sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Director de segurança da Companhia Industrial da Matola manda torturar trabalhadores



Três cidadãos, acusados de roubar 52 sacos vazios de 50 quilogramas cada, foram vítimas de ofensas corporais, com recurso a cassetetes, protagonizadas pelos agentes da empresa privada denominada Moz Security, supostamente a mando do director de segurança interna da Companhia Industrial da Matola (CIM), Gustavo Cruz, no município da Matola.
Os factos remontam a 04 de Fevereiro em curso, altura em que os sacos em causa foram retirados de um armazém de sêmea e escondidos numa viatura da firma Alfa Comércio, conduzida por um dos jovens violentados, identificado pelo nome de Lino Mondlane, de 21 anos de idade. Este narrou ao @Verdade que em consequência da tortura a que foi sujeita sofre de dores intensas nos membros inferiores e os seus movimentos são, agora, limitados. Os seus colegas queixam-se, também, do mesmo problema.
Alguns trabalhadores da CIM, entrevistados pela nossa Reportagem, explicaram que os sacos foram introduzidos no veículo da Alfa Comércio, que presta serviços à mesma companhia, por um dos seus colegas, o qual posteriormente se pôs em fuga por temer ser responsabilizado pelos seus actos que quase custaram a vida de gente aparentemente inocente.
Os supostos ladrões foram encaminhados ao gabinete de Gustavo Cruz, interrogados e forçados a confessar o crime de que eram indiciados. Perante tal pressão, um dos integrantes do grupo, que por sinal é igualmente funcionário da CIM, identificado pelo nome de Helton Nhancula, de 19 anos de idade, assumiu que se apoderou de apenas dois sacos, os restantes teriam sido roubados pelo outro colega que se encontrava em parte incerta.
Lino Mondlane e o seu ajudante Santos Cândido, de 54 anos de idade, insistiram dizendo que desconheciam completamente o crime de que eram acusados. Entretanto, o jovem admitiu que um trabalhador da CIM procurou por ele com mo intuito de lhe vender sacos vazios caso estivesse interessado, mas não houve nenhum negócio entre ambos.
Ainda assim, Gustavo Cruz, insatisfeito com o argumento dos acusados e por acreditar, cegamente, na ideia de que estava diante de pessoas que prejudicaram a sua empresa, ordenou que Helton Nhancula, Santos Cândido e Lino Mondlane fossem algemados e brutalmente torturados. Para além de cassetetes, os guardas pontapearam as vítimas e desferiram golpes contra eles com recurso a uma arma de fogo do tipo pistola. Na altura, havia cães nas proximidades cuja missão era garantir que ninguém iria fugir.
No acto da agressão, os agentes de segurança estavam a ser filmados pelo supervisor da Associação dos Estivadores da firma em alusão, de nome Gerson Nhancula, de 22 anos de idade, o qual, chocado com o que presenciou, se dirigiu ao responsável de segurança interna na CIM para manifestar a sua indignação e tentar fazer-lhe entender que aquele não era a forma correcta de resolver problemas, mesmo se houvesse provas concretas do tal roubo. Naquele momento, Gustavo Cruz teve acesso ao vídeo tendo-o destruído.
Depois da tortura, os acusados foram encaminhados à esquadra do bairro Língamo, na Matola, onde ficaram detidos durante três dias sem, no entanto, receberem nenhuma assistência médica. O director de segurança interna da CIM fez-se àquela unidade da Polícia para oficializar a denúncia e desmentir que teria torturado os três cidadãos.
Estranhamente, outro supervisor daquela companhia, solidário com as vítimas e interessado em repor a justiça, para além de um vídeo, mostrou aos agentes da Lei e Ordem as fotos por ele tiradas no momento da agressão. Contudo, isso em nada adiantou e Gustavo Cruz não foi responsabilizado pela violência barbaramente perpetrada contra Helton Nhancula, Santos Cândido e Lino Mondlane.
O ajudante de Lino Mondlane disse que não entende a razão pela qual foi agredido fisicamente porque não houve nenhum indício que o incriminasse nem aos seus colegas. “Quando os sacos foram roubados nós estávamos a efectuar carregamentos de produtos noutro pavilhão, mas, infelizmente, fui espancado sem culpa nenhuma e ninguém irá pagar por isso. A justiça neste país não é para todos”, disse Santos Cândido, lacrimejando.
Em contacto com o @Verdade, Gustavo Cruz, negou ter dado ordens aos seguranças da sua empresa para maltratarem os cidadãos a que nos referimos. Ele admitiu apenas que mandou pressioná-los com vista a assumirem o roubo. “Eles (os guardas) é que entenderam que deviam agir daquela maneira.”
Num outro desenvolvimento, Gustavo Cruz afirmou que os seguranças da CIM recorrem excessivamente à força para coagir as pessoas acusadas de certos crimes a confessá-los. É que naquela companhia há alegadamente funcionários com o hábito de roubar e a maior parte delas acaba nas malhas da Polícia.

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