terça-feira, 20 de março de 2012

Fortuna baixou 33,2% em 4 anos. No BCP perdeu mais do que tem em activos



Sou tão rico, não era? Dívida supera mil milhões



por Isabel Tavares
Fortuna baixou 33,2% em 4 anos. No BCP perdeu mais do que tem em activos
Os bancos portugueses estão aflitos com a chegada da troika aos seus balanços. Afinal, o dinheiro que lhes falta para financiar a economia está nas mãos de alguns, poucos, grandes clientes que o pediram para comprar acções que agora não valem nem metade do que custaram.

Os investimentos do empresário madeirense Joe Berardo são um bom exemplo. A participação accionista no Millennium Bcp, que comprou a crédito, custou cerca de mil milhões de euros e vale hoje menos de 73 milhões.

Berardo possui actualmente 4,23% do Millennium, detidos directa e indirectamente, através de empresas como a Metalgest SGPS, a Contrancer, a Bacalhôa, a Kendon Properties ou da Fundação José Berardo. As mais de 305 milhões de acções estavam ontem cotadas a 0,238 euros, ou seja, pouco mais de 72,6 milhões de euros.

Uma boa parte desta posição accionista foi adquirida durante a guerra de poder então vivida pelos accionistas. São relatadas ligações suspeitas com os bancos financiadores - BCP do qual era presidente do Conselho de Remunerações e Previdência, CGD e BES - que o fizeram contra uma garantia de apenas 75% da Colecção Berardo (avaliada em 316 milhões de euros em 2007).

Já em 2009, a nova administração da CGD teve que intervir, caso contrário as garantias teriam que ser activadas, ou seja, o banco estatal, dado o veículo financeiro utilizado, ficaria com uma posição muito significativa no BCP.

O acordo negociado com a CGD salvou Berardo. O investidor teve de reforçar as garantias colaterais. As negociações acabaram por ser fechadas apenas com a Caixa, BCP e BES, já que o Santander não concordou com os activos que estavam a ser entregues como garantia. A CGD e o BCP terão emprestado cada um cerca de 400 milhões, e o BES menos de 200 milhões. Na altura, Berardo terá conseguido prolongar o prazo dos empréstimos e congelar o pagamento de juros. De fora terão ficado os investimentos que o empresário tem no exterior.

Mas Berardo tem mais investimentos em Portugal, além da posição no Millennium. Possui activos, por exemplo, na área do imobiliário, que, nos últimos tempos terão desvalorizado, de acordo com especialistas, cerca de 30%.

Em 2008, o nome de Berardo apareceu ligado à especulação imobiliária, na Ria do Alvor, com o preço da Quinta da Rocha a passar de 500 mil para 15 milhões de euros.

Em 2011, José Berardo era o 12.º homem mais rico de Portugal, de acordo com o ranking elaborado pela revista Exame, com uma fortuna avaliada em 542,1 milhões de euros. Mas em 2010, a sua fortuna estava avaliada em 589 milhões de euros, mais 7,9%. Se recuarmos um pouco mais ficamos a saber que em 2007 o empresário era o 5.º homem mais rico do país, com uma fortuna de 882 milhões de euros. Ou seja, em quatro anos perdeu 33,2%.

A participação accionista que detém no Millennium Bcp, e que foi adquirida a crédito, terá um peso importante nesta desvalorização. Se soubesse o que sabe hoje, talvez o investimento tivesse sido diferente. E talvez a Caixa Geral de Depósitos e os restantes bancos não o tivessem apoiado.

Berardo foi contra a vinda do Fundo Monetário Internacional para Portugal desde a primeira hora. E ele tinha a explicação: vai ser "um desastre".

"Na minha opinião, oxalá que eles [FMI] não entrem, mas acho que todos nós portugueses vamos pagar", afirmou.

Joe Berardo chegou também a sugerir um acordo para ultrapassar as dificuldades, semelhante ao Plano Marshall, com que os Estado Unidos ajudaram a Europa a recuperar depois da II Grande Guerra. E queria financiamento e pagamentos da dívida a 50 anos.

Tarde demais. Em vez disso, uma equipa do FMI, do Banco Central Europeu e da UE veio obrigar os bancos a limpar os seus balanços, reequacionar participações e fortalecer rácios.
http://www1.ionline.pt/conteudo/147381-sou-tao-rico-nao-era-divida-supera-mil-milhoes
Imagem: altohama.blogspot.com

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