sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Maputo e Matola a ferro e fogo




Maputo (Canalmoz) - Maputo e Matola viveram ontem um dia de enorme agitação e todas as actividades económicas e sociais estiveram paralisadas. Ao meio do dia a situação era terrível, sobretudo na periferia da capital do país. À tarde as coisas abrandaram mas não terminaram. Até altas horas da noite ainda havia disparos e distúrbios nos arredores de Maputo e dentro da cidade da Matola.
No início da manhã ainda se podia circular embora já se fizesse sentir grande agitação, mas por volta das 08h as vias que dão acesso à capital e cidade da Matola começaram a ser literalmente fechadas por manifestantes que protestavam contra o custo de vida e os aumentos dos preços de pão, água e energia. Os manifestantes usaram pneus a que atearam fogo e colocaram obstáculos nas vias para impedir os que insistiam em colocarem-se à margem dos protestos.
Cerca das 09 horas já não se podia entrar ou sair do Grande Maputo.
As vias que dão acesso ao norte do País e aos países vizinhos foram barricadas pelos manifestantes que usavam ainda pedras para arremessar a quem se atrevesse a violar o bloqueio. A Polícia respondeu violentamente usando balas reais e cedo começaram a surgir os primeiros relatos de feridos graves e até de mortos.
Devido à reacção da Polícia que interveio com força, os manifestantes, que aparentemente agiam por toda a parte sem aparente liderança mas apenas impedindo a circulação rodoviária, começaram a assaltar e pilhar estabelecimentos comerciais.
A ira popular foi crescendo e até ao fecho desta edição não havia quem garantisse que as manifestações se ficariam pelo dia de ontem. Corriam de novo sms’s anónimas a apelar para a continuidade dos protestos até sexta-feira, três dias portanto.
O governo queixava-se de que não sabia com quem dialogar e na sua primeira aparição, já por volta das 14 horas, através do ministro do Interior, José Pacheco classificou os manifestantes de bandidos, acirrando a ira da população que sempre viveu com grandes dificuldades mas que ultimamente está a ficar sem qualquer hipótese de sobrevivência.
Muita gente foi morta e ferida. Não há ainda um balanço oficial mas estimava-se em vários círculos que os mortos iam para além de uma dezena e os feridos para cima de meia centena.
Muitas lojas e grandes estabelecimentos comerciais grossistas foram assaltados. Diversos tipos de mercadorias foram levadas por gente que se podia ver que se tratava de cidadãos completamente desesperados com a condição de vida a que estão sujeitos.

Várias viaturas particulares e de transportes semi-colectivos de passageiros foram atingidos pelos populares, pois os insurgentes não distinguiam os alvos sobre os quais faziam recair a sua fúria.
Nas diferentes artérias de Maputo foram usados contentores de lixo, pedregulhos, troncos, secções de condutas de água e saneamento, enfim tudo o que pudesse constituir obstáculo para paralisar a capital e arredores. Foram arrastados para as estradas pneus que incendiados impediam o trânsito de viaturas. Quem a qualquer custo tentava chegar aos seus postos de trabalho foi apedrejado.
Para piorar o ambiente, uma Polícia agressiva e arrogante entrou em acção supostamente para conter os ânimos mas acabou por agravar a situação. No lugar de repor a ordem, vendo que não conseguia conter os protestos, pôs-se a disparar balas reais para tudo quanto é canto atingindo na maior parte dos casos pessoas que nem se quer estavam a participar dos tumultos, apenas andavam de regresso aos seus domicílios.
Foram mortas a tiro crianças. Na Av. Acordos de Lusaka, a principal via para o Aeroporto Internacional de Maputo uma criança de 13 anos foi morta por uma bala real na cabeça. Uma outra foi ferida. Nesta mesma avenida, à tarde um senhor foi baleado, pois a Polícia confundiu-o com manifestantes.
Foi usado, em alguns casos, gás lacrimogéneo contra gente inocente.
Na Praça dos Combatentes também houve crianças feridas a tiro.
Uma dependência do Millennium-bim foi assaltada.

Matola
Na Matola, o ambiente foi o mesmo. No bairro de Infulene, a Polícia pôs-se a disparar e a arremessar gás lacrimogéneo indiscriminadamente. Houve quem até em casa foi perturbado pelo gás lacrimogéneo. Um jovem que se dirigiu à Polícia para pedir socorro por ter sido afectado pelo gás, foi recebido com bofetadas, alegadamente porque fazia parte dos agitadores. A Polícia a certa altura deu mostras de estar desnorteada. De tal forma que não sabia ver quem simplesmente estava a transitar de um lugar para o outro e quem realmente estava envolvido nos protestos.
Ainda em Infulene, um jovem foi alvejado a tiro pela Polícia. A gasolineira (BP), que funciona junto à empresa Cervejas de Moçambique, foi também incendiada. A loja de conveniência foi esvaziada.
No bairro Zona Verde, a desordem durou quase toda a manhã. A Polícia a certa altura ficou sem gás lacrimogéneo. Face à adesão da população começou a disparar com balas reais. A dado momento, os cidadãos cercaram o carro da Polícia e partiram faróis frontais e traseiros da viatura com a matrícula PRM-00355. Neste bairro, assim como no de T3, houve também saques em estabelecimentos comerciais e contentores.(Emildo Sambo, António Frades, Redacção)

2010-09-02 14:09:30

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