Crise de insolvência
Muitos devedores deixaram de pagar quando o Banco Central dos EUA aumentou os juros, como já tinha acontecido com a dívida externa dos países do Sul nos anos 80 (Arruda, 1988). Falência e salvamento, com fundos públicos, de bancos de investimento, empresas de seguros e outras financeiras que atuavam como croopiers do cassino global! Mas nenhuma compaixão para com os países sobreendividados do hemisfério Sul, quando estes sofreram a consequência dos aumentos unilaterais da taxa de juros básica dos EUA no fim dos anos 70. A maior parte das dívidas eram contraídas em dólar, com cláusula de juros flexíveis.
A Auditoria Cidadã da dívida, que faz parte da Rede Jubileu Brasil, calculou que o Brasil teria terminado de pagar a dívida externa em 1989 e ainda teria a receber US$ 161 bilhões dos credores externos por pagamentos de juros em excesso entre 1973 e 2006, caso a taxa de juros sobre os empréstimos em dólar tivessem permanecido no seu nível histórico médio (em torno de 6%).[1] Lembremos que quase a metade da dívida externa do Brasil havia sido contraída pelos governos ilegítimos da ditadura militar. Enquanto o Equador dá um exemplo ao continente ao realizar a auditoria integral da dívida externa, criando as bases técnicas e jurídicas para uma renegociação soberana com os credores, o governo Lula se recusa a ouvir a sociedade organizada na Rede Jubileu Brasil, que pressiona por uma auditoria integral da dívida pública, e insiste em manter um ciclo masoquista de aumento da dívida pública, manutenção de altas taxas de juros e câmbio não administrado.
Crise de confiança
Até os bancos pararam de emprestar um para o outro. A desconfiança começa a reinar e o Estado é chamado para canalizar recursos para sanear as contas dos agentes da especulação e aumentar o crédito ao consumidor. No plano psicológico, o objetivo é enfrentar a crise de confiança que tende a levar as pessoas e as empresas a não gastar e não emprestar. Sem crédito e sem demanda, os estoques das empresas produtivas se acumulam, elas reduzem a produção e os postos de trabalho, e o sistema inteiro começa a ruir. No Brasil, descobriu-se que bancos privados e públicos e grandes empresas industriais estavam especulando com os derivativos e o câmbio. Sem que seus acionistas e investidores soubessem dos riscos envolvidos![2] Agora estão tendo perdas significativas! Até 18/11/08, o governo já havia anunciado medidas do “pacote anti-crise” equivalentes a R$ 373,5 bilhões, que incluem maciços aportes ao BNDES para créditos facilitados a grandes e médias empresas, facilidades fiscais, e linhas de financiamento às montadoras estrangeiras. Mais rápido e eficaz seria adotar reformas redistributivas da renda e da riqueza do país, há muito prometidas e jamais realizadas.
Tendências
“Aqui reside o limite do capital: o limite da Terra”.
Leonardo Boff
O sistema centrado no capital, no lucro e no crescimento econômico ilimitado das empresas e da economia material não tem condições intrínsecas para gerar sua própria superação. Enquanto o espaço territorial do planeta permitia sua expansão, ele progrediu, multiplicando e globalizando bens, serviços, mercados e apetite de consumir. Sem ter conseguido realizar o que chama de ‘desenvolvimento’ e ‘progresso’ para a totalidade dos povos e dos cidadãos e cidadãs da Terra, e tendo depredado ou colocado em risco de morte grande parte dos seus recursos naturais e ecossistemas, esse sistema, promotor de ambição, ganância, voracidade e competição permanente entre pessoas, empresas e nações começa a chegar ao fim. Vivemos um momento da história humana em que uma civilização, com seu ideário cultural e seu modo de organização socioeconômica e política, caminha para a extinção, enquanto do seu interior brotam e se articulam os elementos que sinalizam para uma nova civilização e uma novo paradigma de ser humano e de vida no Planeta.
In Marcos Arruda. Economista e educador do PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Rio de Janeiro), da Rede Jubileu Sul Brasil, co-animador de ALOE – Aliança por uma Economia Responsável, Plural e Solidária, e sócio do Instituto Transnacional (Amsterdam). Ladislau Dowbor
[1] Auditoria Cidadã da Dívida, Boletim n. 12, 31/5/2005, Brasília, DF. http://www.divida-auditoriacidada.org.br/
[2] Ver casos de mentiras ou conselhos desinformados de funcionários de bancos e financeiras aos seus clientes em Izique, Claudia, Horas iabólicas, na revista EU&, Valor, 17-19/10/08: 4-7.
Muitos devedores deixaram de pagar quando o Banco Central dos EUA aumentou os juros, como já tinha acontecido com a dívida externa dos países do Sul nos anos 80 (Arruda, 1988). Falência e salvamento, com fundos públicos, de bancos de investimento, empresas de seguros e outras financeiras que atuavam como croopiers do cassino global! Mas nenhuma compaixão para com os países sobreendividados do hemisfério Sul, quando estes sofreram a consequência dos aumentos unilaterais da taxa de juros básica dos EUA no fim dos anos 70. A maior parte das dívidas eram contraídas em dólar, com cláusula de juros flexíveis.
A Auditoria Cidadã da dívida, que faz parte da Rede Jubileu Brasil, calculou que o Brasil teria terminado de pagar a dívida externa em 1989 e ainda teria a receber US$ 161 bilhões dos credores externos por pagamentos de juros em excesso entre 1973 e 2006, caso a taxa de juros sobre os empréstimos em dólar tivessem permanecido no seu nível histórico médio (em torno de 6%).[1] Lembremos que quase a metade da dívida externa do Brasil havia sido contraída pelos governos ilegítimos da ditadura militar. Enquanto o Equador dá um exemplo ao continente ao realizar a auditoria integral da dívida externa, criando as bases técnicas e jurídicas para uma renegociação soberana com os credores, o governo Lula se recusa a ouvir a sociedade organizada na Rede Jubileu Brasil, que pressiona por uma auditoria integral da dívida pública, e insiste em manter um ciclo masoquista de aumento da dívida pública, manutenção de altas taxas de juros e câmbio não administrado.
Crise de confiança
Até os bancos pararam de emprestar um para o outro. A desconfiança começa a reinar e o Estado é chamado para canalizar recursos para sanear as contas dos agentes da especulação e aumentar o crédito ao consumidor. No plano psicológico, o objetivo é enfrentar a crise de confiança que tende a levar as pessoas e as empresas a não gastar e não emprestar. Sem crédito e sem demanda, os estoques das empresas produtivas se acumulam, elas reduzem a produção e os postos de trabalho, e o sistema inteiro começa a ruir. No Brasil, descobriu-se que bancos privados e públicos e grandes empresas industriais estavam especulando com os derivativos e o câmbio. Sem que seus acionistas e investidores soubessem dos riscos envolvidos![2] Agora estão tendo perdas significativas! Até 18/11/08, o governo já havia anunciado medidas do “pacote anti-crise” equivalentes a R$ 373,5 bilhões, que incluem maciços aportes ao BNDES para créditos facilitados a grandes e médias empresas, facilidades fiscais, e linhas de financiamento às montadoras estrangeiras. Mais rápido e eficaz seria adotar reformas redistributivas da renda e da riqueza do país, há muito prometidas e jamais realizadas.
Tendências
“Aqui reside o limite do capital: o limite da Terra”.
Leonardo Boff
O sistema centrado no capital, no lucro e no crescimento econômico ilimitado das empresas e da economia material não tem condições intrínsecas para gerar sua própria superação. Enquanto o espaço territorial do planeta permitia sua expansão, ele progrediu, multiplicando e globalizando bens, serviços, mercados e apetite de consumir. Sem ter conseguido realizar o que chama de ‘desenvolvimento’ e ‘progresso’ para a totalidade dos povos e dos cidadãos e cidadãs da Terra, e tendo depredado ou colocado em risco de morte grande parte dos seus recursos naturais e ecossistemas, esse sistema, promotor de ambição, ganância, voracidade e competição permanente entre pessoas, empresas e nações começa a chegar ao fim. Vivemos um momento da história humana em que uma civilização, com seu ideário cultural e seu modo de organização socioeconômica e política, caminha para a extinção, enquanto do seu interior brotam e se articulam os elementos que sinalizam para uma nova civilização e uma novo paradigma de ser humano e de vida no Planeta.
In Marcos Arruda. Economista e educador do PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Rio de Janeiro), da Rede Jubileu Sul Brasil, co-animador de ALOE – Aliança por uma Economia Responsável, Plural e Solidária, e sócio do Instituto Transnacional (Amsterdam). Ladislau Dowbor
[1] Auditoria Cidadã da Dívida, Boletim n. 12, 31/5/2005, Brasília, DF. http://www.divida-auditoriacidada.org.br/
[2] Ver casos de mentiras ou conselhos desinformados de funcionários de bancos e financeiras aos seus clientes em Izique, Claudia, Horas iabólicas, na revista EU&, Valor, 17-19/10/08: 4-7.
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