Maputo
(Canalmoz) – Os pescadores e revendedores de mariscos, nos bairros dos
Pescadores e Costa do Sol, arredores de Maputo, dizem que os efeitos das
mudanças climáticas já se fazem sentir naquela zona e já se reflectem na sua
actividade diária. Eles têm como seu “ganha-pão” a captura, a venda e a revenda
de mariscos.
A
Reportagem do Canalmoz escalou esta semana o bairro dos Pescadores, e um dos
exemplos dos efeitos das mudanças climáticas registados foi a acentuada
degradação da Avenida Marginal que aos poucos está a ser engolida pelas águas
do mar. As barreiras colocadas estão quase a ceder. O ambiente vivido no
pequeno “dumba-nengue” no bairro dos Pescadores é desolador. Existem marcas de
barracas e árvores que já foram engolidos.
Algumas
pessoas interpeladas no terreno confirmaram que as características da praia da
Costa do Sol de “hoje” são diferentes das de “ontem”. “A direcção da ventania
que geralmente anunciava o “mau” ou “bom” tempo para a pesca também mudou”. “As
sombras onde se distribuíam o produto da pesca já não existem, pois as árvores
foram arrasadas”.
Inquietações
Albertina
Muando conta que trabalha na praia dos Pescadores há mais de 20 anos. Diz que o
seu negócio sempre foi peixe, mas quando começou a escassear mudou para
amêijoas. Tudo isto para garantir o sustento da família. Neste momento, está a
explorar um pequeno espaço encravado dentro de um pequeno banco de areia. A
exploração desta parcela é paga à capitania.
Explicou
que quando resta a amêijoa que tentou vender no mercado, vai depositar nesse
lugar enquanto a maré for baixa e quando for alta, a amêijoa volta às
características iniciais. No dia seguinte, retira e põe novamente na banca,
assim sucessivamente.
“Pago
anualmente 190 meticais à capitania para explorar este espaço. O negócio não
anda bem. No passado vinham pessoas de hotéis e restaurantes fazer compras
aqui, mas como o pescado diminuiu, eles já não vêm. Sentimos na pele as
consequências destes novos fenómenos naturais”, lamentou.
Vitória
Tembe disse, por seu turno, que as consequências das mudanças climáticas são
notáveis na praia da Costa do Sol. Contou que ela sempre se dedicou à venda de
camarão, mas de algum tempo a esta parte começou a escassear.
“O
camarão que vendo é arrastado nas águas de Machangulo. Trabalho aqui há 37
anos. É muito caro o peixe e o camarão. O meu filho tem barco de pesca, mas é
difícil apanhar bom peixe. Antes não precisávamos vir até à praia, comprávamos
peixe lá no Montanhana. Por dia tenho um lucro de 200 meticais que serve para
xitique (jogo de dinheiro entre amigos, família, vizinhos ou colegas), água e
energia”, disse.
José
Cossa contou que vive no bairro dos Pescadores desde a década 70. Diz que de lá
a esta parte, muita coisa mudou quer na zona da praia, quer nas residências.
“Esta
zona agora aquece muito. Dizem que é devido ao sal da praia, não percebo que
fenómeno é este”, disse afirmando que criou todos os seus cinco filhos com
dinheiro proveniente da venda de peixe, “mas agora não sai nada”.
Indicou
que às vezes ficam duas semanas sem pescar “devido a ventania”. Nos dias que
correm, observa, “existe uma ventania denominada “noi” (feiticeira na língua
tsonga) que faz desaparecer todo o peixe. E mesmo os barcos que se arriscam ao
alto mar, voltam sem peixe”.
Batalhadora
Madelena
Joaquim, 32 anos, é natural da Beira. Conta que vive no distrito de Boane que
dista 30 quilómetros a sul da cidade de Maputo. Compra peixe neste mercado e
revende em Boane. Na segunda-feira chegou à praia às 8 horas, mas o peixe que
saiu de manhã era pouco e acabado, teve de ficar à espera de barcos das 16
horas.
Explicou
que antes de começar a vender peixe, trabalhava numa barraca em Boane. Ficou
doente e o patrão mandou-a embora, e para não ficar sem nada fazer, preferiu
iniciar com o negócio de peixe. É mãe de dois filhos. Diz que “o pescado sai
irregularmente”.
“Compro
peixe e escamo aqui. Vi que depender apenas do salário do meu marido era complicado.
O preço é elevado porque agora sai pouco peixe, se comparado com os anos
passados. Gasto de 400 a 600 meticais para comprar magumba e garoupa. Neste
negócio tenho lucro de 200 a 250 por semana”, disse. (Cláudio Saúte)
Imagem: ... moçambicana. Ali, na varanda Art Deco,
saboreia-se o misto de mariscos à ...
myguide.iol.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário