sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Caso não sejam estancadas a tempo. Crises sociais podem originar actos de xenofobia no país


- Aponta uma pesquisa social que resultou num livro lançado na segunda-feira desta semana em Maputo, na qual se aponta também que os estrangeiros consideram os moçambicanos de preguiçosos e com trabalho menos satisfatório.

Maputo (Canalmoz) – As crises sociais que assolam o país, de alguns tempos a esta parte, podem originar actos xenófobos, caso o Governo e a sociedade não encontrem atempadamente medidas para assegurar um ambiente de paz, harmonia e entendimento mútuo entre estrangeiros e nativos moçambicanos, conclui uma pesquisa denominada “A Construção Social do Outro – perspectivas cruzadas sobre estrangeiros e moçambicanos”.

A obra que procura sinais de existência de xenofobismo em Moçambique é do sociólogo moçambicano Carlos Serra e outros sete pesquisadores. As pesquisas foram realizadas em cinco cidades moçambicanas, nomeadamente Maputo, Matola, Beira, Nampula e Pemba, tendo como enfoque os violentos ataques xenófobos havidos na África de Sul em 2008.
Os pesquisadores atento, por um lado, aos ataques xenófobos da África de Sul e, por outro, às crises socais que vêm ocorrendo em Moçambique mostram-se preocupados a ponto de chamar atenção para que os estereótipos existentes entre moçambicanos e estrangeiros não resultem em xenofobia activa.

Os pesquisadores que apontam vários exemplos que podem concorrer para o surgimento de xenofobia, consideram preocupante o facto de em Moçambique a pobreza não estar a diminuir e registar-se, inclusivamente, um aumento em muitas áreas urbanas. Ademais, “a existência de bons carros e casas extravagantes ilustra o enriquecimento de uma elite”, porém “os muitos utentes dos “chapas” que tem custos reais cada vez mais altos, continuam sem benefícios”.

“Enquanto se alarga o fosso entre ricos e pobres e enquanto os estrangeiros nas grandes cidades são associados à riqueza e ao bem-estar, os ataques que se desenvolvem visando os estados ou as populações privilegiadas podem tornar-se xenófobos”, aponta a obra.

Ainda de acordo com pesquisadores, os questionários da “A Construção social o Outro” têm o “mérito de demonstrar as contraditórias imagens construídas sobre os estrangeiros”. Por exemplo, apesar de os moçambicanos concordarem que “os estrangeiros criam empregos, constroem fábricas e ajudam a desenvolver o país, também concordam que os estrangeiros exploram Moçambique e trabalham menos que os nacionais”.

“Os estrangeiros são, muitas vezes, acusados de usar meios misteriosos e ilícitos de enriquecimento, incluindo o comércio de drogas ou pedras semi-preciosas, usando a magia e bruxaria para ganhar vantagens”, documenta-se na mesma obra que acrescenta que em resposta a esses “desaforos” os estrangeiros acusam os moçambicanos de preguiçosos: “não trabalham, de forma tão árdua e que a qualidade de seu trabalho é menos satisfatório”. (Inocêncio Albino)

2010-09-02 14:05:00

Imagem: http://noticias.sapo.mz/info/artigo/1089633.html

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