Luanda - Em Angola, tudo anda invertido. O País está destruído não só fisicamente, mas sobretudo mentalmente. Para melhor subjugar os povos de Angola, o MPLA - que usurpou o poder em 1975, ao violar os Acordos de Alvor com a ajuda das forças comunistas coligadas encabeçadas pela coligação russo-cubana - destruiu profundamente as suas culturas e tradições. Destruiu as suas línguas, os seus nomes, usos e costumes e inventou o que chama por “autoridades tradicionais”.
Fonte: Angolense Club-k.net
Criou reinos. Sem medo de errar, Angola é hoje o país com a maior quantidade de reinos no Mundo. Todas as ruas, aldeias e todos os bairros das cidades viraram reinos ou sobados. Reinos que, na sua maioria, são sem territórios e sem poderes.
A propósito, falemos um pouco da proliferação dos reinos em Angola. Primeiro, questiona-se a relação que se deve estabelecer entre a República de Angola e os diversos “Reinos” inventados neste país.
Sabe-se que um reino é superior à uma república. Entre os “reis” inventados em Angola e o Presidente da República, quem é o superior?
É sabido que um Reino é mono-étnico ou é composto apenas de uma etnia. Só uma etnia é que compõe um Reino e não uma Tribo nem tão pouco um clã.
E uma etnia só pode ter um chefe máximo. No caso preciso da etnia Kikongo, o seu chefe máximo chama-se Ntotela – que se pode comparar a um Rei, Imperador, Farao, etc.
Ntotela-a-Kongo é o Rei ou Imperador do Reino ou Império do Kongo. O Wene wa Kongo. Este é o chefe máximo de todos os bakongo do Mundo.
Hoje – com a política de dividir para bem dominar – o MPLA fragmentou os Reinos e Impérios antigos. O Reino/Império do Kongo foi subdividos em reino do Kimbele, Soyo, Nzeto, Tomboko, Kuimba, Noki, Makela, Damba, Bembe, etc. Cada município virou reino.
Felicita-se o Príncipe do Ndembo (Dembos) que nunca aceitou ser bombardeado com o titulo de “rei” a maneira do MPLA. Mantem e reconhece a sua categoria de Príncipe do Reino/Imperio do Kongo.
O mesmo acontece com outras etnias que foram fragmentadas em reinos. Reino da Baixa de Cassange, do Cazombo, das Lunda, do Bailundo, etc.
Todos os novos reis, regentes, sobas, sobas-grandes e regedores são nomeados administrativamente por despachos ou por decretos presidenciais.
Os reis são escolhidos e nomeados com decretos a bel-prazer do MPLA. Contrariamente às culturas bantu em que as autoridades costumeiras ou chefes costumeiros são herdeiros dos poderes ancestrais de clãs ou linhagens. Os governantes e administradores, muitos destes filhos das terras, são usados para concretizar a vontade do referido Partido politico (MPLA) para destruir os poderes ancestrais dos povos.
São os Governadores das Províncias e Administradores dos Municípios e Comunas que nomeiam seus parentes, amigos ou militantes do seu Partido (MPLA) como “Reis”, sobas ou regedores. Os títulos de Soba, Soba-grande e Regedor são de invenção colonial portuguesa. Eles não fazem parte do poder bantu. Os bantu nunca tiveram sobas, sobas-grandes e regedores, como suas autoridades costumeiras.
Os bantu tiveram sempre chefes costumeiros como Mfumu-a-Zunga, Mfumu-a-Belo, o que se pode traduzir em língua Portuguesa por Chefe da região, Chefe da Zona, Mfumu-a-Vata (chefe da aldeia), Mfumu-a-Kanda (chefe da Tribo ou do clã). E o Ntotela (Rei ou Imperador), no caso do Reino/Império do Kongo.
Insiste-se em falar do Reino ou Imperio do Kongo, porque os Bakongo chamam-no por Wene wa Kongo ou Kimfumu kia Kongo. E tendo em conta a sua importância e a extensão do seu território – vai de Angola ao sul do Gabão – pensa-se que só pode ser um Império, em vez de um Reino. Esta é matéria para os historiadores, sociólogos, antropólogos e políticos. As autoridades costumeiras herdam os poderes ancestrais, que são de linhagem e sangue. Em caso de morte, a sucessão é automática por via de sangue, de clã ou de linhagem.
Os chefes costumeiros são entronizados pelos outros (chefes) já investidos com estes poderes, segundo os ritos tradicionais de cada região, tribo ou clã. Numa são empossados administrativamente, como acontece hoje.
Os chefes costumeiros bantu não eram assalariados, nem usavam uniformes nem patentes tipo cipaios, policias ou militares, como acontece com as chamadas autoridades tradicionais actuais.
Os chefes costumeiros vestiam peles de onça, usavam colares de dentes e unhas de onça ou leopardo, colares sem aberturas de cobre, diamante, ouro ou marfim nos braços e nos pés e chapéu ornado também com dentes e unhas destes felinos (Onça ou Leopardo). Tudo isto era de fabrico artesanal.
Os chefes costumeiros eram pais de todos os habitantes sob a sua responsabilidade. Como bons chefes, não excluíam nem hostilizavam ninguém. Mesmo os filhos criminosos e malandros eram reeducados e reintegrados na sociedade. Pois, “Lau, lau kiaku” (malandro, malandro seu) – diz a sabedoria kikongo.
Os chefes costumeiros colocavam-se acima das disputas dos diferentes grupos tribais ou clânicos das comunidades que dirigiam. Eram neutros, imparciais e justos. “A kundi a diambu, k’akundi a muntu ko” (Eram justos e imparciais).
Como os povos são subdivididos em categorias de Nobreza e Plebe – uns têm sangue nobre e outros não -, o MPLA parece ter estudado bem esta situação e inverteu a hierarquia, nomeando para “autoridades tradicionais” as pessoas desta segunda classe.
Para ser mais claro, muitas pessoas feitas hoje “autoridades tradicionais” pelo MPLA são “antigos” escravos, em língua Kikongo “Mim’bundu, M’bundu”.
Para melhor dividir os povos, o MPLA atribui poderes aos plebeus, com vista a opô-los aos chefes costumeiros verdadeiros e aos seus donos. São, na sua maioria, as actuais autoridades tradicionais que pululam em quase todos os cantos de Angola.
Muitos destes sobas e regedores da nova geração são de origens desconhecidas nas aldeias onde vivem, são membros efectivos do MPLA e ao mesmo tempo agentes do SINFO/SINSE (órgão de segurança do regime).
É assim que os verdadeiros reis de sangue e linhagem foram substituídos pelo MPLA em Mbanza-Kongo, no Bailundo, na Lunda (Imperador) com Muatsisengue e “rei” Lunda falsos, no Soyo, etc.
As cortes reais estão infestadas de intrusos indicados pelo Partido no poder. No Bailundo, o verdadeiro Rei foi afastado por ter acompanhado a UNITA no maquis e substituído por um desconhecido. O rei verdadeiro morreu e – por ordem do MPLA - não tieve direito às cerimónias reais nem a ser enterrado no Cemitério real.
Angola assistiu recentemente a uma cena caricata. Faleceu um mais-velho que em vida se chamava Katchopololo a quem o MPLA atribuiu o titulo de “rei” do Bailundo.
Em vida, o mesmo foi nomeado ao mesmo tempo “rei” do Bailundo, membro do Comité Central do MPLA e Deputado à Assembleia Nacional pela bancada do referido partido politico.
Em sua memoria, foram realizadas cerimonias fúnebres oficiais, não se sabendo a que titulo. É difícil entender que uma autoridade costumeira do nível de “rei”, pode aceitar ser abertamente dirigente de um Partido politico e Deputado. Que imparcialidade e neutralidade podia ter esta “autoridade tradicional” diante das formações politicas do País e das comunidades que dirigia?
Nas suas condições, o velho Katchopololo garantiria a justeza, transparência e credibilidade do processo eleitoral no seu Reino?
O falecido Katchopololo era um exemplo da promiscuidade politica que se vive em Angola. Outros exemplos da intolerância politica em Angola foram os casos nomeadamente do Regente Almeida, do Reino do Kongo e do Ne Soyo, Mpaka Mbele e seu filho.
O Regente Almeida, do Reino do Kongo, morreu em Luanda de doença misteriosa (há quem diz que foi envenenado). Em vida era ostracizado pelo MPLA por um lado, ter aceitado uma viatura que o Presidente da UNITA, Jonas Savimbi, lhe havia oferecido aquando da visita deste a cidade de Mbanza-Kongo e, por outro lado, ter ido ao Bailundo assistir o Congresso Do Galo negro.
Em Mbanza Kongo, Savimbi encontrou o Regente do Rei do Kongo a andar a pé e ofereceu-lhe uma viatura. O MPLA não gostou do gesto e ele também ofereceu uma viatura ao substituto natural do Rei do Kongo, em caso de vacatura no trono.
Como o que abunda prejudica, o Regente deu ao seu filho a viatura que o MPLA lhe ofereceu. Os camaradas consideraram-se ter sido desprezados pelo Regente e isto foi suficiente para exclui-lo e persegui-lo ate à morte.
O mesmo aconteceu com o Ne Soyo, o chefe costumeiro da Área do Soyo, o falecido Mpaka Mbele e um filho deste.
Quando visitou a vila do Soyo em 1992, Jonas Savimbi que encontrou o Ne Soyo a andar a peh ofereceu-lhe uma viatura. A noticia enfureceu o MPLA que também ofereceu uma viatura ao Ne Soyo.
Este deu a viatura proveniente do MPLA a um filho seu. Com este gesto, o Ne Soyo e o seu filho foram mortos durante as escaramuças pós-eleitorais de 1992.
Voltando às “autoridades tradicionais” indicadas e nomeadas pelo MPLA, novo patrão destes, pois é o que lhes paga os salários mensais e concedem outras regalias como ofertas de bicicletas, motorizadas, antenas parabólicas (que só apanham as televisões “publicas”), estas ( autoridades tradicionais) são as pontas de lança de intolerância politica nos seus respectivos territórios. Elas vedam o acesso nos seus territórios aos partidos políticos da oposição e mesmo a pessoas singulares que não dançam a musica do MPLA.
Para as referidas autoridades tradicionais, as palavras democracia, multipartidarismo, tolerância política, são inexistentes.
Os sobas e regedores constituem-se em verdadeiras barreiras intransponíveis pela democracia em Angola, subvertem a lei, impedem a presença dos partidos da oposição nas suas aldeias ou circunscrições e mandam destruir ou destroem elas-proprias os seus símbolos nomeadamente sedes e bandeiras (da oposição).
Os sobas impedem ou inviabilizam a realização das actividades políticas da oposição, como reuniões e comícios nas suas áreas.
Rejeitam os pedidos de cumprimentos de cortesia feitos por lideres políticos da oposição em visitas nas suas áreas, evitando qualquer encontro com estes.
Os raros e corajosos sobas e regedores que recebem os líderes políticos da oposição são alvos de perseguição por parte das autoridades administrativas locais.
Apesar desta perseguição, algumas autoridades tradicionais identificam-se abertamente como membros de partidos da oposição.
Estes sobas da oposição vivem numa exclusão social e política, são pobres e sem consideração e desprovidos de poder real junto das administrações locais e de membros do MPLA.
No que diz respeito aos Processo eleitorais que decorre no país, os sobas e regedores também fazem os registos de eleitores a maneira deles, excluindo as pessoas com outra simpatia política.
Durante as eleições de 2008, os sobas intimidavam os eleitores mentindo-os que nas cabines de voto havia aparelhos que filmavam tudo. Quem não vota no MPLA será detectado e sofrera consequências como expulsão da aldeia ou perca de emprego.
As autoridades tradicionais orientavam os eleitores a votarem no MPLA. Chegavam mesmo a pegar nos dedos dos eleitores analfabetos e colocados no espaço reservado ao Partido no poder no boletim de voto.
Sem duvida, em Angola os sobas e regedores são verdadeiros empecilhos à democracia e realização de eleições justas, livres, transparentes e credíveis. São os executores das fraudes eleitorais arquitectadas nos laboratórios do MPLA.
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