onde enfermeiras portuguesas foram
empregadas, quando jovens nacionais ali solicitam enquadramento e não são
admitidas. No Banco Millennium, o problema já se arrasta há algum tempo, tendo
já sido denunciado no Semanário Angolense. Nessa instituição bancária,
cidadãos portugueses, muitos em situação migratória irregular, trabalham nas
calmas, ocupando a maior parte deles cargos de chefia. Segundo funcionários
autóctones, aos angolanos é vedada a promoção a essa condição.
Pascoal Mukuna
Desde
o tempo da outra senhora, Luanda sempre foi uma cidade cosmopolita, pois aqui
aportavam estrangeiros de todas as latitudes, desde os nossos irmãos então
também portugueses, nomeadamente «budiurras» – estes predominantemente –, «santolas»,
«guiguis», «moças», a congoleses, americanos (entre esses, destacava-se o
velho do falecido Artur Nunes).
Também
vinham e assentavam arraiais, outros africanos e europeus – os colonos tugas
em maioria, claro –, que entravam legalmente e para quem os angolanos sempre
foram hospitaleiros.
Creio
que a chinesa mais famosa de Luanda era uma que, aos domingos, vendia tremoço
junto ao cine São Domingos, afecto àquela igreja. Aos chineses e «jamponês», só
víamos nos filmes de karatê
Muitos
dos expatriados envolveram com angolanos e constituíram famílias, outros nem
por isso. Nos dias que correm, a emigração tomou proporções assustadoras,
Angola virou o El Dorado, todos vêm atrás das kamangas, fazer todo tipo de
negócios, trazem drogas, hábitos e costumes que nos são estranhos.
São
chinocas, tugas, brazukas, oeste africanos, que, também, zungam, abrem armazéns
e pequenas cantinas em qualquer esquina. Jovens oeste africanos vendem nas
ruas, calçado, geralmente usados, chineses, medicamentos, enquanto congoleses
despacham relógios, «funkens» (telefones), vestuário e outros artigos.
Lugares de angolanos
Passeiam-se
num grande à vontade e, não obstante as nossas fronteiras estarem a ser
guarnecidas, aumenta o número de estrangeiros ilegais no país, de todas as
idades, sendo urgente que se ponha terma a essa invasão, sob pena de virmos a
ter consequências desagradáveis.
No
Mártires de Kifangondo, é vê-los a exibir, impunemente, dinheiro, como se isso
fosse a terra de ninguém, uma república das bananas. Agora, andam por aí
igualmente cidadãos italianos que, muito discretamente, transportam e vendem
fatos e sapatos. Se as autoridades competentes estivessem mais atentas, tais
redes ilícitas seriam desmanteladas.
Em qualquer país organizado,
a entrada, permanência, actividade e comportamentos de estrangeiros são
acompanhados, particularmente quando os indivíduos são turistas e excedem o
tempo de permanência. Chamo para aqui o exemplo de um país próximo, a Namíbia,
que o forasteiro não usa nem abusa como os expatriados fazem no nosso país.
Desconfio mesmo que alguma
mão invisível (ou visível?) esteja a ajudar os expatriados, que aqui chegam,
empregam-se, muitos deles à margem da lei, ocupando lugares que seriam, por
direito, para quadros angolanos. É o que ocorre na Clínica Girassol, onde
enfermeiras portuguesas foram empregadas, quando jovens nacionais ali
solicitam enquadramento e não são admitidas.
No Banco Millennium, o problema já se arrasta há algum tempo,
tendo já sido denunciado no Semanário Angolense. Nessa instituição bancária,
cidadãos portugueses, muitos em situação migratória irregular, trabalham nas
calmas, ocupando a maior parte deles cargos de chefia. Segundo funcionários
autóctones, aos angolanos é vedada a promoção a essa condição.
Neocolonialismo?
E mesmo até os que têm formação superior ou equivalente à dos
tugas ou trabalhem mais, os salários dos muangolês nunca são superiores ou
iguais aos desses expatriados. Regra geral, são inferiores. Por outro lado,
portugueses que, no seu país, já são reformados, estão a ser enviados para o
Millennium Angola, sob o olhar impávido, sereno e indiferente do Banco
Nacional de Angola e do Serviço de Migração e Estrangeiros.
Há pois que repor a legalidade, não defendemos aqui que se corra
com os tugas, somente que se exija a aplicação da lei e justiça, até porque
antes do fim do conflito armado em Angola, numerosos filhos desta terra
emigraram para Portugal, apesar de que não lhes foram dadas as oportunidades de
promoção social que aos portugueses aqui são oferecidas.
Os angolanos «prietos» eram até vítimas de xenofobia e insultos
rácicos, às vezes agredidos e até assassinados. Pelo contrário, os tugas são
bem tratados, sem revanchismos nem retaliações.
Há dias estive com um conhecido empresário angolano, pediu que
não o identificássemos, que afirmou: «Isto é um autêntico neocolonialismo, os
estrangeiros estão a ocupar tudo, muitos desses prédios que estão a nascer em
Luanda são deles. E quando um angolano pretende investir, suscita logo
inveja.»
Ele defendeu a criação de uma «forte
burguesia nacional, pois se o país é potencialmente rico, tais riquezas devem
beneficiar, em primeiro lugar, os cidadãos angolanos, não os expatriados.» Há
que inverter a tendência e priorizar os nacionais.
In Semanário Angolense. Edição 544 de 07
de Dezembro de 2013
Imagem: apodrecetuga.blogspot.com
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