terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O que pode acontecer se a S&P cortar Portugal para lixo Mónica Silvares


Das três agências de notação financeira mais importantes, apenas a S&P ainda não cortou o ‘rating’ da República para “lixo”.
Portugal já é classificado como "lixo" por duas das principais agências de ‘rating' Moody's e Fitch, ou seja, já está de fora da chamada escala de investimento. Caso a Standard & Poor's (S&P) decida seguir o mesmo caminho, algo que os analistas já antecipam, isso poderá ter consequências negativas em termos de financiamento dos bancos e das empresas, mas também de percepção de risco dos agentes económicos.
Portugal tem o financiamento assegurado pela ‘troika', ainda que faça pequenas incursões nos mercados para financiamento de muito curto prazo, por isso uma decida de ‘rating' por parte da S&P "teria consequências muito marginais para ao Estado", frisa o economista da IMF, Filipe Garcia. Mas para os bancos, por exemplo, iria "dificultar ainda mais o acesso ao Banco Central Europeu (BCE) para obter liquidez, já que os activos que são dados como garantia veriam a sua avaliação diminuída", explica, por seu turno, e economista chefe do BPI, Cristina Casalinho. "O acesso ao BCE ficaria mais caro com a desvalorização do colateral elegível", acrescenta.
Outra das consequências imediatas em contratos de empresas e bancos que têm cláusulas dependentes de determinado nível de ‘rating'. Se houver mais um ‘downgrade' poderá dar-se o accionamento dessas cláusulas que poderão passar pelo reembolso de empréstimos, o encerramento de contratos ou necessidade de prestar mais garantias, acrescenta Cristina Casalinho. A economista chefe do BPI admite que "os montantes em causa podem não ser muito significativos" uma vez que "após tantas revisões em baixa, muitas das cláusulas de acção imediata já foram accionadas no passado".
A RTP é um dos exemplos que veio a público. A RTP teve de antecipar o pagamento do empréstimo contraído junto do banco alemão DEPFA. "É um empréstimo que a RTP tem vindo a amortizar desde 2003 e cujo remanescente era de 465 milhões de euros, a pagar até meados de 2013. O empréstimo tinha como ‘event of default' [risco] o corte do ‘rating' da República. Como tal, o banco podia exigir o pagamento antecipado ou, como tentámos, a renegociação dos pagamentos", explicou na altura o presidente do conselho de administração da empresa, Guilherme Costa. O Estado português irá, assim, pagar 225 milhões de euros, enquanto a empresa pagará outros 30 milhões no próximo ano.
Mas há mais consequências de também a S&P decidir secundar a decisão da semana passada da Fitch e da chinesa Dagong, que cortaram o ‘rating' de Portugal de ‘BBB-' para ‘BB+'. Os investidores podem afastar-se totalmente da dívida pública nacional. "Portugal pode sair de todos os índices de dívida pública europeia o que terá impacto nos investidores que replicam esses índices nas suas carteiras", alerta João Zorro, responsável pela área de ‘fixed income' da ESAF. O responsável acrescenta ainda que normalmente são os investidores asiáticos que adoptam mais esta estratégia passiva para as suas carteiras. João Zorro deu ainda como exemplo o facto de a dívida pública portuguesa ter sido castigada na última sexta-feira, na sequência do corte da Fitch.
Finalmente, mas não menos importante, podem ser as consequências junto dos restantes agentes económicos já que vão ser percepcionados com um maior perfil de risco. "Às empresas portuguesas podem ser exigidos planos de pagamentos mais apertados pelos seus parceiros estrangeiros", avança Filipe Garcia. Ou ainda, as empresas estrangeiras podem precaver-se contratando seguros de crédito, que são mais caros, porque a percepção de risco é maior, e cujo preço será reflectido na factura cobradas às empresas nacionais", acrescenta ainda o economista da IMF.
Medidas do OE/12
Sendo a S&P a única das três principais agências que ainda não colocou Portugal na categoria de ‘lixo', o Diário Económico tentou obter um comentário ao Orçamento do Estado para 2012 e perceber se o caminho traçado era consistente com o actual ‘rating BBB+', mas a resposta que obteve ao vasto conjunto de perguntas foi "não temos qualquer comentário".
Comentário:
Joca , Madrid | 06/12/11 06:46
há que esperar pelo camião do lixo para recolher...
http://economico.sapo.pt/noticias/o-que-pode-acontecer-se-a-sp-cortar-portugal-para-lixo_132802.html

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