(a
Patrícia Martinelli)
Você está triste
desconsolada
inconfortável
Não encontro mais
os silêncios
dos seus enigmas
olhares
Você está de futuro
amuado
Você está a navegar
longe do mar
na secura do tempo
e do encontrar
olhar
Decerto anseia
medicina para todos os momentos
e estações anuais
sem vendavais
O seu viver está repleto
de sonhos sazonais
Parece tudo composto e ansioso por ventanias, tempestades tão humanas agressivas, de desumanas. E o amor tão fabricado, tão desusado, tão materializado, como os climas, alterado. Como a inconstante perseguição dos gatunos nas ruas feridas, porque já não existe mais pão. Todos finalmente caminhamos para o vão. E nas noites as feras humanas descem dos seus escuros covis e soltam-se, acolhem-se nas iluminadas ruas para resgatarem o que lhes espoliaram. Já não há cidades, agora são agências bancárias e funerárias.
Mas a candura da juventude permanece imutável na entrega, nos encantos da escravidão e dos destinos do amor. E sempre nos esperam íngremes escadarias e portas fechadas no mistério do além das fechaduras. Tanto ruído inventado, inusitado apenas para que os nossos corações desfaleçam no sem tempo da amizade, esta coisa tão descartável. E a vozearia humana que na altitude da amplitude ultrapassa as mais altas montanhas. Fazer ruído também é negócio.
E tantos milhões de pessoas que caminham procurando não sabem o quê. E por ali se ficam na prostração do viverem para consumirem toneladas de sedativos. E as crianças ininterruptamente a chorarem porque as suas mães se esgotaram indefensáveis, na inércia, sem as consolarem.
O nosso pensamento é frequentemente assediado pela mensagem de que é necessário conseguir algo para comer, e prosseguirmos conforme a grande explosão do bigue-bangue. Nascemos de uma explosão, daí o nosso carácter agressivo, bélico.
Continuo na procura incessante por entre incontáveis religiões, qual é a que nos serve, que nos poderá dar alguma utilidade. Mas não sinto alguma diferença entre elas e qualquer ditadura, mas contudo deslumbro-me no encontro com o divino Deus. Ambas têm os mesmos afundamentos e contrições, e o abismo para onde pretendem conduzir-nos já há muito se escavou pela inclemência humana.
Deixa-te cercar pelo verde, ama intensamente as plantas, oferece-lhes a tua melhor amizade. Venera os rios, os mares, as montanhas, as águias, os falcões, e as outras famílias. Deixa-te acariciar pelo orvalho do anoitecer e do amanhecer. Deixa que a chuva escorra pelo teu corpo, sente-te como cascata chuvosa a percorrer os sulcos medianos das folhas em apoteose. Se desejas atingir a plenitude da liberdade, estende a tua alma ao esplendor da libertação da tua natureza e da Natureza.
É este apenas o amor que ainda te resta. Que a tua luta nunca seja uma batalha perdida.
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