Trabalhadores ameaçam
paralisar a empresa
Os trabalhadores da rede de
supermercados Casa dos Frescos e direcção, estão de costas viradas há já alguns
meses, mas foi na semana finda que atingiu o clímax com a decretação de uma
greve. Os trabalhadores, que bateram de frente com os patrões, são apenas os
das lojas do Atlântico, à Vila Alice e da Mutamba, mas dizem defender os
direitos de todos
Adriano
de Sousa
SEMANÁRIO
ANGOLENSE
Da lista de
reclamações consta o aumento da carga laboral, más condições de trabalho e
baixos salários. «No âmbito laboral reivindicamos um ajuste de horário,
exigimos a liberdade sindical no local de trabalho, redefinição de categoria,
porque há pessoas que estão na mesma categoria com salários diferentes. No
âmbito social exigimos a aquisição de equipamento de refeitório, há falta de
cadeiras, o que obriga os trabalhadores a sentar no chão, além da melhoria da
qualidade da alimentação. A empresa também não dá os subsídios de férias.
Exigimos isto e a actualização do abono de família», disse Mariano Kanga, líder
dos grevistas, acrescentando que precisam igualmente um aumento no subsidio
de transporte.
«Quanto ao
subsidio de transporte, eles nos dão 8 mil Kz. Eles pagam a razão de 150 Kz por
cada viagem de casa ao local de trabalho e nós gastamos muito mais que isso. E
por fim, exigimos o aumento de salário a 200%. Nós tivemos várias negociações
mas a empresa mostrou-se esquiva. No dia 15 de Janeiro fizemos uma assembleia
de trabalhadores e decidimos entrar em greve no dia 25 de Janeiro. Comunicamos
à empresa logo após a assembleia».
Durante a
conversar com o Semanário Angolense (SA), Mariano avançou que grande parte das
exigências já foram atendidas pela empresa nas várias sessões de negociações
que mantiveram com a mesma a posterior. Entretanto, o braço-de-ferro prevalece
no ajuste dos horários e no aumento de salários. «Anteriormente os
trabalhadores entravam às 8h e saiam às 20h, divididos em dois turnos. Aos
feriados e domingos a carga laboral era menos porque trabalhava-se apenas um
turno. Sem negociar com os trabalhadores estipularam novo horário que vai das
7h30 às 14h30, no primeiro turno e depois das 14h30/21h isso de segunda-feira
ao domingo, algo que não concordamos», desabafa Mariano Kanga.
Após explicar a situação, o nosso
interlocutor justificou a recusa: «O horário de domingo é que os trabalhadores
não aceitaram porque entram às 14h de domingo, saem às 21h e até fechar os caixas
pode-se atingir às 22h, o que é muito cansativo. E no dia seguinte têm que
voltar ao local de trabalho às 7h, não dá tempo para recuperação nenhuma».
Mediante esta situação, os trabalhadores
propuseram aos patrões que existisse apenas um turno, como aliás sempre
existiu, mas que trabalhassem das 8h às 17h e o outro turno, que trabalhar no
dia seguinte, fique a descansar. Entretanto, a questão salarial é mais
delicada. Os trabalhadores exigem um aumento de 200%, algo que a empresa alega
ser impossível de satisfazer.
No dia 24 de Janeiro aconteceu uma
reunião em que os trabalhadores aceitaram o aumento em até 50%. Porém, a
empresa alegou só poder dar até 5%. Feitas as contas, segundo Mariano Kanga,
esse aumento representaria um acréscimo de apenas mil Kwanzas, o que não foi
aceite. Em alternativa, a empresa comprometeu-se em aumentar dois mil Kz no
salário e mil no subsidio de transporte. Os trabalhadores voltaram a negar. Em
vez disso, os trabalhadores propuseram um aumento de 50% aos que ganham menos
e os que já estão num escalão superior ou intermédio os 5%.
Os supermercados Casa dos Frescos estão já, além da
sede, junto ao Atlântico, na Mutamba, duas lojas no Talatona, Projecto Nova
Vida, havia também uma em Viana mas que está temporariamente encerrada. Há
perspectivas de se abrir uma loja no futuro shopping Kinaxixe e Jika.
Segundo director da
empresa
«Aumento de salários é impossível»
Ouvido
pelo SA A propósito da greve, o director-geral da Casa dos Frescos, Luís
Antunes, revelou que toda direcção da empresa está preocupada e muito
interessada em solucionar o problema. Revelou que a empresa aprova a iniciativa
dos trabalhadores de se organizarem e se filiarem em uma associação sindical,
concorda e atende todas as reivindicações, excepto o aumento salarial de 200%
que considera insuportável para a empresa. «Tivemos várias reuniões, a última
foi há dias. Decidimos aumentar o subsídio de transporte e mais 10% no salário.
Tudo que seja além dos 10% é impossível porque nós temos que aumentar a todos
os 700 trabalhadores das várias lojas e não dá», explicou Luís Antunes.
O
gestor adiantou ainda que, pelas suas contas, a Casa dos Frescos já paga acima
da média dos outros supermercados. Quanto as discrepâncias salariais e as
categorias, o nosso interlocutor disse que tudo está a ser feito no sentido de
se regularizar a situação até Março. «Nós pedimos a eles só mais um mês»,
disse. «Os trabalhadores devem analisar que nós, na Casa dos Frescos, não
valorizamos o trabalhador apenas pelo salário; damos formação, alimentação e
transporte. Inclusive disponibilizamos viaturas para os colocar no ponto de
táxi mais próximo das lojas, ali onde há necessidade», informou Luís Antunes.
No que diz respeito ao aumento da carga
laboral, Luís Antunes confirmou os novos horários, mas disse não se tratar
exactamente de aumento de carga laboral. Segundo ele, o que houve foi uma
redistribuição do horário. «A lei permite que os trabalhadores funcionem, em
regime de turno, até 44h por semana. E isso vai continuar. Nós temos que
acompanhar o horário que o próprio sector vai adoptando para não sermos
ultrapassados pela concorrência. No fundo, trata-se da sobrevivência da
própria empresa», defendeu. O horário de domingo é igual ao dos outros dias da
semana e conta como hora extra», ajuntou. Até ao fecho da presente edição,
decorria as negociações e encontrava-se na mesa de negociações a possibilidade
de se suspender a greve até se concluir o processo de redefinição de
categorias e algumas discrepâncias para depois voltar-se a falar em aumento
salarial.
In SEMANÁRIO ANGOLENSE. Edição 550 de 01
de Fevereiro de 2014
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