terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Quem trava esta invasão ilegal? É o que ocorre na Clínica Girassol


onde enfermeiras portuguesas foram empregadas, quando jovens nacionais ali solicitam enqua­dramento e não são admitidas. No Banco Millennium, o problema já se arrasta há algum tempo, tendo já sido denunciado no Sema­nário Angolense. Nessa instituição bancária, cidadãos portugueses, muitos em situação migratória irregular, trabalham nas calmas, ocupando a maior parte deles cargos de chefia. Segundo funcionários autóctones, aos angolanos é vedada a promoção a essa condição.
Pascoal Mukuna
Desde o tempo da ou­tra senhora, Luanda sempre foi uma cidade cosmopolita, pois aqui aportavam estrangeiros de todas as latitudes, desde os nossos ir­mãos então também portugueses, nomeadamente «budiurras» – es­tes predominantemente –, «san­tolas», «guiguis», «moças», a con­goleses, americanos (entre esses, destacava-se o velho do falecido Artur Nunes).
Também vinham e assentavam arraiais, outros africanos e euro­peus – os colonos tugas em maio­ria, claro –, que entravam legal­mente e para quem os angolanos sempre foram hospitaleiros.
Creio que a chinesa mais famo­sa de Luanda era uma que, aos do­mingos, vendia tremoço junto ao cine São Domingos, afecto àquela igreja. Aos chineses e «jamponês», só víamos nos filmes de karatê
Muitos dos expatriados envol­veram com angolanos e constituí­ram famílias, outros nem por isso. Nos dias que correm, a emigração tomou proporções assustadoras, Angola virou o El Dorado, todos vêm atrás das kamangas, fazer todo tipo de negócios, trazem drogas, hábitos e costumes que nos são estranhos.
São chinocas, tugas, brazukas, oeste africanos, que, também, zungam, abrem armazéns e peque­nas cantinas em qualquer esquina. Jovens oeste africanos vendem nas ruas, calçado, geralmente usados, chineses, medicamentos, enquan­to congoleses despacham relógios, «funkens» (telefones), vestuário e outros artigos.
Lugares de angolanos
Passeiam-se num grande à vontade e, não obstante as nossas fronteiras estarem a ser guarneci­das, aumenta o número de estran­geiros ilegais no país, de todas as idades, sendo urgente que se ponha terma a essa invasão, sob pena de virmos a ter consequên­cias desagradáveis.
No Mártires de Kifangondo, é vê-los a exibir, impunemente, dinheiro, como se isso fosse a terra de ninguém, uma república das bananas. Agora, andam por aí igualmente cidadãos italianos que, muito discretamente, trans­portam e vendem fatos e sapatos. Se as autoridades competentes es­tivessem mais atentas, tais redes ilícitas seriam desmanteladas.
Em qualquer país organizado, a entrada, permanência, actividade e comportamentos de estrangei­ros são acompanhados, particu­larmente quando os indivíduos são turistas e excedem o tempo de permanência. Chamo para aqui o exemplo de um país próximo, a Namíbia, que o forasteiro não usa nem abusa como os expatriados fazem no nosso país.
Desconfio mesmo que alguma mão invisível (ou visível?) esteja a ajudar os expatriados, que aqui chegam, empregam-se, muitos deles à margem da lei, ocupando lugares que seriam, por direito, para quadros angolanos. É o que ocorre na Clínica Girassol, onde enfermeiras portuguesas foram empregadas, quando jovens na­cionais ali solicitam enquadra­mento e não são admitidas.
No Banco Millennium, o pro­blema já se arrasta há algum tem­po, tendo já sido denunciado no Semanário Angolense. Nessa ins­tituição bancária, cidadãos por­tugueses, muitos em situação mi­gratória irregular, trabalham nas calmas, ocupando a maior parte deles cargos de chefia. Segundo funcionários autóctones, aos an­golanos é vedada a promoção a essa condição.
Neocolonialismo?
E mesmo até os que têm forma­ção superior ou equivalente à dos tugas ou trabalhem mais, os salá­rios dos muangolês nunca são su­periores ou iguais aos desses expa­triados. Regra geral, são inferiores. Por outro lado, portugueses que, no seu país, já são reformados, es­tão a ser enviados para o Millen­nium Angola, sob o olhar impávi­do, sereno e indiferente do Banco Nacional de Angola e do Serviço de Migração e Estrangeiros.
Há pois que repor a legalidade, não defendemos aqui que se corra com os tugas, somente que se exi­ja a aplicação da lei e justiça, até porque antes do fim do conflito armado em Angola, numerosos filhos desta terra emigraram para Portugal, apesar de que não lhes foram dadas as oportunidades de promoção social que aos portu­gueses aqui são oferecidas.
Os angolanos «prietos» eram até vítimas de xenofobia e insul­tos rácicos, às vezes agredidos e até assassinados. Pelo contrário, os tugas são bem tratados, sem revanchismos nem retaliações.
Há dias estive com um conhe­cido empresário angolano, pediu que não o identificássemos, que afirmou: «Isto é um autêntico neocolonialismo, os estrangeiros estão a ocupar tudo, muitos des­ses prédios que estão a nascer em Luanda são deles. E quando um angolano pretende investir, susci­ta logo inveja.»
Ele defendeu a criação de uma «forte burguesia nacional, pois se o país é potencialmente rico, tais riquezas devem beneficiar, em primeiro lugar, os cidadãos an­golanos, não os expatriados.» Há que inverter a tendência e priori­zar os nacionais.
In Semanário Angolense. Edição 544 de 07 de Dezembro de 2013

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