RIO DE JANEIRO - Joana Duarte, JB ONLINE
Quando o Estado determina que não há espaço nas bancas de jornais para nada que não seja a notícia oficial, a circulação da informação independente, aquela que não tem origem no governo, sobrevive na internet – talvez o único espaço que ainda não é totalmente regulamentado pelo governo. Quem sustenta essa rede e distribui a informação são pessoas comuns, como a filóloga cubana Yoani Sanchez, cujo blog Generación Y, “uma praça pública”, como descreveu ao JB, chega a somar mais de 4 milhões de acessos por mês. Outro exemplo, o jornalista iraniano Mehdi Jami, mantém o blog Sibestaan “o catador de maçãs”, reconhecido como um dos sites persas mais visitados em todo o mundo.
O blog, uma espécie de diário online, permite que os seus leitores interajam instantaneamente com o autor. Há uma troca constante de informação, o que é um dos maiores segredos do sucesso dessa tecnologia cujo impacto se mede pelas visitas que recebe.
– No começo, usávamos os blogs para encontros com mulheres, amor e sexo – conta o iraniano, hoje radicado em Amsterdã, na Holanda, onde dirige sua própria consultoria de mídia. – Mas há cerca de oito anos, os blogs se tornaram uma grande fonte de liberdade no Irã. Libertou nossa nova geração e criou um canal público para debates sobre assuntos que foram banidos dos jornais e outras mídias pelo governo. O fato é que nenhuma outra parte da história do Irã foi tão extensamente escrita e comentada como foram estes últimos oito anos, desde a introdução dos blogs em nossa sociedade.
O acesso à essa blogosfera, por mais que restrito, abriu uma janela para que Mehdi, Yoani e outros pudessem denunciar políticas que consideram “abomináveis”, como descreve Mehdi, ou “sufocantes” adjetivo escolhido por Yoani.
– Os blogs expõem textos censurados, fotos, figuras e pensamentos. É nossa atmosfera social alternativa. Como não temos uma sociedade normal e livre, blogar nos ajuda a desenvolver essa liberadade em nossas mentes e corações, na nossa Blogestan (literalmente, bloglândia). Lá, posso mostrar o Irã que gostaria que existisse – afirma Mehdi.
No Generacion Y, Yoani consegue discorrer livremente sobre o cotidiano do povo cubano, a ausência de liberdade e a escassez de gêneros de primeira necessidade. Bloqueado pelo governo, seu blog só pode ser acessado de fora da Ilha.
“Sou uma blogueira às cegas, uma cibernauta com uma balsa que faz água e que consegue flutuar graças ao apoio de uma espontânea rede cidadã”, escreveu a cubana em seu blog.
Mas, na entrevista ao JB, lembrou que a censura do regime não consegue ser absoluta:
– Meu blog está bloqueado em Cuba desde o ano passado, mas isso não significa que os cubanos não o leiam. Somos especialistas em encontrar modos de burlar as regras. Os cubanos o copiam em CDs, em memória flash e o distribuem. A maior prova de que estão me lendo em Cuba é que me param na rua para falar do blog. Muitos me elogiam, mas também já fui chamada de monstra.
O controle estatal na ilha é tanto que nos últimos doze meses Yoani solicitou, em diversas ocasiões, visto de saída para atender a convites no exterior, seja para receber prêmios conceituados nos EUA e Espanha ou, mais recentemente, para vir ao Brasil participar do lançamento de seu livro De Cuba, com carinho – uma coletânea de seus textos no blog. O visto foi negado em todas as ocasiões, sem que ela conseguisse extrair dos funcionários de consulados sequer uma justificativa.
– Não me explicam nada. Trata-se de uma decisão da mais alta instância, que se dá ao luxo de não fornecer explicações.
Quando no prólogo do seu livro Fidel, Bolivia y algo más, o ex-presidente Fidel Castro desqualificou o blog de Yoani, descrevendo-a como uma das “enviadas especiais para realizar o trabalho de informante e imprensa neocolonial”, Yoani conta que sua primeira reação foi se sentir como se tivesse recebido uma condecoração.
– Ele me mencionou no prólogo do livro, o que foi a maneira mais fácil de me fazer conhecida em Cuba. Cubanos querem ler essas novidades para saberem do que se trata. Me surpreendeu também que Fidel Castro, uma figura tão presente da minha infância, tenha falado de um fenômeno tão novo como os blogs.
Mehdi sugere que regimes autoritários sobrevivem apenas enquanto conseguem proibir a livre circulação de pontos de vista alternativos. Afinal, ao permitir a liberdade de expressão, ressalta, um governo corre o risco de “cair numa democracia”. Com o surgimento dos blogs, uma das mídias mais democráticas que existem, o esforço de frear a disseminação de ideias terá de ser redobrado.
“Que o Ipod cabe num bolso, um minidisk armazena vários filmes e na magra barriguinha de um memory flash podem viajar centenas de documentos, que sentido tem proibi-los? Para que desgastar-se numa briga que já tem ganhador, a tecnologia?”, escreveu Yoani.
17:54 - 31/10/2009
Quando o Estado determina que não há espaço nas bancas de jornais para nada que não seja a notícia oficial, a circulação da informação independente, aquela que não tem origem no governo, sobrevive na internet – talvez o único espaço que ainda não é totalmente regulamentado pelo governo. Quem sustenta essa rede e distribui a informação são pessoas comuns, como a filóloga cubana Yoani Sanchez, cujo blog Generación Y, “uma praça pública”, como descreveu ao JB, chega a somar mais de 4 milhões de acessos por mês. Outro exemplo, o jornalista iraniano Mehdi Jami, mantém o blog Sibestaan “o catador de maçãs”, reconhecido como um dos sites persas mais visitados em todo o mundo.
O blog, uma espécie de diário online, permite que os seus leitores interajam instantaneamente com o autor. Há uma troca constante de informação, o que é um dos maiores segredos do sucesso dessa tecnologia cujo impacto se mede pelas visitas que recebe.
– No começo, usávamos os blogs para encontros com mulheres, amor e sexo – conta o iraniano, hoje radicado em Amsterdã, na Holanda, onde dirige sua própria consultoria de mídia. – Mas há cerca de oito anos, os blogs se tornaram uma grande fonte de liberdade no Irã. Libertou nossa nova geração e criou um canal público para debates sobre assuntos que foram banidos dos jornais e outras mídias pelo governo. O fato é que nenhuma outra parte da história do Irã foi tão extensamente escrita e comentada como foram estes últimos oito anos, desde a introdução dos blogs em nossa sociedade.
O acesso à essa blogosfera, por mais que restrito, abriu uma janela para que Mehdi, Yoani e outros pudessem denunciar políticas que consideram “abomináveis”, como descreve Mehdi, ou “sufocantes” adjetivo escolhido por Yoani.
– Os blogs expõem textos censurados, fotos, figuras e pensamentos. É nossa atmosfera social alternativa. Como não temos uma sociedade normal e livre, blogar nos ajuda a desenvolver essa liberadade em nossas mentes e corações, na nossa Blogestan (literalmente, bloglândia). Lá, posso mostrar o Irã que gostaria que existisse – afirma Mehdi.
No Generacion Y, Yoani consegue discorrer livremente sobre o cotidiano do povo cubano, a ausência de liberdade e a escassez de gêneros de primeira necessidade. Bloqueado pelo governo, seu blog só pode ser acessado de fora da Ilha.
“Sou uma blogueira às cegas, uma cibernauta com uma balsa que faz água e que consegue flutuar graças ao apoio de uma espontânea rede cidadã”, escreveu a cubana em seu blog.
Mas, na entrevista ao JB, lembrou que a censura do regime não consegue ser absoluta:
– Meu blog está bloqueado em Cuba desde o ano passado, mas isso não significa que os cubanos não o leiam. Somos especialistas em encontrar modos de burlar as regras. Os cubanos o copiam em CDs, em memória flash e o distribuem. A maior prova de que estão me lendo em Cuba é que me param na rua para falar do blog. Muitos me elogiam, mas também já fui chamada de monstra.
O controle estatal na ilha é tanto que nos últimos doze meses Yoani solicitou, em diversas ocasiões, visto de saída para atender a convites no exterior, seja para receber prêmios conceituados nos EUA e Espanha ou, mais recentemente, para vir ao Brasil participar do lançamento de seu livro De Cuba, com carinho – uma coletânea de seus textos no blog. O visto foi negado em todas as ocasiões, sem que ela conseguisse extrair dos funcionários de consulados sequer uma justificativa.
– Não me explicam nada. Trata-se de uma decisão da mais alta instância, que se dá ao luxo de não fornecer explicações.
Quando no prólogo do seu livro Fidel, Bolivia y algo más, o ex-presidente Fidel Castro desqualificou o blog de Yoani, descrevendo-a como uma das “enviadas especiais para realizar o trabalho de informante e imprensa neocolonial”, Yoani conta que sua primeira reação foi se sentir como se tivesse recebido uma condecoração.
– Ele me mencionou no prólogo do livro, o que foi a maneira mais fácil de me fazer conhecida em Cuba. Cubanos querem ler essas novidades para saberem do que se trata. Me surpreendeu também que Fidel Castro, uma figura tão presente da minha infância, tenha falado de um fenômeno tão novo como os blogs.
Mehdi sugere que regimes autoritários sobrevivem apenas enquanto conseguem proibir a livre circulação de pontos de vista alternativos. Afinal, ao permitir a liberdade de expressão, ressalta, um governo corre o risco de “cair numa democracia”. Com o surgimento dos blogs, uma das mídias mais democráticas que existem, o esforço de frear a disseminação de ideias terá de ser redobrado.
“Que o Ipod cabe num bolso, um minidisk armazena vários filmes e na magra barriguinha de um memory flash podem viajar centenas de documentos, que sentido tem proibi-los? Para que desgastar-se numa briga que já tem ganhador, a tecnologia?”, escreveu Yoani.
17:54 - 31/10/2009
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