quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A LIBERDADE


Há pouco encontrei-me com a Liberdade ali na rua. Como há muito tempo já não a via, perguntei-lhe, e ela respondeu-me que já não sorria. Ela, a Liberdade, estava com medo de andar nas ruas, mostrava-se tímida, não andava, rastejava. E uma audaz criança conseguiu ludibriar a mão da sua mãe que a prendia, reconheceu a Liberdade e correu velozmente na sua direcção, agarrou-se-lhe, achincalhou-a e disse-lhe conforme os paradigmas da democracia infantil: «Liberdade, estás perdida? Liberdade, estás tão à toa, tão à deriva!» A mãe já está próxima, e ríspida interpela a criancinha: «Já não te ensinei que não se deve falar com desconhecidos?» «Mamã, mamãzinha, é a Liberdade.» «Qual liberdade qual quê, isso já não existe.» «Mamã é ela mesmo.» «Isso aí é que é a Liberdade? Anda meu filho, liberdade é só quem tem petróleo, e nós nem dinheiro temos para acendermos uma vela à noite. Se isso é que é a Liberdade, então não sei o que será de nós. Uma coisa é certa, sem lutadores que lutem por Ela, fica como uma criança que acaba de nascer e naturalmente indefesa. Necessita de alguém que cuide, que olhe sempre por ela. A Liberdade com cobardes nunca nos libertará, ela falecerá e nós também. Pois… meu filho, a nossa Liberdade está há quase quarenta anos enterrada, numa bandeira catanada, estrelada, avermelhada, ensanguentada, apunhalada. Se aqueles que se dizem democratas não iniciarem já a libertação Dela, então nem os ratos sobreviverão. Ah! Ó Liberdade inspira-nos, une-nos, para que não permaneçamos neste passado esclavagista. Os senhores deste petróleo libertam-no para que sejamos seus reféns nos poços e campos da morte.
E a Liberdade aflige-se muito porque não encontra democratas. Onde é que esta espécie política anda, sobrevive, existe? É que a Liberdade sem democracia nunca pia.

Até a Liberdade de amar, de nos amarmos, proíbem, reprimem.

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