quarta-feira, 31 de agosto de 2011

“O país vai viver dias de insegurança”. Dhlakama apela aos investidores para abandonarem o país




O líder da Renamo quer um “Governo de Transição” alegando que “é preciso fazer desmoronar o império da Frelimo”
“Advirto aos estrangeiros, investidores, que Moçambique não está em segurança, por isso é melhor abandonarem o país muito cedo para não saírem a correr e perder muita coisa. Poderão voltar depois de Dezembro com o Governo de Transição” – Afonso Dhlakama

Nampula (Canalmoz) - O líder do partido Renamo, Afonso Dhlakama, disse na manhã de ontem, na sua residência, na cidade de Nampula, que o clima de paz e segurança não está nos melhores momentos, por isso todo o investimento a esta altura poderá ser um desperdício. Numa entrevista exclusiva ao Canalmoz, Dhlakama lançou mesmo um apelo aos que tem Moçambique como destino preferencial para negócios e laser: “Advirto aos estrangeiros e investidores que Moçambique não está em segurança por isso é melhor abandonarem o país muito cedo para não saírem a correr e perder muita coisa. Poderão voltar depois de Dezembro com o governo de transição”, disse o líder da Renamo que já dirigiu uma sangrenta guerra civil durante cerca de 16 anos.
O presidente da Renamo diz não ter moral política para encorajar os investidores a se manterem em Moçambique, por o momento que se segue não ser dos melhores.
“Eu sempre encorajei para que fosse investido em Moçambique, mas não vale a pena enganar as pessoas que Moçambique está bem”, disse Dhlakama.

“Lutar para dar poder ao Povo”
“Tudo isto é para dar poder ao povo. Nós ainda somos jovens e temos força para lutar pela democracia”, acrescentou o líder da Renamo.
Ele acrescentou que “a Frelimo deve-se preparar para sair do poder”, “por bem ou por mal”, porque “estamos cansados da escravatura que o povo moçambicano está a passar, as humilhações e as injúrias”.
Dhlakama a quem a Frelimo tem chamado de ‘louco” entende que a mudança da actual ordem política no país não passa mais por realização de eleições, mas, sim, por se fazer desmoronar o “império” da Frelimo.
“Não pode haver eleições em Moçambique depois das últimas realizadas em 2009 enquanto a Frelimo está no poder”.
“Se voltar a haver eleições estaremos a reclamar o roubo de votos e eleições fraudulentas em vão”. “Acabamos legitimando os ladrões e criminosos da Frelimo”, concluiu.
Num outro desenvolvimento, Afonso Dhlakama assegurou que “um governo de transição (GT) é a única alternativa para que Moçambique saia da situação em que se encontra”.
“O País está partidarizado. Até os recursos naturais”.
“Moçambique, com o Governo de Transição, poderá realizar as primeiras eleições democráticas, livres, justas e transparentes”, disse Dhlakama. “Fora isso é inaceitável”.

“Tudo vai ser pacífico”
Dhlakama diz que este processo de mudanças no país ainda poderá ser pacífico, mas “tudo depende da Frelimo”.
“Se eles [a Frelimo] quiserem que seja pacífico nós vamos reagir pacificamente, se não quiserem não nos restará alguma outra opção”, tendo em conta que “com a Frelimo no poder nada pode mudar”.

“As instituições são falsas”
O líder da Renamo não receia o apoio externo à Frelimo. Sustenta que “mesmo durante a luta pela democracia a Frelimo era bem apoiada por todo o mundo”, mas “agora isto vai ser para doer”.
Dhlakama refere que “com a Frelimo as instituições existentes no país são falsas”. “São instituições falsas, porque a Frelimo rouba e não aceita mudanças democráticas” e “todo o povo é refém da Frelimo”.
O povo moçambicano está incapacitado de poder contrariar os “caprichos da Frelimo”, por isso “como no passado assim como no presente dirigirei a revolução para desalojar a Frelimo, porque nenhum outro moçambicano pode fazer isso”. “Podem-lhe assassinar”.
“Olhando para Moçambique, ninguém mais pode fazer isso porque da maneira como a Frelimo está não é possível um moçambicano enfrentar”, conclui Dhlakama.
O carismático líder da “perdiz”, como se provou pelos banhos de multidão na sua digressão pelas províncias do Norte em que escalou Cabo Delgado, Nampula, Zambézia e Niassa, anunciou já os seus planos aos seus seguidores para derrubar a Frelimo. Alegou entretanto que “as pessoas não se arriscam” a derrubar a Frelimo, “porque temem represálias e têm medo de serem assassinadas, já que tudo em Moçambique é Frelimo”.
“Reconheço que vários intelectuais se tornam escravos da Frelimo. É assim que o sistema está, por isso aceito sacrificar-me para que o povo seja dono do país e tenhamos um governo do povo, vindo dos moçambicanos”, afiançou Dhlakama.

Os quartéis
Durante o seu périplo pelas províncias do norte do país, incluindo a da Zambézia, que acentuou frequentemente, Dhlakama anunciou a instalação de quartéis militares para o que considera “acomodação para os ex-guerrilheiros da Renamo expulsos” das fileiras das Forças Armadas da Defesa de Moçambique, exército único, produto do Acordo Geral da Paz, AGP.
Instado dos tais militares das FADM que segundo ele têm sido expulsos e compulsivamente passados à reserva, o nosso interlocutor garantiu que dentro de semanas “quase todos os quartéis estarão implantados no país”.

Resposta ao incumprimento do AGP
A implantação dos quartéis a que Dhlakamase tem referido “é a resposta ao incumprimento do AGP”, diz.
“Esta decisão não é para fazer guerra, mas, sim, para evitar que os expulsos das fileiras das FADM não possam cometer desmandos nas suas aldeias”, porque “eles sempre me perguntam o que devem fazer já que a Frelimo queria que fossem escravos deles e que para ocupar algum lugar de chefia no exército não dependia do mérito, mas, sim, do dispor de um cartão da Frelimo como membro”.
Afonso Dhlakama tem sido frequentemente apontado nos últimos anos como um homem que diz coisas que não cumpre, no entanto alguns académicos tem vaticinado ultimamente que a qualquer momento Dhlakama pode surpreender e agir mesmo. (Aunício da Silva)

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