A avidez dos países vizinhos (Ruanda, Uganda, Angola, Burundi, Zâmbia) para se apoderarem de um pedaço do pastel mineiro congolês.
III – A GERINGONÇA CONGOLESA.
E, sem dúvida, trata-se de um país muito rico, com minas de zinco, de cobre, de pata, de ouro, do agora cobiçado coltán, com um enorme potencial agrícola, pecuário e agro-industrial. Que lhe faz falta para aproveitar os seus incontáveis recursos? Coisas por agora muito difíceis de alcançar: paz, ordem, legalidade, instituições, liberdade. Nada disso existe nem existirá no Congo por bom tempo.
As guerras que o sacodem, deixaram de serem ideológicas (se alguma vez o foram) e só se explicam por rivalidades étnicas e cobiça do poder de chefes e chefitos regionais ou a avidez dos países vizinhos (Ruanda, Uganda, Angola, Burundi, Zâmbia) para se apoderarem de um pedaço do pastel mineiro congolês. Mas nem sequer os grupos étnicos constituem formações sólidas, muitos se dividiram e subdividiram em facções, boa parte das quais não são mais que bandos armados de foras-da-lei que matam e sequestram para roubarem.
Muitas minas estão agora nas mãos desses bandos, milícias ou do próprio Exército do Congo. Os minerais extraem-se com trabalho escravo de prisioneiros que não recebem salários e vivem em condições inumanas. Esses minerais levam-nos os traficantes estrangeiros, em avionetas e aviões clandestinos. Um funcionário da ONU que conheci em Goma assegurou-me: "Engana-se se crê que o caos do Congo está na terra. O que ocorre no ar é todavia pior". Porque tampouco nas alturas há lei ou regulamento que se respeite. Como a maioria dos voos são ilegais, o número de acidentes aéreos, o mais alto do mundo, é terrorífico: 56 entre Julho de 2007 e Julho de 2008. Por esta razão nenhuma companhia aérea congolesa é admitida nos aeroportos da Europa.
Como o principal recurso do país, o mineral, o repartem os traficantes e os militares, o Estado congolês carece de recursos, e isto generaliza a corrupção. Os funcionários valem-se de toda a classe de tráficos para sobreviverem. Militares e polícias têm árvores nos caminhos e cobram imaginárias portagens. A Juan Carlos Tomasi, o fotógrafo que nos acompanha, cada vez que saca as câmaras, alguém vem com a mão estendida a cobrar-lhe um fantástico "direito de imagem". (Mas ele é um perito nestas lides e discute e argumenta sem deixar-se chantagear). Para viajar de Kinshasa a Goma devemos, antes de trepar ao avião, desfilar por cinco mesas, alinhadas uma junto à outra, onde se expendem vistos para viajar dentro do país!
Não é verdade que a comunidade internacional não interveio no Congo. A Missão das Nações Unidas no Congo (MONUC) é a mais importante operação que a organização internacional nunca empreendeu. A Força de Paz da ONU no Congo conta com 17.000 soldados de várias nacionalidades, e uns 1.500 civis. Só em Goma há militares do Uruguai, Índia, África do Sul e Malawi. Visitei o acampamento do batalhão uruguaio e conversei com o seu chefe, o amável coronel Gaspar Barrabino, e vários oficiais do seu Estado-maior. Todos eles tinham um conhecimento sério da intricada problemática do país. A inoperância de que são acusados deve-se, na realidade, às limitações, à primeira vista incompreensíveis, que às próprias Nações Unidas impuseram no seu trabalho.
EL PAÍS
III – A GERINGONÇA CONGOLESA.
E, sem dúvida, trata-se de um país muito rico, com minas de zinco, de cobre, de pata, de ouro, do agora cobiçado coltán, com um enorme potencial agrícola, pecuário e agro-industrial. Que lhe faz falta para aproveitar os seus incontáveis recursos? Coisas por agora muito difíceis de alcançar: paz, ordem, legalidade, instituições, liberdade. Nada disso existe nem existirá no Congo por bom tempo.
As guerras que o sacodem, deixaram de serem ideológicas (se alguma vez o foram) e só se explicam por rivalidades étnicas e cobiça do poder de chefes e chefitos regionais ou a avidez dos países vizinhos (Ruanda, Uganda, Angola, Burundi, Zâmbia) para se apoderarem de um pedaço do pastel mineiro congolês. Mas nem sequer os grupos étnicos constituem formações sólidas, muitos se dividiram e subdividiram em facções, boa parte das quais não são mais que bandos armados de foras-da-lei que matam e sequestram para roubarem.
Muitas minas estão agora nas mãos desses bandos, milícias ou do próprio Exército do Congo. Os minerais extraem-se com trabalho escravo de prisioneiros que não recebem salários e vivem em condições inumanas. Esses minerais levam-nos os traficantes estrangeiros, em avionetas e aviões clandestinos. Um funcionário da ONU que conheci em Goma assegurou-me: "Engana-se se crê que o caos do Congo está na terra. O que ocorre no ar é todavia pior". Porque tampouco nas alturas há lei ou regulamento que se respeite. Como a maioria dos voos são ilegais, o número de acidentes aéreos, o mais alto do mundo, é terrorífico: 56 entre Julho de 2007 e Julho de 2008. Por esta razão nenhuma companhia aérea congolesa é admitida nos aeroportos da Europa.
Como o principal recurso do país, o mineral, o repartem os traficantes e os militares, o Estado congolês carece de recursos, e isto generaliza a corrupção. Os funcionários valem-se de toda a classe de tráficos para sobreviverem. Militares e polícias têm árvores nos caminhos e cobram imaginárias portagens. A Juan Carlos Tomasi, o fotógrafo que nos acompanha, cada vez que saca as câmaras, alguém vem com a mão estendida a cobrar-lhe um fantástico "direito de imagem". (Mas ele é um perito nestas lides e discute e argumenta sem deixar-se chantagear). Para viajar de Kinshasa a Goma devemos, antes de trepar ao avião, desfilar por cinco mesas, alinhadas uma junto à outra, onde se expendem vistos para viajar dentro do país!
Não é verdade que a comunidade internacional não interveio no Congo. A Missão das Nações Unidas no Congo (MONUC) é a mais importante operação que a organização internacional nunca empreendeu. A Força de Paz da ONU no Congo conta com 17.000 soldados de várias nacionalidades, e uns 1.500 civis. Só em Goma há militares do Uruguai, Índia, África do Sul e Malawi. Visitei o acampamento do batalhão uruguaio e conversei com o seu chefe, o amável coronel Gaspar Barrabino, e vários oficiais do seu Estado-maior. Todos eles tinham um conhecimento sério da intricada problemática do país. A inoperância de que são acusados deve-se, na realidade, às limitações, à primeira vista incompreensíveis, que às próprias Nações Unidas impuseram no seu trabalho.
EL PAÍS
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