quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Mpla Suicidou a Rádio Despertar da Unita


Petróleo é preciso, livros… não é preciso.

Reino Petrolífero, algures no Golfo da Guiné.

Os Petrofamintos acessavam uma emissão de rádio, onde amiúde proclamavam, desabafavam vicissitudes incomensuráveis. Apesar dos esforços da polícia secreta para a silenciar, ela resistia bravamente.

Era o rumo dos sem rumo, assim divinizavam a Rádio Despertar. Alguns casuístas comparavam-na a Asterix o Minigaulês, que resistia arrumado, aprumado num cantinho sombreado da mafumeira. Os polícias da secreta rabulavam que a Rádio Despertar era o seu calcanhar de Asterix. Os circuitos telefónicos mais íntimos da governação, paladinavam que era o calcanhar da função real.

O reino Petrolífero propagandeava a epidemia de cólera, que militava com muitos aderentes para o interior do reino. Como praga ratada sem navios mercantes. Frechei-me com grande constrangimento: ninguém ousou, ousa explicar que a principal causa da cólera… é a fome. A epidemia cadastrou ao infinito do Ludopédio. A Rádio Despertar solicitou anuência para implementar o seu feixe hertziano a todos os ouvidos do reino, para que as populações se informassem, acautelassem, sanassem a epidemia. Os polícias da secreta liminarmente recusaram. Cartaram, selaram, pergaminharam para a Rádio Despertar:

Reverendíssimas Excelências da Rádio Despertar:
Havemos um contrato com o barqueiro Caronte. A epidemia da cólera faz as vítimas suficientes… as almas que o barqueiro necessita a contento. Sentimo-nos felizardos.
Se o sinal da vossa fé se digladiasse pela rádio e por todo o reino se espalhasse, não cairiam vítimas da cólera. Contamo-nos peremptórios firmados, e esse vosso pretenso vento é, não aceite.

Alvejamos a certa teologia do querem ir mais longe, para além das redondezas, dos limites de Delfos. As distâncias curtas por vezes tornam-se longas. Permitimos que funcionem devido à frequência democrática que nos foi imposta. Encetámo-la no compêndio das contrariedades.

Estendemos-lhes um dedo, agora querem a mão, depois o corpo. Para convencer que somos democratas, anunciámos que se realizariam eleições. Notem bem: que se realizariam… em qualquer momento, em qualquer época. Tudo depende da nossa íntima vontade. Não é a claridade de qualquer oráculo que nos leva ao cume solar, datar eleições. Uma coisa é incerta: o principio da incerteza eleitoral.

Os nossos insignes marinheiros vigiam atentamente as proas do vosso ecletismo. Pretendem entreabrir a janela da noite escura, para a missa de manhã. Fazer muita luz, para jorrar nos espíritos. Com tanta vela por aí à disposição. Estamos à vela!
Abundantes Saudações Revolucionárias.
Ludopédio, Frimário, Ano II.
Ano da Vida Incerta.

Resposta da Rádio Despertar:
Depois de consultado, o Oráculo revelou-nos:
Parafraseando o perfume opiado, marxista de Bertolt Brecht, condizemos:
Há governantes que são corruptos num dia, e são bons.
Há outros governantes que são corruptos durante um ano, e são melhores.
Há outros governantes que são corruptos durante muitos anos, e são muito bons.
Mas, há outros governantes que são corruptos toda a vida… esses são os imprescindíveis.
Mutam-se os climas, mutam-se as tempestades. Tudo é composto de ciclones.
Injectadas saudações.
O Directório.
Ludopédio, 9 Termidor.
Ano da emissão da nossa Rádio Despertar a todo o Reino.

Gil Gonçalves
Inicialmente publicado em
Portugal em Linha com o título, O Vídeo Matou a Rádio Star.

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