quinta-feira, 15 de julho de 2010

O casebre sem sol tropical


O habitual cliente chinês de uma mamã do seu casebre espoliada compra-lhe cigarros e segreda-lhe: «Angola tem muitos bandidos!» «E lá na China?» «Não, polícia mata!»

República dos tumultos
É proibido trabalhar – também onde o há? Este sonho tropical é só para estrangeiros e Politburos – e ganharmos o nosso dinheiro honestamente. Este sol de nascente incongruente das tardes sem destino, está tão pálido, tão poeirento.
O nosso casebre mesmo sem oásis estava tão aprazível, mas ainda entorpecente no adormecer independente.
Estávamos reunidos no nosso casebre no nascente sol amarelento, bolorento de tanta ousadia bancária familiar luso-tropical.

E vieram… como se chamam essas coisas metálicas que se inventaram para desobstruir casebres das reservas dos indígenas do Estado? Ah! Chamam-se buldozeres... não… buldogues, é isso, manas e manos. São os buldogues, as feras de dentes de ferro ou aço. É isso! Aquelas coisas que os brancos inventaram para devorarem os casebres dos negros.

Eu acho que eles se enganaram. Estavam a fazer uma operação, um treino militar algures. Acredito que a localização no mapa deles estava errada. É… então vieram para aqui com o comando todo deles, e bombardearam-nos, arrasaram-nos os casebres. Traziam tudo de bélico, só faltou um porta-aviões.

Só pode ser mais um erro dos americanos. O GPS deles anda sempre avariado, a bombardear o planeta Terra por engano e desinformaram os seus colegas angolanos de que isto, os nossos casebres, afinal são células da Al-Qaeda. E a CIA informou-lhes com a muita veracidade habitual que afinal toda a Angola está infestada de casebres disfarçados de campos de treino dos terroristas da Al-Qaeda. Então passam o tempo a bombardearem os nossos casebres. Já viram o nosso azar, manos e manas?

E ainda os cadáveres dos nossos casebres não se funeraram, é pó e destroços por todo o lado, os banqueiros espreitam rapinadores. Lutam entre si: «Não, este terreno é meu» «Não, não, este é meu, aquele ali é o teu» «Não senhor! É tudo meu! Tenho o recibo provisório passado pelo Politburo.» «Ok! Vamos então negociar»

E os especuladores imobiliários no local vendem rapidamente os apartamentos ainda não construídos. Os novos-ricos dos poços de petróleo cagam-lhes milhões de dólares.

Um milhão de casas angolanas não será com certeza. Então o que será?! Na certa serão um milhão de tumultos.

Imagem: morrodamaianga.blogspot.com/

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