A Manifestação foi convocada por três organizações da sociedade civil, nomeadamente, Fundação 27 de Maio, Movimento Associativo Revolucionário e Movimento Estudantil Revolucionário e partiria de três pontos de bairros de Luanda, Cazenga, S. Paulo e Avô Kumbi, confluindo na Praça 1º de Maio.
Francisco Lopes. Facebook
Os motivos são variados, desde a reivindicação de justiça para o caso do 27 de Maio, até à luta contra a pobreza, a falta de acessos a bens fundamentais, a denuncia da corrupção, enfim, os “problemas que nos puseram com eles”.
Polícias fardados e a paisana, bem como lúmpens bem nutridos e identificados, investiram pesadamente sobre os manifestantes nos pontos de concentração, bem como no local de convergência, a praça 1º de Maio. A promessa de Bento Bento foi executada, não através da proibição formal à Graciano, mas por via da repressão brutal.
Todos os locais que confluíam para a Praça da Independência estavam cercados e todas as pessoas que faziam qualquer movimento identificando-se com os protestos intimidas e espancadas.
Polícias e marginais usaram todos os métodos repressivos ao seu alcance para impedir a manifestação. No Cazenga, a dispersão causou o pânico generalizado entre os manifestantes, havendo-se registados inúmeros desmaios e pessoas feridas. No bairro S. Paulo foram espancadas e presas sete cidadãos: Sozinho, Campos, Tomé, Américo Vaz, Lacerda Vandunen, Adão Ramos e mais um elemento de nome desconhecido. Adão Ramos, dirigente do Bloco Democrático – BD_ é portador de deficiência. Em seu relato sublinha “. Eu (com os meus cerca de 90 kg) fui retirado da cadeira de rodas por 2 cahênches e atirado para o carro patrulheiro da Polícia com toda força possível (…….), e seguiu-se a cadeira de rodas para cima de mim mais as palavras discriminatórias que, a emoção e a dor não me deixam transcreve-las agora”.
Um grupo de cerca de 30 elementos que se encontrava nas imediações da Praça Primeiro de Maio foi atacado pelas costas por civis bandidos “os cahênches” – gente de respeitável compleição física – já rodados nesses casos que, inclusive, lançaram água misturada com gindungo – substância ardente – para os olhos dos pacíficos manifestantes. Alguns cidadãos clamaram por “Socorro” à Polícia que cercava o local. A resposta foi, mais cacetada e porretada, sobretudo na cabeça, o que desorientou mais os manifestantes. Entre os mesmos encontrava-se Carbono, activista preso em 3 de Setembro passado que teve que receber assistência hospitalar. Lisa Rimel da Human Right Watch, encontrava-se no local, havendo pedido ajuda a jornalistas locais.
Já no rescaldo dos acontecimentos João Baruba, Secretário Nacional para Organização e Mobilização, foi espancado quando se dirigia para sua viatura que se encontrava há cerca de 1 km da Praça Primeiro de Maio, nas imediações da Casa 70, rua da Liberdade.
Dezenas de cidadãos receberam tratamento hospitalar.
O activista e jornalista Rafael Marques, bem como os Jornalistas Coque Mukuta da Rádio Despertar e Isabel João do Novo Jornal, encontravam-se há cerca de 500 metros do local da concentração, no IMEL, Instituto Médio de Economia de Luanda, dentro da viatura do primeiro, quando foram abordados por um Policia de Transito que os reconheceu e prendeu-os imediatamente. Foram apenas libertos muito mais tarde com intervenção da Comandante da Polícia de Luanda.
Ainda não se consegue aquilatar com propriedade, nem o número de manifestantes, nem o número de pessoas agredidas e feridas, nem o grau das mesmas. Percebe-se que foi o acto mais numeroso de protesto, havido após o fim do conflito militar.
Os nefastos acontecimentos do 3 de Dezembro são gravíssimos e não se compara à repressão havida em 3 de Setembro último, o que mostra a disposição das autoridades de responderem com maior repressão e selvajaria aos protestos dos cidadãos pacíficos. Mais uma vez, ficou demonstrado que a iniciativa da violência partiu da Polícia e de indivíduos civis sem escrúpulos, vulgo lúmpens, em conjugação perfeita com a Polícia Nacional. A táctica de dispersão pela máxima violência, consagra o diálogo proposto pelo Presidente da República. Nenhum relacionamento com a sociedade civil em protesto, a juventude em particular, após o discurso do reconhecimento da incapacidade do Executivo lidar com a diferença de opinião, resultou em conversa civilizada, nomeadamente, as prisões rápidas de 22 de Outubro, o impedimento de realização de conferências, de actos culturais no Lobito, etc.
O Executivo deve explicações claras ao povo sobre
- que razões levaram a dispersar e de forma repressiva manifestações pacíficas e prender cidadãos sem culpa formada?
- qual o significado dessa aliança espúria entre a Polícia Nacional e a lumpenagem?
- Porque razão são perseguidas pessoas conhecidas, referidas em artigos apócrifos do Jornal de Angola, espancadas e presas?
- Em que país, finalmente, estamos nós? Para onde nos pretende levar o Executivo?
É evidente que é ingénuo pensar que o crescimento da repressão do Executivo vai obrigar a parar a onda de protestos, perfeitamente justificada pela degradação da situação do país e da falta de capacidade para o regime mudar, quer na sua relação com os soberanos governados, quer dando solução à pobreza, ou combatendo a corrupção, ou melhando as oportunidades para a juventude, ou aperfeiçoando os padrões de justiça. Em boa verdade, nem “machados cortam o pensamento”, nem “o vento se trava com as mãos”.
Contactos:
Carbono - 244921009600
Adão Ramos – 244923300144
João Baruba - 244931114582
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