sábado, 7 de novembro de 2009

Os Templários (23). Os bens do Templo


MICHEL LAMY

Mas, digo-vos, o Senhor oferece-vos uma oportunidade. Contempla os filhos dos homens para ver se, entre eles, haverá alguns que o compreendam, que o procurem e que sofram por ele. Deus tem piedade do seu povo; àqueles que sucumbiram aos erros mais graves, propõe uma forma de salvação. Pecadores, pensai nesse abismo de bondade, enchei-vos de confiança.

Ele não quer a vossa morte, mas sim a vossa conversão, a vossa vida: arranja-vos uma possibilidade não contra vós mas por vós. Ousa chamar a servir, como se estivessem prenhes de justiça, homicidas e ladrões, perjuros e adúlteros, homens acusados de todos os tipos de crimes. Não será isso, da sua parte, uma invenção excêntrica e que só Ele podia encontrar?

De qualquer modo, não foi mal pensado, da parte de São Bernardo. Que homem político! Com uma só cajadada matava dois coelhos, recrutando homens rudes para se baterem no Oriente e aliviando o Ocidente de uma parte das más reses que nele habitavam. Em certa medida, inventava a Legião Estrangeira e dava realmente uma oportunidade a esses homens para se regenerarem. No entanto, pelo menos nos primeiros tempos, a Ordem do Templo foi, quanto a ela, muito seletiva no recrutamento e não aceitou as pessoas sem eira nem beira que se lhe ofereceram e, de qualquer modo, não as transformou em cavaleiros.

Doravante, os Templários já tinham meios para fazerem a guerra, já estavam fixados. Na sua esteira, também se havia transformado a Ordem dos Hospitalários de São João de Jerusalém em ordem militar? Por que razão não mandaram fundir os nove ou dez templários dos tempos iniciais com os Hospitalários? No entanto, teria sido a solução mais lógica em vez de organizar duas estruturas diferentes com as suas logísticas próprias. Mas, não o esqueçamos, o Templo tinha uma missão especial a assumir, depois das descobertas feitas em Jerusalém. A partir de então, não era possível misturar as duas ordens, dado que não prosseguiam objetivos estritamente idênticos.

E como escreve Louis Lallement em La Vocation de l'Occident, a propósito dos Templários:
A Ordem do Templo, cujo manto branco ornado com uma cruz vermelha era das cores vermelhas de Galaad, constituía, no século XII, como que a armadura da cristandade. Uma armadura que muitos, a partir de então, apenas pensaram em destruir.


Segunda parte
O Templo, potência económica e política
Os mistérios da sua riqueza

Os bens do Templo
Assegurar a logística

Uma vez aprovada a Ordem e permitindo-lhe a sua regra assumir o seu papel duplo, religioso e militar, poderíamos considerar que estava adquirido o enquadramento jurídico favorável ao seu desenvolvimento. Condição necessária mas não suficiente porque os Templários tinham necessidade de uma logística poderosa. Precisavam, não só, de realizar recrutamentos importantes para formarem batalhões de monges-soldados na Terra Santa, mas também garantir a manutenção desses exércitos em operações. Era necessário fornecer-lhes alimentação, armas, vestuário, equipamentos, cavalos, etc.

As necessidades em breve iriam tornar-se colossais. Imaginamos mal, hoje em dia, como os Templários conseguiram fazer-lhes frente. Por vezes, houve que manter até quinze mil «lanças» na Palestina e uma lança significa um cavaleiro com o seu séqüito: escudeiro, sargento de armas.

Essas quinze mil lanças representam, na verdade, entre sessenta e cem mil homens. A isso há que acrescentar a intendência: todos os irmãos conversos encarregados dos abastecimentos, manutenção, reparações e alojamentos. Pensemos que, a fim de ter sempre à disposição uma montada fresca, cada cavaleiro possuía três cavalos enquanto mais dois eram atribuídos a cada um dos seus sargentos. Em redor desta tropa gravitavam também os capelães do Templo e os operários encarregados das construções e da sua manutenção. Não esqueçamos que os Templários construíram e defenderam imensas fortalezas na Palestina e que asseguraram também a guarda de inúmeras praças-fortes em Espanha.

Logo, era absolutamente necessário garantir as retaguardas da Ordem e financiar o esforço de guerra a partir do Ocidente. Depender de uma corrente contínua de donativos teria sido muito arriscado e, de qualquer modo, insuficiente. Essas dádivas eram perfeitamente necessárias mas a utilização dos seus produtos devia ser racionalizada e maximizada. Convinha, é claro, provocar um verdadeiro ímpeto de simpatia e de generosidade para com o Templo e torná-lo o mais duradouro possível. Depois, seria necessário gerir por forma a multiplicar a eficácia do financiamento.

Imagem: http://3.bp.blogspot.com/

Sem comentários: