sábado, 7 de novembro de 2009

A Epopeia das Trevas (61). Estou outra vez na prisão à espera que me libertem











Embarcaram-me num navio
sem jasmins
Mas mesmo assim perfumarei os mares
E neles para sempre gravarei o meu nome
nas suas ondas

E no meu silêncio eterno
vingarei os desejos dos nossos passados
e antepassados
No Universo farei um templo
para que os navegantes futuros
Me adorem e se lembrem
mesmo num momento fugaz
Que existi, amei… tentei mas não fui amada

Não adormecerei profundamente
durante um século, dois ou mais
Quando o endocolonialismo globalizar
despertarei e os despedaçarei
e lhes deixarei a minha fragrância eterna

Renovarei o nosso sangue azul
e extirparei as sepulturas da FAMÍLIA
bilionária
E nelas replantarei os aromas
dos nossos corpos
relvados, esverdeados, de pétalas vegetados
Depois de regados com uma tempestade
divina

Esta nova semente inundará o Universo
Serei, sereia da deusa Angola
Na Terra da dor renascida, desfeita
refém do palácio do Rei não eleito
de futuro tumultuoso

Livre e independente do terrorismo
bancário e imobiliário
Vingarei o olhar inocente das crianças
Mortas de fome, de doenças
Sem tectos, condenadas
pelas inclementes, palustres
estações chuvosas

E os endocolonialistas nas janelas
nazis regozijam-se com a matança
mas não se salvarão
E os seus milhões e milhões
de dólares recuperar-se-ão

E as torres, e os condomínios
e os prédios que nos roubaram
também

E as crianças sem sepulcros
sonharão com as minhas pétalas
E haverá uma guerra infantil
Que arrasará os novos dementes
Senhores, falsos doutores

E quando os meus lábios beijarem
as crianças
elas ressuscitarão
E transformar-se-ão em jasmins
e no navio do génio dos jasmins
transportar-se-ão para o meu reino
Edificarei a minha beleza nocturna
na história dos nossos céus
e serei venerada Jasmim-da-noite

Pairarei na magia das nossas montanhas
e renovarei, libertarei os Caminhos
da ditadura monárquica
lá nos encontraremos

as feridas da nossa desgraça
são como rochas infectadas
porque Angola renovou-se
continua óptimo refúgio
para criminosos e aventureiros
Onde os destinos são fáceis
de imaginar

Estou outra vez na prisão
à espera que me libertem

Pelos vistos
jamais encontrarei o amor

Dançarei ao som do vento
apesar de abandonada, do meu paraíso
afastada
Era abastada, agora na miséria forçada
das multinacionais e da FAMÍLIA real
estes desumanos são a nossa perdição
Leves, fabricados sem peso
como o desonesto pão

Sou Negra, porque as naus eram Brancas
E de repente tudo escureceu
enegreceu
Imagens: FOLHA 8

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