terça-feira, 8 de julho de 2008

Cultura Tradicional Bantu (XII)


Quando alguém quer matar um inimigo vai ao adivinho. Esse tem uma arma diminuta em cujo tubo introduz pólvora, dois bocados de agulha e um pouco da terra que o inimigo pisou ou urinou. O cliente tem de matar um gavião e um pássaro selvagem chamado «andúa». Ao primeiro tira uma unha, ao segundo, um pedaço da asa e introduz tudo no cano da arma. A asa serve para levar a carga e a unha, além de ajudar a transportar, também serve para ferir o inimigo.

Dependuram um galo de cabeça para baixo e o adivinho, com um só golpe, corta-lhe a cabeça. O queixoso acende a pólvora, saem as balas (agulhas) e espetam-se no galo. Neste momento morre o inimigo. O adivinho atira o galo ao rio, para simbolizar o enterro do inimigo e o queixoso, entretanto, amaldiçoa-o. Manda-o para casa e proibi-lhe de dormir em sua cama, durante quatro dias. Certificada a morte do inimigo, ele tem de pagar os emolumentos ao adivinho.
Para compreendermos como o jogo mágico pode conduzir a aberrações e criar uma atmosfera de terror, vamos descrever alguns feitiços preparados só para fazer mal ou para defender e vingar supostas acções mágicas maléficas. É cega a fé no poder e, embora ninguém os tenha visto, acreditam na sua existência.

Certos feiticeiros podem vivificar um cadáver com fórmulas secretas, medicamentos e invocações mágicas. Quando o conseguem, transforma-se num feitiço visível apenas a quem o fez. A uma ordem do feiticeiro, ele dirige-se à pessoa indicada e torce-lhe o pescoço até a matar. As outras pessoas apenas vêem a vítima caída no chão com o pescoço torcido e a gritar de dores. Pode-se afugentar queimando um pouco de farinha.

Em várias regiões de Angola, existe a convicção de que os chefes podem preparar um feitiço especial. Apanham uma criança e enterram-na viva. Durante duas semanas, desenterram-na diariamente e mumificam-na com lavagens e irrigações. Transforma-se num feitiço invisível que o chefe utiliza para matar os seus inimigos desta forma: aproxima-se da pessoa indicada com uma arma ao ombro e um chicote; dá-lhe uma chicotada e introduz-se no seu sangue. A vítima começa a tremer até morrer.

Também se servem de meninas para conseguir os mesmos objectivos. Mas a estas matam-nas espetando-lhes um punhal no peito, depois de seduzidas, e levadas para um lugar escondido.
O bantu teve de recorrer à magia-feitiçaria para explicar as mortes repentinas, a epilepsia, apoplexia, loucuras, qualquer manifestação espasmódica ou ataques cardíacos.

Não há dúvida que estas crenças consolidam a autoridade política e o prestígio dos especialistas. Estes confirmam-nas utilizando o veneno ou matando mesmo, através de fiéis servidores. No aspecto negativo, a magia bantu encobre manobras terríveis que satisfazem os piores instintos. Há especialistas consumados em sugestão, hipnotismo, parapsicologia e com uma experiência e com uma experiência milenária na aplicação de drogas e na propagação do terrorismo psicológico. No entanto, estes exageros, são bastantes limitados e nunca atingem as dimensões e sangue-frio dos utilizados em outras sociedades.

Certos especialistas, diz o povo, tiram o coração a um cadáver, matam um cabrito e uma galinha e também lhes extraem o coração. Perfuram uma estátua de madeira, da cabeça ao ventre, e introduzem os três corações. Em seguida, tapam o buraco para que «fermentem». Alguns dias depois, o feitiço começa a bailar. Está pronto para cumprir a sua missão, isto é, matar os inimigos do proprietário. Como é invisível, agarra a vítima pela cintura, penetra pelo ventre e vai até ao pescoço. O inimigo morre deitando sangue pela boca e pelos ouvidos.

«Depois da nomeação, máscara e dançarino são sagrados e, se são profanados, podem causar a morte do sacrílego».
O especialista da magia deve sará-las com um cerimonial especial. Por isso, são guardadas em lugares secretos e bem vigiadas. Só o especialista, os iniciados da sociedade particular ou secreta, e os homens podem vê-las e conhecer o seu significado.

Na África Ocidental, a máscara adquiriu tal expressão, estilismo, naturalidade, surrealismo, perfeição, dramatização e simbolismo que, com pleno direito, pode ser considerada como uma das notáveis obras de arte da humanidade. Assim, as mascarras bambaras, ibas, mendes, bomuns, wavegas, dogóns, ekois, batekés, bamilekés, ashantis, aguis, pangwés, balumbas, iorubas, baulés, as de Ifé, o Benim, talhadas na madeira, marfim, ouro, bronze, cobre e latão.

Há muitas mulheres dotadas para o exercício da magia. Acreditam que certas anciãs se podem converter em perigosas feiticeiras.

In Cultura Tradicional Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas
Gil Gonçalves

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