segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Quem casa quer uma tenda


Nunca arrasarias um milhão de casas se soubesses que os seus destroços mais tarde te cairiam em cima.
Em qualquer parte do mundo, quem casa quer casa.
Em Angola: quem casa nunca terá casa.
E quem tem casa, há santos e anjos que a arrasa.
Portanto: quem casa quer uma tenda.
E mais de cem casas acabam de ser implodidas no Sambizanga pelos comités da implosão nacional de Angola, esses que defendem os interesses dos especuladores imobiliários, que agora mudaram de nome: novas centralidades. Atiraram os moradores para a nova cidade do Zango, onde mais tarde a equipa do “super-homem” lhes tornará a atirar para outro Zango, e sempre assim sucessivamente. Será?
Muitos ao relento, a 19 graus de temperatura e humidade a oitenta por cento.
Ainda há quem acredite que essa gente votará na oposição. Acho que não, porque até lá já estarão tuberculosos, prontos para votarem no Hospital Sanatório de Luanda, que está em tal estado de degradação, assim como a nação, que dir-se-ia também tuberculoso em último grau. Já se esqueceram que a tuberculose e a cólera são as doenças da extrema miséria? Ficam mas é na abstenção. Então, se nenhum partido da oposição os defende, não faz manifestação, eles não lhes vão votar não.
Quem casa quer casa… ao relento.
O Kadafi comparado com os nossos ditadores era sem sombras de dúvidas uma jóia de pessoa. Não partia casas para empregar chineses - e outros milhões de estrangeiros desempregados – para lhes pagar os vultuosos empréstimos para fortalecimento do reino da corrupção.
Já não existe país, apenas uma: República do Estendal de Tendas.
Foto: Francisco Guedes

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