quinta-feira, 2 de abril de 2009

A Origem da Grande Depressão de 2008 (40). Novela


- Anita… é de pasmar.
- Pois é. Ficas a saber que até cheguei a pôr um anúncio no jornal em que pretendia um estrangeiro branco, de preferência português para fins matrimoniais.
- Oh!
- É verdade, não gosto de filhos negros.
- Anita, isso não é racismo?
- Acho que não, são gostos e estes não se discutem. Mas depois desisti, porque os que responderam ao anúncio, notei de imediato que eram aventureiros. Queriam era sentir a minha anatomia, comer-me… percebes?
- Claro.
- Pois, e da minha comida não provaram. Assim que começávamos a falar esticavam as mãos para me apalpar. Poças, que homens tão chatos.
- Querida Anita não me considero nesse rol. Digo com franqueza que és muito bonita.
- Obrigada, tu também és muito bonito. Estou convencida que capturei o branco ideal.
- Sou casado.
- Não me importa, desde que me prometas fidelidade.
- Está bem.

Encostou os lábios nos meus num interminável linguado. Parou, compôs o cabelo e disse apreensiva:
- O meu irmão é muito imprudente, anda para aí a falar com este e aquele, que quer fazer um golpe de estado… ainda acaba mal.
- Depois falo com ele.
- Não vale a pena, não dá ouvidos a ninguém.


Elder parecia recuperar do trauma. Perguntei-lhe:
- Estás melhor?
- Estou a recuperar mas ainda vai demorar algum tempo até à solidificação dos ossos. Tenho que fazer mais alguns exames. O chato é que de vez em quando me dá dores, especialmente quando faço algum esforço.
- E a Ava?
- Não sei bem, tem que fazer outra operação na cabeça. O choque que levou foi muito violento… imagina sofrer todo o impacto da colisão na cabeça.
- Elder, quem é que vai ocupar o apartamento dela?
- Ninguém, vai ficar como está.
- Vende-o.
- Ela não quer. É pá que se lixe. Aquilo também está a ficar uma merda.
- Porquê Elder?
- Porquê?! Mas o que é que tu queres?! Estão a roubar tudo o que é condomínios. O filho de um ministro ocupou as traseiras de alguns prédios, fechou-as e agora os que lá vivem, tem que pagar cento e cinquenta dólares por mês para terem acesso ao estacionamento. Caramba! Este povo é muito burro. Só sabem é revoltarem-se contra os brancos. É muito bem feito. Correram com os brancos, agora é entre eles. Mas o que é que tu queres?! Isto é deles, puta que os pariu.
- Elder… e os meus pagamentos?
- Não te preocupes com isso, comigo estás seguro. Olha, à noitinha vamos fazer uma marosca a ver se conseguimos reunir documentação para sacarmos três milhões de dólares aos Caminhos de Luanda.

- Põe mais esta factura. – Dizia-me o Elder enquanto eu digitava no computador.
Procurava por mais pastas de arquivo, foi a um armário metálico, retirou do seu bolso um molho de chaves, escolheu uma, abriu as portas e disse triunfal:
- Aqui estão elas, as outras facturas, claro que são falsas, mas vão servir muito bem. Só lamento que o novo director seja um negro muito burro. Ele quer muito mais que a comissão que lhe é devida. Depois falo com ele e chegaremos a um entendimento. O negro é fácil de dominar, fácil de corromper, basta acenar-lhe com uma boa maquia, e já está.
- Elder, assim se enriquece em Angola!

Foto: Angola em fotos

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