segunda-feira, 19 de julho de 2010

O célebre Comandante Prata



Ainda me recordo de um dos seus conceituados ensinamentos: «O nosso governo é muito demolidor, porque governa nas demolições.»

E finalmente o célebre Comandante Prata abandonou a bebida descontente. Cedo fez do precioso líquido a crítica da razão pura da sua efémera existência. Sempre a medir forças contranatural, enfrentava-se valentemente, mas contudo rendia-se incondicionalmente, ou melhor, ou ainda pior, efectuava notadamente uma retirada estratégica da frente de batalha do seu conservador cogito: «bebo, logo insisto, e logo existo!» e nele sitiar, se situava e nunca haviam prólogos, mas somente epílogos.

Fortaleceu a sua consciência revolucionária em Cabinda, e lá se sentia como um estranho numa terra estranha do Robert A. Heinlein. Era meu sobrinho, apenas o mais jovem dos dois filhos da segunda mulher do meu cunhado Zé Dragão. Tão tenro, apenas com vinte e sete anos, tão Rimbaud, e com tantas virtudes ainda para nos demonstrar.

As FAA-Forças Armadas Angolanas, perdem assim um bravo exemplar dos comandos, o auto proclamado, Comandante Prata. Destacado combatente sempre perseguido pelo garimpo da garinada, a ele, a elas, sempre resistiu heroicamente. Nesta cobiçada frente de combate foi audaz guerreio dos seus corações e nunca que se saiba, desertou, sempre lutou, vaginou. Honra e glória aos discípulos de Baco tumulados.
Comandante Prata, in vino veritas, (no vinho está a verdade) PRESENTE!

A nossa juventude, esses heróicos alcoólicos anónimos, a força petrolífera nunca está com eles. Esses intrépidos bandeirantes da pátria dos varredores dos alambiques tumultuosos. E onde houver bebida, juntos lá estaremos, cairemos. Este comandado perdeu-se na sua última peleja. Frustrou-se no derradeiro in memoriam suspiro. Agora, desconheço como é que ele se vai safar. Consegui ligar para o céu, as rotas da telefonia celular cada vez mais se alicerçam no reino da anarquia, e lá nesses azuis estelares impera rigidamente a lei seca.

E o comboio da morte apita-lhe, ultima-lhe a partida deste paraíso da juventude alcoólica. O coração estava tão sobrecarregado de labor alcoólico, reivindicou-lhe melhores condições de trabalho. Não sendo consentidas entrou em greve por tempo indeterminado. A produção sanguínea parou, a fábrica entrou em ruptura de estoques, sobreveio a falência e depois o colapso total.

Comandante Prata! Esta pátria sempre desonra os seus heróis, esquece-os. É uma nação de meia dúzia de afogados na maré negra dos milhões de dólares submersos. Esta nação actual é obra de jovens alcoólicos.
Comandante Prata! Oh! Como invejo os prazeres que as doces valquírias te proporcionam.
Ó tristeza, porque me persegues, me roubas o sorriso e me contemplas no meu olhar medonho.

Frases célebres do Comandante Prata: era muito esclarecedor pois destilava: e todos os problemas se dissolvem na bebida. E, as plantas alimentam-se de minerais, a mim sobra-me a alquimia etílica. Quando o frio me apertava, a bebida aquecia-me, me consolava. A bebida faz dançar o meu andar. O nosso maior desastre não é a SIDA, nem os acidentes dos carros da viação, e nem o paludismo. O nosso desastre natural nacional é o alcoolismo. Somos vitoriosos porque atingimos o cume do Evereste alcoólico. O melhor benefício que a independência nos deu é o alcoolismo sem limites.

Nunca ninguém parou para pensar, se lembrar que exportamos muito petróleo e importamos muita bebida? O petróleo financia as importações das nossas universidades alcoólatras. Por isso mesmo, o nosso líder incontestado é o álcool. O nosso (?) petróleo financia os bancos, que financiam a espoliação de terrenos e a destruição dos casebres e os bens das populações, e alimentam os especuladores imobiliários. O melhor conforto que esta ditadura petrolífera nos concede é a mais pura e negra tristeza. A mais-valia que a independência petrolífera nos legou, é a concentração da renda nacional no pódio dos corruptos onshore e offshore.

Porque isto não é uma independência, é um monstro que nos devora.

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