terça-feira, 17 de novembro de 2009

JES e MPLA: Política da Trapaça ou Trapaça na Política? (Fim)


NGANDU J.R.
O presidente é eleito numa sessão conjunta do parlamento bicameral, que consiste de uma Assembleia Nacional (National Assembly), ou câmara baixa, e um Conselho Nacional de Províncias (National Council of Provinces, NCoP), ou câmara alta.

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Gerou-se, em Angola, um certo mal-estar que foi uma vez mais dissipado pelos mensageiros da desgraça de sempre (Bornito e Feijó). Sem fugir à risca do plano Maior, tal como se fosse um pai a observar o filho a aprender a gatinhar, o Mpla não tardou a aparecer com outra ideia genial: o debate “evoluíra” e que o formato definitivo do modelo (o trunfo que estava na manga, ou seja, o plano Maior) já não seria parecido ao da África do Sul, a não ser no que dizia respeito à questão do “cabeça de lista”.

Consequentemente, as eleições presidenciais seriam por sufrágio directo e universal mas “atípica”, uma vez que os eleitores, ao elegerem o partido, escolhiam, em simultâneo, o presidente da república. Ironicamente é o caso de alguém que, ao casar-se, também o fará com a sogra. Inútil que é referirmo-nos a quão desusado, anti-democrático e anacrónico é este modelo, que nunca existiu em parte alguma, gostaríamos apenas de recordar que se está, de novo, no ponto de partida. As eleições do presidente assim feitas são, sem sombra de dúvida, “indirectas”. Logo, o debate não evoluiu; regrediu.

Zenu (provável sucessor à presidência de Angola)
No entanto, mais importante que isso é sabermos que foi esse o plano Maior, o trunfo escondido nas mangas de JES e do MPLA com o fito único de se começar a preparar a sucessão de José Eduardo dos Santos. E razões não faltam: JES, cansado, doente e desconfortado com os longos anos de poder, quer retirar-se mas, na lógica de “sair para ficar” e, para isso, nada melhor que deixar o seu filho no poder. Em suma, não será ele o beneficiário (pois não necessita dele) desta estratégia gizada para a defesa dos seus interesses pessoais e familiares. E, sabendo que o seu filho, José Filomeno dos Santos “Zenu”, jamais conseguiria votos para a presidência num modelo “normal”, a fórmula milagrosa será a do “cabeça de lista”. Sempre que alguém votar no Mpla automaticamente estará a votar no seu filho.

O elixir poderá funcionar durante algum tempo, mas haverá um dia em que, inexoravelmente, o feitiço se há-de voltar contra o feiticeiro. Quanto a isso, nada mais confortante que parafrasearmos Che Guevera quando dizia: “os poderosos podem matar uma, duas ou até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera”.

Imagem: FOLHA 8

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