sábado, 19 de julho de 2008

Especulação Imobiliária (FIM)


Os especuladores imobiliários por onde passam, corrompem governos, titanicam nações. Conseguem corromper um centímetro de terra e lá construírem um minimercado.


Entretanto o Super-ministro deu parecer aos arquitectos e engenheiros que construíam um bruto condomínio nas terras, que já não eram de Job. Serviria para alegrar, para lazer da nobreza. Para passarem brutos fins-de-semana, na fuga da agitação da cidade, da barulheira e da anarquia dos nobres súbditos sem lei.

Perto, algumas cobras oposicionistas, descontentes rastejavam à procura de local mais aprazível para respirar. Sentiam-se deslocadas nas suas próprias tocas. Iam bem chateadas. O Super-ministro continua a desvendar os males do mundo ao grande idiota Job.
- A questão fundamental da vida é a grande descoberta de todos os tempos. A maldita invenção que os homens fizeram – o dinheiro –. Dá muita satisfação a quem o possui, e que nunca se satisfaz, quer sempre mais e mais. Fica obcecado… como uma ideia fixa… torna-se numa doença. A pessoa deixa de ser humana, vira uma desumanidade sem limites. É o vale-tudo. Daí não desmagnetiza o seu pensamento. No fim vem a loucura, a neurose a necessitar de urgente tratamento psiquiátrico. Provoca guerras para obter mais e mais, até à destruição do planeta… da humanidade. Provoca uma grave contradição: O dinheiro resolve muitos problemas, mas quanto mais abundante mais problemas trás. É isto a origem da maldade.
O Super-ministro vai ao Hummer, traz a caixa térmica, abre-a. Retira uma garrafa geladíssima de Dom Perignon com cinco anos de idade. Convida Job mas este recusa com a cabeça. Satisfaz-se com uma farta golada. Reconta a exercitação de Job.
- Sabes Job… o nosso reino é como um universo-ilha. Os ricos são fábricas de lixo. Os seus lares produzem-no em abundância porque consomem muito. E obrigam-se a consumir o que a sua ira produz. Nem as plantas e os animais lhes escapam, porque montanhas de resíduos lhes caiem em cima todos os dias. Quando a consciência da Natureza se revolta, chamam-lhe calamidade natural... e as vítimas são imensas… os seres humanos que escapam vivem dispersos, na fuga incerta, permanente. A Natureza sussurra os seus segredos, mas já ninguém os entende, ou finge não entender. Aparece-nos em visões à noite, e desaba em cima de nós, precisamente quando estamos no sono mais profundo. Acordamos espantados e estremecemos perante tal poder. Os espíritos vagueiam à nossa volta, poucos povos já os entendem. O vento fala-nos, previne-nos, mas os nossos olhos já nada vêem. Está tudo corrompido, somos todos corruptos!

Perto, talvez apelando aos antepassados, cantando a sua desdita, a negra-bantu demonstra, desmonta as coxas muito salientes, e os seios fartos, muito dissidentes, que equidistantes bamboleiam, falantes. O Super-ministro regozija-se com a beleza natural, espontânea da bantu.
- Job… explicar estas coisas não é nada fácil… tornámo-nos mais puros e justos que o Criador. Já não confiamos em ninguém. Nem em nós confiamos… tornámo-nos num metal cheio de ferrugem, com os alicerces a desabar a todo o momento. Resta-nos ainda o pó para respirar. Vivemos num imenso holocausto, e há felicidade nisso. Vivemos os últimos dias das tormentas tecnológicas, das promessas… que finalmente o ser humano alcançaria o bem-estar e a felicidade eternos. As desgraças atingiram tal dimensão que os meios existentes já não satisfazem a demanda. Inventámos uma sociedade onde só existe a ira e a loucura. Tentamos lançar raízes, mas as águas sobem e não as deixam viver. Chegam com tal força que despedaçam tudo o que encontram pelo caminho. E não há quem nos livre. Depois vêm os famintos… o instinto de sobrevivência que os transforma em salteadores, predadores. E da terra não vem mais trabalho, porque dela só resta pó. E sem trabalho que fará o homem? Espera que a fome chame a morte. Esta vem e anuncia a agonia. E quem se salvará? É por isso que necessitamos do nosso rei, de alguém que nos dirija. Só ele entende os nossos anseios e faz obras para nos contentar. Se a chuva é demais a culpa não é dele. Também não é culpado pela inundação dos campos. Quando isso acontecer procurem um lugar alto para se salvarem. Estendam as mãos e aguardem, que alguma coisa virá. Porque será que os ricos são ignorantes, e os pobres sempre sábios? Porque na pobreza se aprende a viver, e na riqueza se aprende a destruir. O pobre conhece as veredas da escuridão, e o rico nela anda às apalpadelas, sempre com a espada preparada para matar. O pobre vive na esperança, o rico vive no desespero. O pobre vive com medo dos castigos do nosso rei, e nós os ricos, recebemos prémios. Não dá ir na conversa das ideologias políticas, e nos aventureiros que são muitos. É por isso que ficamos sem nada. Talvez esses da ajuda da paz te arranjem um bocado de sabão, óleo, e arroz. Como o Mal está em todo o lado, eles também podem ajudar com qualquer coisa. Seja como for, nunca te desvies do Mal. Ele está no nosso coração. Vamos prolongar a vida das pessoas até às eleições. Depois podem correr como entenderem… da fome claro!

Job, ficou horas astronómicas, canónicas, a fitar o infinito cosmogónico. Job, sentiu eclipsar-se, não conseguia explicar-se o porquê do aparecimento do Homem na Terra. O porquê de tanta trama que tal criatura produz tanto drama. Job, ficou com a cabeça em pantanas, no Paleozóico, não conseguia discorrer o pântano do comportamento andróide. Conseguiu absorver o álefe das borrascas humanas, e tocou o céu.
- Os amigos são como as ondas do mar. Quando chegam abraçam-nos, quando vão… não voltam mais. São como corvos que aguardam pacientes… como as silenciosas pirâmides egípcias. No alto dos seus templos esperam pela colheita de quem plantou. Posso firmar que a história da humanidade, é a história de quadrilhas selvagens bem organizadas.

Gil Gonçalves
Inicialmente publicado em: Eugénio Almeida Malambas
Imagem: http://www.cpires.com/docs/luanda_2005_25g.jpg

Sem comentários: