos velhos aliados que acelerem as reformas políticas e económicas, há muito prometidas mas nunca cumpridas.» Esta nossa oposição parece freiras num convento, saiam, venham para as ruas, que é onde se vive e se faz política.
Finalmente conseguimos atingir o estádio mais importante da nossa civilização: a selva global. Na rota dos ainda escravos, apesar da riqueza petrolífera, o fim da população será na extrema pobreza, no último suspiro da fome. Imaginemos por alguns momentos que os de raciocínio difícil conseguiram o poder, e que dirigiam os destinos de nações e dos seus povos.
Desejaríamos que tudo e todos se e nos rodeassem de flores. E que jamais as suas pétalas murchassem. Com tanta actividade ruidosa e ruinosa, como é tão difícil obter um momento de silêncio. Porque escutar é mais importante que fingir o falar. O silêncio é o nosso melhor diálogo. Só que ninguém o quer fabricar porque há a recusa de ninguém o querer vender.
Os cabelos soltos no vento ondulam na liberdade adquirida. Esta é a verdade mais elementar. Apenas o que nos resta, soltarmo-nos da nossa prisão e deixarmo-nos arrastar para a ventania livre. Porque nos escudamos quando amamos e não o revelamos? Sim! Ainda não nos libertámos desse preconceito, porque ainda é vergonhoso declarar aos quatro ventos que amamos. Tantos milénios conjurados no verbo do amor.
Voltando ao tema, Banco BESA na falência, publicado no Folha 8. Desgraça bancária: Os que todos os dias facturam milhões, esses sim, são os verdadeiros patriotas. E assim continua a luta da desolação nacional no país dos vitalícios. Há mais de dois mil anos que Deus não escuta a Igreja. Só a fome nos liberta, e só o roubo os liberta. São infindáveis as fronteiras dos crimes deste novo império colonial. De tempestades humanas subverterão, alterarão a fronteira da estabilidade do clima social, de modo radical. Os crimes da actividade bancária inspiram a onda de assaltos da pária juventude espoliada, órfã de tudo. Este país, Angola, é propriedade bancária e partidária. Move-se sob inspiração chinesa. Por detrás da miséria humana, há sempre um banco escondido. Quer ver desaparecer o seu dinheiro por artes mágicas? Deposite-o num banco. Em Luanda existem apenas duas classes sociais: os exploradores do petróleo, e o comité sem especialidade dos desempregados que sobrevivem de assaltos marginalizados do petróleo. Ainda não estamos numa nação, atolamo-nos num pântano petrolífero. Os bancos proliferam, amiúde a miséria também. Os bancos apoiam o bem-estar das nossas populações. Basta observar o aumento de esfomeados que buscam soluções para a fome nos contentores do lixo. Portanto, o desenvolvimento económico está no lixo. Onde há muita miséria, há muitos lucros bancários. Sucesso garantido e imediato é o retorno do capital que se gera num ápice. O melhor investimento ainda é a fome. Chama-se desenvolvimento económico de um país, o saque bancário nele praticado. Onde há muitas desgraças, também há muitas actividades bancárias. O petróleo embebeda a governação. A população alcooliza-se nos barris alcoólicos. Não, não! Em Luanda não existem pobres, apenas ricos. E de espoliação em espoliação, governantes e bancos enchem o alçapão. Onde os bancos se multiplicam, de imediato surgem investimentos nos cemitérios. Luanda agiganta-se em campos de concentração bancários. É outro investimento de sucesso garantido. Os bancos aumentam, a população diminui. E onde há muitos bancos, há uma fortaleza de polícias. E contra milhões de assaltantes ninguém combate. Deposite o seu dinheiro num banco, e sinta o seu futuro inseguro. Os bancos são como a religião, semeiam miséria. Em cada terreno espoliado um banco, em cada local deserto tendas para os deserdados. Que mais tarde os especuladores imobiliários valorizam. Isto fede de truques financeiro nojentos. Os bancos espoliam as populações para enriquecerem os novos-ricos do poder. O canalmoz, canal de Moçambique, evidencia bem este aspecto: «Não será porque os grandes projectos fazem parte dos rendimentos de quem “governa” que há tanta hostilidade em reverem-se as isenções fiscais? E porque razão os grandes projectos escolhem sempre figuras de proa do regime para se ancorarem? Não será isso a mais sofisticada forma de corrupção? Se isso não é corrupção, o que é? Afinal quem são os professores da corrupção?»
Os bancos são uma praga que se combate com um insecticida eficaz. Se quer viver poucos anos, deposite as suas poupanças num banco. Outro espectacular investimento em Luanda é o fabrico de caixões. Em Luanda, quando os investimentos bancários aumentam, as prisões ficam com a lotação esgotada. Por detrás de um ditador, está sempre por trás dele uma ditadura bancária. Pé ante pé progridem os larápios, e os bancos seguem-lhes as pisadas. Você costuma ter pesadelos horríveis, onde vê o seu dinheiro a voar? Claro, você confiou o seu dinheiro a um banco. Entesoure o seu dinheiro com segurança na sua casa, porque actualmente os bancos têm muita insegurança. Os bancos são como os políticos, quando disparam matam inocentes. É um mistério o porquê que os bancos estão isentos de crimes. Como já muitas vezes dito: por detrás de um grande homem, está sempre uma grande mulher. E atrás de um grande banco, está sempre um grande crime.
Havia um reino onde a população vivia feliz. Os bancos chegaram, partiram-lhes as casas, espoliaram-lhes as terras, e nelas construíram bastos condomínios. Depois acusaram a população de delinquente, e aos poucos exterminaram-na para gáudio dos bancos e seus sócios poderosos. Durma tranquilo, retire o seu dinheiro do banco. Quem permitiu a lavagem de dinheiro, quem deu suporte ao terrorismo internacional? Os bancos, claro. Quando um país tem graves problemas económicos, quem está por trás disso? Os bancos, claro. Quem permite o enriquecimento ilícito? Os bancos, sempre eles, claro. Palhaços não faltam para o grandioso espectáculo deste circo, uma mais-valia angolana. Com a perseguição, que mais parece a pena de morte que o poder decretou para a população, é também sem dúvida uma mais-valia assumida. Este poder é tão hipócrita que de vez em quando garante-nos que existe muita miséria em Luanda.
E os opressores dos povos, copiam-se e apoiam-se. Basta ver a denúncia de Dhlakama da Renamo: «A Frelimo quer a mudança da constituição para copiar Angola, para que o Presidente da República (PR) seja eleito pela Assembleia da República (AR). Já não quer que o presidente seja eleito directamente pela população. É descabido. O PR é o símbolo do país por isso a sua eleição deve ser directa e universal. A Frelimo quer encher votos para depois eleger um traficante na AR e dizer que é o PR?»
E no cálice sagrado do Senhor, jorra agora o petróleo de Angola.
Nunca ninguém parou para pensar, se lembrar que exportamos muito petróleo e importamos muita bebida? O petróleo financia as importações das nossas universidades alcoólatras. Por isso mesmo, o nosso líder incontestado é o álcool. O nosso (?) petróleo financia os bancos, que financiam a espoliação de terrenos e a destruição dos casebres e os bens das populações, e alimentam os especuladores imobiliários. O melhor conforto que esta ditadura petrolífera nos concede é a mais pura e negra tristeza. A mais-valia que a independência petrolífera nos legou, é a concentração da renda nacional no pódio dos corruptos onshore e offshore.
Porque isto não é uma independência, é um monstro que nos devora.
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