sábado, 17 de março de 2012

Crónica: Viagens profissionais a Luanda



Viajar para Luanda é, actualmente, uma prática frequente na vida de muitos profissionais Portugueses. Dada a assustadora crise que afecta grande parte dos países Europeus, Portugal, mais do que nunca, vem recorrendo à economia Angolana, que se vem tornando fonte de sobrevivência para muitos.
Protocolo. Cristina Fernandes e Susana Casanova
Especialistas em protocolo
Mas aqueles que julgam que vão “chegar, ver e vencer”, bem como os que ainda pensam e actuam com espírito arrogante e sobranceiro, desenganem-se porque vão sofrer vários amargos de boca…

Luanda é uma cidade em ebulição, já desde há muito, na qual se sente uma enorme vivacidade. As obras estão por todo o lado e, a cada ida, vejo novos edifícios, novas agências bancárias, novos restaurantes, pessoas de inúmeras nacionalidades… No que respeita ao protocolo na sua vertente multicultural (usos e costumes), defendo que o mais importante é a flexibilidade e o respeito por tudo e por todos.

Aos profissionais Portugueses que viajam pela primeira vez, aconselha-se abertura face a uma cultura que, apesar de muitos pontos comuns, não é a sua. O primeiro conceito radicalmente diferente é o da relação com o tempo, pois a constante pressa e stress dos Portugueses opõe-se à calma com que a maioria dos Angolanos gere o seu dia. Será, quase sempre, o caótico trânsito da cidade a determinar a hora dos compromissos, mais do que uma pormenorizada planificação de agenda. Por outro lado, os dias começam muito cedo, mas podem terminar com um jantar tardio e demorado num dos muitos restaurantes da cidade. Não restará muito tempo para descansar.

O cumprimento mais frequente em ambiente profissional, mesmo entre mulheres, continua a ser o aperto de mão. É importante trocar cartões-de-visita e não descuidar o uso de títulos académicos, militares, profissionais. Ao contrário do que possa parecer numa observação ligeira, a sociedade Angolana é muito formal, existindo um enorme respeito pelos estatutos sociais e profissionais e também pela idade. Os cumprimentos e os encontros nunca deverão ser apressados e informais, é usual que se pergunte pela família e se faça conversa de circunstância evitando, naturalmente, como em qualquer situação, temas delicados de natureza política, social ou religiosa.

Fiel ao princípio de que tudo comunica, também em Angola a imagem conta, e muito. Em ambientes profissionais mais formais, continua a ser aconselhável o uso de fato e gravata, apesar do conceito de “business casual” já ser muito frequente. Atente-se, contudo, a que “casual” (sem gravata), não significa desleixo, pelo que o clima não deve servir de desculpa para usar trajes demasiadamente informais. As t-shirts, os calções e os chinelos são aconselháveis sim, mas para a praia! Os Angolanos apreciam uma apresentação cuidada, gostam de peças de qualidade e de marca.

Povo hospitaleiro por natureza, os Angolanos gostam de celebrações e, numa cidade como Luanda que ainda não dispõe de muitas opções de lazer, os almoços e jantares são muitos frequentes e animados. Não é de bom-tom recusar o que é oferecido, nem assumir uma postura de nada querer provar por uma infinidade de razões…

Os Angolanos falam calmamente, normalmente em tom de voz moderado ou baixo, e não devem ser interrompidos. Também a comunicar, como em quase tudo, é necessário dispor de tempo. O contacto visual é importante mas o olhar não deve ser invasivo. Tentam sempre agradar aos seus interlocutores e os padrões de comunicação não são, sempre e por definição, semelhantes aos nossos. Dificilmente ouvirão de um Angolano um “não” directo e assertivo, pelo que, em determinadas situações, poderão ocorrer da nossa parte, interpretações não totalmente exactas.

As reuniões decorrem, habitualmente, em ambiente formal e, ao contrário dos Portugueses, os Angolanos não são grandes apreciadores de café, preferindo o chá. Poderá ocorrer a troca de presentes como forma de estreitar relações.

À semelhança de outras culturas, também os Angolanos precisam de estabelecer relações pessoais e de confiança para, posteriormente, negociar. Isso exige da parte dos Portugueses disponibilidade de tempo e de recursos para investir no estabelecimento de relações que podem demorar a se desenvolverem. A palavra urgência não se enquadra neste contexto...

Boa viagem e boa sorte!

Cristina Marques Fernandes
http://protocolopt.blogspot.com
http://www.sabado.pt/Cronicas/Protocolo/Viagens-profissionais-a-Luanda.aspx

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