quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Unita: a Traição como a Separação do Trigo e do Joio (1)


PEDRO KUFUNA
O significado de traição, conforme se lê em qualquer dicionário, nem sempre é o mais exacto.

http://www.ovimbundu.org/

Define-se a traição, ora como um acto de infidelidade ora como uma perfídia. Diga o que se disser, não há dúvida de que a acepção mais exacta pode ser encontrada na conduta de Judas, que vendeu Cristo por trinta moedas. Eis a essência da traição, ou seja, a pressuposição de que se trai para obter contrapartidas financeiras ou de outro tipo.

A UNITA, fundada em 1965, é o Partido, por razões pouco desconhecidas, onde as traições têm sido mais frequentes, ao ponto de, muitas vozes, afirmarem, o que é obviamente incorrecto, que a traição é uma das características dos sulanos.
Seja como for, a primeira traição na UNITA ocorreu em 1970, numa altura em que a UNITA já tinha as suas posições consolidadas no Leste de Angola. Castro Bango, um dos responsáveis pelas células clandestinas da UNITA em Nova Lisboa (actual Huambo), foi o primeiro lobo a vestir-se de pele de cordeiro. A traição de Bango, que lhe valera avultadas somas de dinheiro, fora paga pela PIDE (polícia secreta portuguesa). Tudo aponta no sentido de o plano para intersectar, e depois aniquilar Jonas Malheiro Savimbi , fora concebido por Aníbal São José Lopes e Óscar Cardoso, o criador dos “flechas”, com a luz verde de Costa Gomes, na altura Comandante da Região Militar de Angola. Não lhes faltou o apoio do Comando Militar Leste e das Subdelegações da PIDE naquela região. Note-se que a PIDE funcionava como “anjo da guarda” das Forças Armadas Portuguesas.

Castro Bango só não conseguiu o seu intento por mera casualidade: esteve no Luso (actual Luena) com Jonatão Chinguji, na altura, o responsável pelo Comité clandestino da UNITA nessa cidade e, conseguiria, conforme o plano esboçado pela PIDE, um encontro com Jonas Savimbi, na Chicala. Uma semana depois, já com Castro Bango na cidade do Luso, as Forças Armadas Portugueses atacaram a coluna de Jonas Savimbi, que escapou por um fio. Sorte igual não tiveram os responsáveis dos Comités Clandestinos da UNITA no Moxico, Nova Lisboa e Benguela. Isso explica porque, nesse ano, as masmorras da PIDE receberam, como nunca, o maior número de prisioneiros políticos da UNITA. Fazia parte: Jonatão Chingunji, Martinho Epalanga,o Reverendo Mussili, apenas para citar alguns.

Castro Bango, não se sabe por que razões, ou, provavelmente, por remorso, recusara-se a buscar refúgio em Portugal. É para se dizer que desconhecia que quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Preso pela Unita, logo depois do 25 de Abril, foi executado na cadeia do ACMOL, no Huambo, no dia 11 de Novembro de 1975.
O percurso político da Unita, no período que se seguiu à independência nacional, foi marcado por várias deserções e traições. No que concerne às deserções, é importante assinalar que nem todas podem ser consideradas como traições. É o caso, por exemplo, de Jorge Chicoty, um jovem ambicioso, inteligente, formado em Geografia Rural no Canadá, que, a dada altura, decidira bater com as portas à UNITA. Chicoty, depois de fundar o FDA (Frente para a Democracia de Angola), passaria para o MPLA. É, actualmente, membro do Comité Central desse partido e Vice-ministro para as Relações Exteriores. Outros casos são o de Fátima Roque, Paulo Tjipilika, actualmente Provedor da Justiça no governo de Angola e José Ndele (integrante do colégio presidencial no governo de Transição em 1975 e já falecido).

Estes últimos, desentenderam-se com Jonas Savimbi e criaram o que viria a chamar-se de Tendência de Reflexão Democrática, com mais dois elementos que, foram, depois de Castro Bando, os maiores traidores da Unita.

Imagem: petrinus.com.sapo.pt/ boloangolano.htm

Sem comentários: