segunda-feira, 26 de julho de 2010

Mãe… vou morrer!




Transferiram-me da unidade hospitalar onde me encontrava hospitalizado em estado muito crítico para outra porque a vida, eu senti, deu-me um ultimato. Sentia que o coração me dedicava os seus últimos momentos de amizade. E na hipocrisia da loucura humana do tráfego congestionado, que ainda insistem que é para o nosso bem-estar, via a morte certa acenar-me. É isto que os seres humanos não controlam. Mesmo aqueles que têm biliões de dólares seguem o caminho dos descontentes das infernais trevas.

E creio que a nossa existência se limita a uma gigantesca mancha petrolífera.
É isto apenas o que resta da poesia da nossa vida.

E falei pela última vez para a minha mãe, não… creio que quase lhe gritei:
- Mãe… vou morrer!

E nos cuidados intensivos fizeram-me uma transfusão de sangue. Era a única moeda que me restava entre viver ou morrer.

Eu ia num carro conduzido por um esqueleto, e no fundo da estrada via-se uma luz. Saltei, safei-me, despertei, vi o médico que estava junto a mim e dei-lhe um soco pensando que ele era o esqueleto.

Uma enfermeira amiga da minha mãe vigiava-me. Viu que eu tentava deslocar-me de posição na cama. Então, carinhosamente aproximou-se de mim, sorriu-me, eu também. E disse-lhe antes de um profundo suspiro:
- Tenho frio!

Ela aconchegou-me as roupas e adormeci feliz, por continuar a viver, a sorrir, a falar com os meus pais, com a minha família e com os meus amigos.

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