sexta-feira, 23 de março de 2012

A nossa «casa» da UNITA - Sousa Jamba


Luanda - De todas as dissidências que a UNITA conheceu, a de Abel Epalanga Chivukuvuku deve ser, sem dúvida, a mais significante. Mas, isto não significa, de maneira nenhuma, que o partido se vai desfazer.

Fonte: SA Club-k.net
O que é significante é que Abel Chivukuvuku foi um verdadeiro «insider» - um filho da UNITA que pertencia à elite das elites da sua liderança; que tinha credenciais de guerra impecáveis; e cuja fidelidade ao partido não vacilou em momentos muitos difíceis.

O discurso de Abel Chivukuvuku difere dos outros dissidentes da UNITA, por não ter aquele tom penitente de quem se arrependeu profundamente. Chivukuvuku, graciosamente, agradece aos seus antigos colegas no Galo Negro, dos quais, ele reconhece, ele aprendeu muito.

Nas próximas semanas, iremos ouvir atentamente qual é, afinal, o programa da Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA). Uma das anomalias da política angolana é o entrelaçamento dos laços familiares com as opções políticas. Devo dizer já que tenho laços de parentesco muito fortes com o (sim, sim) Mano Abel, assim como, também, com o nosso «Mais Velho» Samakuva. Admiro muito o Mano Abel, que conheço desde que eu engatinhava, pela sua curiosidade intelectual e interesse pelas ideias. Em outras situações, Abel Chivukuvuku seria um académico par excellence.

Em Kinshasa, onde foi por muitos anos o homem forte da inteligência da UNITA, ele tinha uma colecção de todo o tipo de música que sempre me impressionava. Admiro, também, de como, não obstante as várias tragédias na sua família - perca de dois irmãos e uma irmã que conheci muito bem - ele está sempre cheio de entusiasmo.

O irmão mais velho de Abel Chivukuvuku, o Mano Samuel, é um herói da UNITA que tombou em combate; admiro a forma como o Mano Abel não invocava a memória do seu irmão mais velho para reforçar a sua posição dentro da UNITA.

O Mano Abel diz que teve que abandonar a UNITA porque já não tinha opções para permanecer no partido. Terá sido mesmo o caso? Do meu canto, tenho o sentimento de que o falhanço se baseia ainda na nossa falta de experiência com a democracia. No espírito de «winner-takes-all», não terá surgido, na UNITA, um clima de falta de confiança que foi se perpetuando?

Houve mesmo um tempo em que a UNITA, como partido, parece ter perdido uma noção dos seus objectivos. Na liderança do partido, parece ter havido secções que estavam mais interessadas em informar a imprensa sobre as supostas fraquezas do presidente Samakuva.

As reuniões sobre as desavenças internas passaram a fazer manchete e não os encontros em que a UNITA terá traçado estratégias para surgir como uma alternativa viável ao governo actual. Houve episódios vergonhosos em que certos líderes organizaram a gravação
secreta de reuniões restritas.

Essas gravações apareceram, até, no Facebook. Pretendia-se promover a noção de que o senhor Isaías Samakuva, presidente da UNITA, estava completamente atrapalhado. No sistema poíitico britânico, fala-se do «collective responsibility » ou a «responsabilidade colectiva », em que decisões tomadas por um órgão partidário merecem, automaticamente, a bênção de todos os seus membros. Isto estava a faltar na UNITA: para uns, Isaías Samakuva tinha-se tornado no alvo principal dos seus ataques.

Ouvimos, até, supostos líderes do Galo Negro a predizerem que, nas próximas eleições, o partido teria menos assentos do que o PRS. Muitos dos argumentos dos críticos de algumas estruturas da UNITA tinham uma certa validez.

A falta de claridade a que se tinha votado a questão dos limites aos mandatos à presidência do partido foi infeliz. A vantagem da incumbência faz com que quem controla a máquina partidária esteja sempre em vantagem. O processo de escolha dos delegados provinciais, que votam para o líder, favorece, sempre, quem estiver à testa do partido. O maltrato que os apoiantes de Abel Chivukuvuku sofreram depois da sua derrota na disputa contra Samakuva foi, também, algo lamentável. Mas isto tudo faz parte de um processo de aprendizagem; o debate sobre a democratização da UNITA deveria ser um assunto puramente interno.

Em 2003, foi Abel Chivukuvuku que insistiu, a muitos de nós, que Isaías Samakuva, que ele conhecia muito bem, seria o presidente ideal da UNITA. Muitos de nós continuamos a manter esta noção. Para mim, Isaías Samakuva merece, ainda, todo o meu apoio por três razoes. Primeiro, porque ele conseguiu manter o partido intacto. Em 2003, a UNITA era, de certa forma, retalhos de tendências.
Havia, no partido, uma secção que era fortemente oposta à glorificação da memória do Dr.Savimbi. (Um bom exemplo disto é a carta que Bela Malaquias escreveu ao senhor Lukamba Gato). Havia, na UNITA, quadros que se sentiam altamente desmoralizados.

Os outros andavam profundamente deprimidos por se ter perdido a guerra. Nos últimos anos, Samakuva, sempre naquele espírito conciliador, conseguiu unir as pessoas. Isto estava mais do que claro no último congresso da UNITA, em Dezembro do ano passado.

Isaías Samakuva não é um autocrata. Pode-se citar exemplos de casos de intolerância nas várias disputas da UNITA, mas estes são mesmo casos isolados. Em geral, não há assuntos na UNITA que sejam tabus. Durante o último congresso do Galo Negro, por exemplo, tive conversas com vários jovens que estão a manter as estruturas do partido em diferentes partes da nação. Algo na UNITA que tem sido debatido avidamente é a razão que estará por detrás da derrota nas eleições legislativas de 2008. Há quem diga que houve fraude, mas também falhas por parte do partido. Por outras palavras, a fraude não é a única variável que os quadros da UNITA vão considerando, ao analisar as eleições de 2008.

Há, também, a questão da expansão do partido. Um partido que pretende servir a nação angolana tem que reflectir a complexidade e diversidade dessa mesma nação. Há, hoje, figuras na liderança da UNITA com raízes sociológicas diferentes. No último congresso da UNITA, celebrou-se os coros do norte de Angola, assim como as danças do leste do país.

Talvez a demarcação do senhor Abel Chivukuvuku e dos seus seguidores da UNITA possa resultar num clima em que todos se unam no apoio a Isaías Samakuva, na preparação do partido para as próximas eleições. Poderá haver outras figuras da UNITA que irão, também, demarcar-se do partido; todos teremos que estar conscientes de que um dos aspectos da democracia é mesmo as pessoas terem as suas opções.

Para muito de nós, a «casa» da UNITA, liderada por Isaías Samakuva, contém muitos compartimentos - iremos convidar mais gente para a grande caminhada que nos possibilitará ser a alternativa ao poder actual.


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