domingo, 18 de março de 2012

Milícias para combater manifestantes foram treinadas para a guerrilha urbana, escreve F-8



Luanda - Quando nos decidimos a escrever e descrever o que vimos, ouvimos e pensamos sobre as manifestações do dia 10 de Março passado, de jovens estudantes e alguns representantes de forças políticas da oposição contra as repetidas violações da Constituição de Angola, nomeadamente a nomeação de Suzana Inglês como presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), os 32 anos de poder quase absoluto de JES sem nunca ter sido eleito pelo sufrágio universal, mais uma série de ilegalidades cometidas por órgãos que deveriam ser os guardiões da justiça e da democracia participativa, hesitámos.

Fonte: Folha8 Club-k.net
Formadas pelo regime
Face às bárbaras e criminosas agressões sobre os pacíficos manifestantes por parte de homens armados com barras de ferro, sob o olhar complacente e em certos casos cúmplice da Polícia Nacional, pensamos em off: se escrevermos isso, vão-nos matar. Exactamente assim. Triste, mas a verdade é que Angola ainda não conseguiu libertar-se dos velhos ícones da violência ancestral da humanidade. E daí, impôs-se uma pesquisa apurada em busca de eufemismos para poder fazer passar a nossa ideia sobre esta questão de manifestações, manifestantes, estratégia do “governo” e projectos credíveis para o futuro.

O mais difícil foi fazer uma introdução consentânea com o nosso pensamento. Porque o problema é que há um responsável que toda a gente sabe quem é, isso há. Mas ninguém tem coragem de admitir e toda a gente se cala. As consequências, de resto, estão à vista. Falta de água, falta de energia, falta de seriedade, falta de vontade, falta de meios para o essencial, falta de categoria, sabedoria e bom-senso, a conjugar-se com excessivos alardes de vaidade, arrogância e poder monetário petrolífero.

Nestas manifestações de Março, tanto em Benguela como em Luanda, os manifestantes apresentaram-se como simples cidadãos, desarmados, numa tentativa de dar a conhecer os seus motivos de protesto. Com ou sem razão, é um direito que lhes assiste. E quando eles apareceram na rua, nos locais que tinham de antemão anunciado que apareceriam, a polícia agiu de acordo com ordens superiores.

Em Benguela temos um recalcitrante atropelador da Constituição, em Luanda temos outro. Não estamos em crer que essas repressões violentíssimas tenham sido cozinhadas no Futungo, nem no MPLA, as ordens, pensamos, vieram dos respectivos Governos Provinciais e, nomeadamente em Luanda, o senhor governador devia ser chamado à pedra para explicar o que se passou, a fim de ser responsabilizado.

É que as aqui analisadas manifestações apresentam-se aos olhos do mundo como uma nódoa negra, indelével, no já sobejamente maculado currículo político e humanista do regime JES/MPLA.

Estamos à espera de uma larga difusão no estrangeiro, que dará a conhecer, com clareza, a mentalidade retrógrada dos nossos dirigentes, o que em nada abona em favor do bom nome do país.

A atitude nos nossos governantes é uma manifestação de profunda indiferença, para não dizer de desprezo por todo e qualquer esforço feito em prol da verdadeira reconciliação nacional, por parte de membros da sociedade civil, por parte de políticos de boa-fé, intelectuais e outros activistas civis, que já há muito tempo conseguiram ler os sinais dos tempos e fazer um esforço no sentido de fomentar uma verdadeira democracia aberta e obediente aos princípios democráticos e à nossa lei constitucional

A gravidade da situação é de tal ordem que se questiona a competência política de gente que promove a violência por intermédio de “milícias” treinadas para a guerrilha urbana, num desfasamento total daquilo que são as tão apregoadas intenções de paz, reconciliação e abertura a todas as correntes de opinião por eles próprios pregadas.

Regime & TPA confirmaram ter esquadrões da morte

Foi uma manifestação muito pior para Angola do que se tivesse sido de simples protesto contra a política desfasada do Executivo, foi na realidade uma mostra do que se pode fazer de pior em política: violência, intolerância, seguida de uma ocupação total das antenas de Rádio e Televisão por parte dos arautos do regime, com uma lavagem de cérebro completa no JA, ao que acresceu o espaço de antenas dado a um agente da bófia, da Secreta, do SINFO, do SINSE, dos Tonton Macutes do regime, que se apresentou como não sendo ninguém, mas que iria revelar a sua identidade na próxima semana, ou mais tarde, dentro de quinze dias, um mês, talvez nunca.

Esse espécimen raro, disse que era um cidadão respeitável e que tinha sentido como sendo sua missão lutar contra todos aquele que se apresentassem contra JES e o MPLA. Ele tinha organizado de livre arbítrio uma oposição firme e imbatível a todos esses jovens que vinham para a rua só mandar bocas contra o governo. E que, não senhor, ele nada tinha a ver com o governo, nem com a polícia, nem com o MPLA, agia por sua conta própria e prometia que não haveria manifestação que passasse, enquanto ele estivesse vivo combateria todas, umas a seguir à outras.

Vinte minutos na Televisão Pública de Angola! Um órgão de todos os angolanos, a dar voz a um indivíduo que se vangloria do que fez depois de ter mostrado que tinha veia de verdadeiro assassino, a prometer que continuaria a agir com uma violência selvagem, para matar, contra gente de 16, 18, 20 anos, desarmada, gente culta, aprimorada, que decidira vir corajosamente a terreiro dizer o que os angolanos guardam dentro dos seus pensamentos há mais de trinta anos. Vivem mal, muito mal.

Esse muadié ocupou a antena da TPA durante uns bons 20 minutos, num desbaratar de tolices que bradam aos céus. Primeiro porque a TPA, neste miserável lance, apenas deu a palavra a uma pessoa que, bem vistas as coisas, confessou que havia um plano bélico, violentíssimo, de luta contra um acto legal, uma simples manifestação sem armas. Segundo, o homenzinho, atrofiado da tola, a certa altura saltou dos carris e começou a dar bandeira, que, estava à frente de uma organização civil, em defesa da “Pátria”,que tinham agido assim e que da próxima vez seria pior (vejam o que aconteceu ao Filomeno Vieira Lopes, Mata Frackus e Beirão e preparemos os óbitos)

O ridículo não mata
Em Benguela, temos três casos de prisão arbitrária, Hugo Kalumbo, Jesse Lufendo e David, os dois primeiros sendo membros da OMUNGA, com estatuto de observadores de Direitos Humanos da OUA, e David é um simples motoqueiro que passava por ali e foi arrastado pela polícia como se de meliante perigosíssimo se tratasse.

Os três “heróis” fabricados pelo desastroso regime JES/MPLA estão a ser julgados não se sabe bem porquê, talvez por não terem feito nada para impedir que uns cinquenta jovens pudessem manifestar-se contra o regime JES/MPLA. Começaram por ouvir as acusações que recaem sobre eles, ouviram-se as testemunhas e, pelo que se viu, nada pôde ser provado contra eles.

Branco Lima e Rosa Ndjepele, assessores jurídicos, respectivamente do comando provincial da polícia e do chefe do gabinete jurídico do Governo Provincial de Benguela, argumentaram sobre factos sem qualquer relevância com uma preciosa mas inútil ajuda de testemunhas formatadas.

Os arguidos estão a ser defendidos de forma brilhante pelo advogado David Mendes, que pediu e exigiu que a acusação arrolasse as provas nos autos e apresentasse um alegado ofendido, agente da Polícia, que havia sido ferido pelos arguidos. Como foi tudo forjado, o homem de ferido passou rapidamente a desaparecido, levando a supor que nenhum agente aceitou ferir-se em off, em nome de uma mentira institucional.

E assim vai a batota de uma justiça cada vez mais partidária. As contradições mais que visíveis apenas demonstraram que o governo provincial tem de promover e proteger o exercício dos direitos pelos cidadãos, exigindo um maior rigor na formação deste dois “peritos” governamentais.

O jovem David, motoqueiro e apanhado por coincidência na altura dos acontecimentos, deitou ao ridículo todos os argumentos arquitectados pela acusação. Tudo leva, portanto, a crer que os três“heróis” “made by MPLA” sairão amanhã livres do Tribunal provincial de Benguela.
Vamos ver…

Em Luanda, já dissemos, foi pancadaria da grossa, com a ameaça de que na próxima vez será pior, o que significa claramente que será mesmo para matar quem diga mal de JES ou da sua maneira de desgovernar.

Entretanto, o Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional disse que ia investigar, mas não fará investigação alguma. Ainda assim, passamos a citar o que disse o policial, na passagem que põe a nu o senso profundo da sua mensagem; «(…) Incidentes causados por indivíduos não identificados que envolveram-se em cenas de pancadaria com pessoas que pretendiam realizar uma manifestação "de carácter insultuoso" contra instituições do Estado Angolano…». O cinismo e a hipocrisia ao serviço da“Pátria”. Não cola! Têm de encontrar outra via para convencer a gente.

Resumindo e concluindo

É óbvio que esta situação não tem reviravolta e, no fundo, a melhor solução seria o executivo assumir que está errado, como referiu um comentador do Facebook, admitir que «errou feio e assim, quem sabe, nós o povão, achemos que estão a tentar redimir-se do erro. Não é preciso ser intelectual, jurista ou seja lá o que for para perceber que estão metidos em sarilhos; vê lá a palhaçada que aconteceu com o julgamento dos rapazes manifestantes em Benguela, foi ou está a ser uma autentica palhaçada e o mais triste é que pessoas que nós sabemos e conhecemos da sua competência com tal de ficar bem com o M ou executivo sei lá dão uma de ignorantes analfabetos (…) epá está a ser triste ver o estado das coisas, francamente depois de 2002 achei que estava aparecer uma luz no fundo do túnel no entanto não foi não apareceu luz nem porra nenhuma, desculpem-me a franqueza, o desabafo até eventual palavrão, é que estamos a ficar agastados mas muito agastados mesmo».

A estratégia dos nossos jovens

Não cremos que se possa pedir a estes jovens que pensem friamente, não é possível. Todos nós já tivemos 20 anos e temos que nos lembrar de como eram as enormidades que saíam das nossas bocas, os exageros cometidos e ressalvados, porque éramos de boa condição moral, os erros cometido. Tentemos denunciar esses erros.

Temos a dizer a estes jovens que a boa maneira de responder às provocações da polícia não é fazer como ela, optar pela violência. Há exemplos a seguir: Gandhi, Mandela, Luther King, e outros pacifistas por esse mundo fora que obtiveram vitórias memoráveis sem recorrer à força. A violência é a arma dos fracos.
É incrível.

Como é possível que responsáveis do governo, muitos deles respeitáveis, não vejam que estão a cometer erros sobre erros a macular o nome de Angola, a demolir as suas próprias reputações, a não verem que o seu reinado está a chegar ao fim nos termos que eles defendem com esta violência organizada, a não verem que foram ultrapassados e a manterem vivas as recordações da guerrilha, a não verem que eles são o passado, numa desesperada e vã tentativa de destruir o futuro de Angola.

Visto tudo o que aqui foi analisado, é evidente que este “governo”, dito Executivo, devia pedir imediatamente a sua demissão, face às repetidas violações da constituição e ao fracasso completo da sua política de intimidação. Mas, como este último ponto é impossível de concretizar, o Executivo devia pronunciar-se AMANHÃ, no sentido de criar condições de conciliação. A começar pelo reconhecimento das suas repetidas violações da Constituição. Não peçamos à juventude gestos de pacificação, esses têm de ser dados pelos nossos dirigentes.

Tempo do Jornal da Noite no canal 2. 10.03.12

Madalena Correia ganhou uma corrida, Isabel Joaquim ed cetera e tal, e Luanda repousa, sossegada, na doçura duma noite tropical. Não se passou nada, absolutamente nada de relevante nesta tarde na cidade capital.
Nem em Benguela.

Silêncio tumular sobre as manifestações.



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