Três
cidadãos, acusados de roubar 52 sacos vazios de 50 quilogramas cada, foram
vítimas de ofensas corporais, com recurso a cassetetes, protagonizadas pelos
agentes da empresa privada denominada Moz Security, supostamente a mando do
director de segurança interna da Companhia Industrial da Matola (CIM), Gustavo
Cruz, no município da Matola.
Os
factos remontam a 04 de Fevereiro em curso, altura em que os sacos em causa
foram retirados de um armazém de sêmea e escondidos numa viatura da firma Alfa
Comércio, conduzida por um dos jovens violentados, identificado pelo nome de
Lino Mondlane, de 21 anos de idade. Este narrou ao @Verdade que em consequência
da tortura a que foi sujeita sofre de dores intensas nos membros inferiores e
os seus movimentos são, agora, limitados. Os seus colegas queixam-se, também,
do mesmo problema.
Alguns
trabalhadores da CIM, entrevistados pela nossa Reportagem, explicaram que os
sacos foram introduzidos no veículo da Alfa Comércio, que presta serviços à
mesma companhia, por um dos seus colegas, o qual posteriormente se pôs em fuga
por temer ser responsabilizado pelos seus actos que quase custaram a vida de
gente aparentemente inocente.
Os
supostos ladrões foram encaminhados ao gabinete de Gustavo Cruz, interrogados e
forçados a confessar o crime de que eram indiciados. Perante tal pressão, um
dos integrantes do grupo, que por sinal é igualmente funcionário da CIM,
identificado pelo nome de Helton Nhancula, de 19 anos de idade, assumiu que se
apoderou de apenas dois sacos, os restantes teriam sido roubados pelo outro
colega que se encontrava em parte incerta.
Lino
Mondlane e o seu ajudante Santos Cândido, de 54 anos de idade, insistiram
dizendo que desconheciam completamente o crime de que eram acusados.
Entretanto, o jovem admitiu que um trabalhador da CIM procurou por ele com mo
intuito de lhe vender sacos vazios caso estivesse interessado, mas não houve
nenhum negócio entre ambos.
Ainda
assim, Gustavo Cruz, insatisfeito com o argumento dos acusados e por acreditar,
cegamente, na ideia de que estava diante de pessoas que prejudicaram a sua
empresa, ordenou que Helton Nhancula, Santos Cândido e Lino Mondlane fossem
algemados e brutalmente torturados. Para além de cassetetes, os guardas
pontapearam as vítimas e desferiram golpes contra eles com recurso a uma arma
de fogo do tipo pistola. Na altura, havia cães nas proximidades cuja missão era
garantir que ninguém iria fugir.
No
acto da agressão, os agentes de segurança estavam a ser filmados pelo
supervisor da Associação dos Estivadores da firma em alusão, de nome Gerson
Nhancula, de 22 anos de idade, o qual, chocado com o que presenciou, se dirigiu
ao responsável de segurança interna na CIM para manifestar a sua indignação e
tentar fazer-lhe entender que aquele não era a forma correcta de resolver
problemas, mesmo se houvesse provas concretas do tal roubo. Naquele momento,
Gustavo Cruz teve acesso ao vídeo tendo-o destruído.
Depois
da tortura, os acusados foram encaminhados à esquadra do bairro Língamo, na
Matola, onde ficaram detidos durante três dias sem, no entanto, receberem
nenhuma assistência médica. O director de segurança interna da CIM fez-se
àquela unidade da Polícia para oficializar a denúncia e desmentir que teria
torturado os três cidadãos.
Estranhamente,
outro supervisor daquela companhia, solidário com as vítimas e interessado em
repor a justiça, para além de um vídeo, mostrou aos agentes da Lei e Ordem as
fotos por ele tiradas no momento da agressão. Contudo, isso em nada adiantou e
Gustavo Cruz não foi responsabilizado pela violência barbaramente perpetrada
contra Helton Nhancula, Santos Cândido e Lino Mondlane.
O
ajudante de Lino Mondlane disse que não entende a razão pela qual foi agredido
fisicamente porque não houve nenhum indício que o incriminasse nem aos seus
colegas. “Quando os sacos foram roubados nós estávamos a efectuar carregamentos
de produtos noutro pavilhão, mas, infelizmente, fui espancado sem culpa nenhuma
e ninguém irá pagar por isso. A justiça neste país não é para todos”, disse
Santos Cândido, lacrimejando.
Em
contacto com o @Verdade, Gustavo Cruz, negou ter dado ordens aos seguranças da
sua empresa para maltratarem os cidadãos a que nos referimos. Ele admitiu
apenas que mandou pressioná-los com vista a assumirem o roubo. “Eles (os
guardas) é que entenderam que deviam agir daquela maneira.”
Num
outro desenvolvimento, Gustavo Cruz afirmou que os seguranças da CIM recorrem
excessivamente à força para coagir as pessoas acusadas de certos crimes a
confessá-los. É que naquela companhia há alegadamente funcionários com o hábito
de roubar e a maior parte delas acaba nas malhas da Polícia.
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