segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A JANGADA DAS CENTRALIDADES À DERIVA


Última hora: avistado navio à deriva ao largo da costa angolana, com pavilhão UNITA. É um grande mistério, porque a bordo não tem vivalma, sem comandante, sem imediato e sem tripulação. Mais um navio fantasma, como o holandês voador?!
A democracia muitas vezes significa o poder nas mãos de uma maioria incompetente. Bernard Shaw
Muitas das vezes sem o notarmos, fazemos do amor um mistério nas nossas vidas. Investimos em tudo, mas no principal investimento, o amor, não. E que faremos sem ele, o amor? O amor é a chave de todos os nossos êxitos. Onde ele não existe, o fracasso de qualquer projecto é inevitável.
O bom advogado não é aquele que sabe as leis dos homens, que são muito falíveis. O bom advogado dificilmente perderá uma causa, se conhecer profundamente as leis da Vida, e estas são infalíveis.
Os tons desaparecidos desabam amarelecidos e bolorentos sobre esta Primavera de Praga. Apesar da idade lhe ser quase igual ao tempo no poder, ela ainda ordena. Sim, porque uma nação e um povo sem a sua eterna ditadura nunca sobreviverão. E então centelhou-lhe mais uma ideia e ordenou-a: «Vamos construir uma grande cidade/centralidade, para que o meu reinado faraónico seja sempre celebrado.» E de mansa prontidão na guarita, o guarda-mor se agita: «Grande Chefe/Líder… e quem a construirá?» «Os nossos amigos chineses que nos apoiam em todas. Aliás, eles impuseram-nos essa da venerável cidade e de outras ruínas etéreas, senão cortam-nos os empréstimos.» «Grande Chefe/Líder eterno, e onde a construiremos?!». Em qualquer sítio - partam os habituais casebres dessa escumalha que ainda não exterminámos, são muito resistentes - de preferência aqui na cidade, junto de mim, do meu palácio, para que admire tamanha grandiosidade do meu génio.» «Meu Notável, a água, a electricidade, os esgotos, o impacto ambiental… quem serão os beneficiários?» «Os beneficiários, somos nós, sempre nós, claro.» «Meu Rei, e as populações de baixa renda? Podíamos vender-lhes os apartamentos a pagarem em vinte ou mais anos… como se faz nos outros condomínios, nos outros domínios, isto é, nos outros países.» «Não, não quero essa vergonha, o meu dinheiro do petróleo não é para se esbanjar assim na arraia-miúda.» «Ok Chefe, o barco está pronto. Ordene! Para lá vamos. Os chineses em poucos meses acabam com os trabalhos. Como são de empreitada, essa lengalenga do trabalham dia e noite, fica tudo encarecido. Só penso que depois dessa centralidade/cidade se inaugurar, os moradores carregarão geradores eléctricos, água pelas escadas, partirão as paredes para conseguirem mais espaço, as habituais pracinhas da sobrevivência, da luta contra os efeitos desastrosos do petróleo, e lá se vai a cidade. Aliás, não vejo como é possível construir da noite para o dia uma centralidade. Creio que ela em pouco tempo desabará. As chuvas aproximam-se, prometem-se extraordinariamente copiosas, e os terrenos não engolirão os prédios? E a nossa população que não está nada habituada/preparada, detesta viver, subir as escadas dos prédios, como se isto fosse a Europa, ou a maníaca teimosia da imitação do Dubai. Quando não tiverem gás, partirão as portas e delas farão combustível para cozinharem. Esse dinheiro seria bem empregue em bibliotecas e computadores para o homem da nova vida que tanto publicitamos.» «Vai-te, vai-te, antes que te demita, e ponha um idiota perigoso no teu lugar. Este reino é obra de um só homem.»
A democracia é apenas a substituição de alguns corruptos por muitos incompetentes. Bernard Shaw
Que Estado desestabilizado, desorientado é este, que até a água espolia às suas populações, que depois, elas, com recipientes de toda a desordem, saem em bichas que confundem o estado totalitário policial, e que conforme instruções recebidas, mata-lhes a sede atirando-lhes a matar, acusando-as de perturbadoras da ordem, de provocarem tumultos.
Este Estado é tão democrático e de direito, que quando os seus cidadãos constroem as suas casas, o tal Estado surge e arrasa-as. Terramotos e maremotos são os seus inspiradores.
Os estrangeiros contratados por este Estado, chegam e logo, logo, se corrompem, desprezam-nos, espoliam-nos, e atiram-nos para as ruas. E despojados dos nossos haveres dormimos ao relento. Como se fossemos inúteis, como se nunca estivéssemos vivos. E perante o abandono das nossas mortes, Marcolino José Carlos Moco assevera-nos que: «Sem transparência, advinham-se Egiptos ou até Líbias, mais cedo ou mais tarde.»
Tanto tempo de colonialismo e escravidão que dizem se acabaram. Mas não, estão outra vez fortes com fortins e paliçadas. Porque os selvagens atacam os ditadores, os bancos e os brancos seus senhores. Quando é que esta jangada da ditadura deste petróleo sem amor à deriva retorna ao Inferno? E a fecham a mil chaves num precipício infindável?
E o nosso estranho poder, não havendo mais espaços livres, afinal Angola é muito pequena, quase microscópica, implementa um, novo modelo de gestão urbana na república de Luanda: estaleiros e oficinas nas traseiras dos prédios. É o que se pode chamar de terrorismo contra a segurança do Estado. É o deixa correr, que depois o vento Norte vai resolver?!
A governança da abastança resvala todos os dias nas crateras, mas o seu olhar está programado para detectar os lucros do petróleo.
A vida já não se reflecte, transformou-se, parece estar sempre como na menopausa. Sempre na angústia do perecer. Valem-nos as melodias que extasiam os nossos cérebros. Neste ambiente perdulário ainda sonhamos com cavaleiros andantes, e admiramos os seus corcéis nas literaturas dos cordéis. Não me perguntem porquê, mas o passado é sempre uma delícia, porque nos traz as belas recordações perdidas dos nossos entes queridos que se ausentaram, mas que teimamos nas recordações das suas imagens como se eles estivessem vivos… junto de nós. Mas de facto eles residem nas nossas almas, vivos, imortais.
Os choros das crianças angustiam os nossos corações. Ficamos como que presidiários nas correntes intemporais das nossas inconsciências. Tudo à nossa volta se move, e nós tão absortos, pasmados, sem decisões, atolados. As palavras já não fazem sentido de tão repetitivas. O tempo parou o chorar, já não há ninar. Resta apenas o esperar do desesperar. Deixamo-nos dominar pelo senhor das urtigas na consciência.
Parece que tudo se compõe de imperfeição. Antes, nos tempos da maravilha humana, as vozes soavam cadenciadas, agora não, tudo se desentende no apelo submisso da desunião. Os comboios circulam nos carris dos ventos do desespero. O destino do cruel petróleo é o fim dos seus carris. E todos se perfilam quando ainda ao olharem para o que resta da miragem celestial, vêem voar um bando de andorinhas, bem organizadas, exemplarmente disciplinadas. Há sempre pessoas que correm muito, não querem perder os rastos dos seus futuros que se avizinham trágicos. Pelo contrário, existem sempre outras pessoas que muito lentamente observam as correrias tresloucadas dos seus homólogos, estes, são os mestres da observação. Da Angola, da última batalha dos nossos generais líbios e sírios.
A poluição da ditadura, aliada ao fumo tóxico dos geradores do desenvolvimento económico e social que nos abastece regularmente de partículas cancerígenas, para gáudio de quem nos conduz os destinos, acaba, a ditadura, de nos premiar com mais uma epidemia… de conjuntivite. A seguir, será uma epidemia de doenças respiratórias pulmonares? Isto não será o demasiado gosto amargo da morte?!
Angola ainda é considerada um campo de batalha, porque tem muitos generais no poder, quase como a sua dimensão territorial. E por isso, quem não pertence aos seus exércitos seja considerado inimigo a afastar, a abater dos quadros administrativos. O efectivo militar inclui o pessoal civil sob tutela de um qualquer general-governador. É a pureza da raça ariana, que extermina a outra, os apátridas, os espoliados que nem direito têm a chamarem-se de angolanos. Só quem vive inundado de milhões de dólares, esses sim, são os puros angolanos, os outros nem direito ao lixo têm, porque os excessivos zeladores fiscais perseguem-nos, cumprindo as ainda remanescentes orientações revolucionárias: quem não estiver de acordo com os postulados do nosso partido de vanguarda, que seja torturado, e depois arrastado e abandonado em qualquer lixeira, que é o que mais existe, abundante.
Que triste fim aguarda estes revolucionários. O inferno já lhes tem lugares reservados, à disposição. Só que sem dinheiro, sem riquezas, porque por ali tudo arde sem compaixão, tal e qual como eles são. E a ala de uma incerta igreja acompanha-os, porque há sempre algum destroço perdido. E enquanto o bando dos seis continuar a desmantelar o poder democrático, Angola é, e será por vontade unilateral, uma imensa Tchavola em África.
E com tantos, tantos generais no poder, significa que a guerra ainda não acabou. Assim, o próximo inimigo já eleito por unanimidade pelo Politburo é sem dúvida alguma, o povo angolano.
Como os ditadores ainda não conseguiram um comprimido, e que nós obrigados a tomá-lo, ficaríamos todos idiotas, a única droga que lhes resta é obrigarem-nos pela força das armas à idiotice geral. E neste ambiente democrático finalmente implantado, podemos de facto e de jure, criarmos a comissão do congelamento de todos os bens ilícitos usufruídos pelos nossos corruptos. Os sempre os mesmos que persistem na divisão dos lucros petrolíferos e de todas as outras riquezas que são nossas. E que teimosamente, ditatorialmente nos espoliam. E com isto, eis chegado o tempo da instauração da democracia. E ao respirar, sente-se o cheiro intenso da ditadura que ainda polui o ar e os nossos corações. Este petróleo cheira a morte, a corrupção, a miséria.
O progresso é impossível sem mudança. Aqueles que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada. Bernard Shaw
Imagem: Francisco Guedes

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