O ambiente lembrava navio alcoólico que perdeu o leme, balançado nas cristas das ondas. Ainda não atingira a profundidade abissal desejada. Como os relatórios do FMI, equações certas, politicas erradas.
Divinos devaneios para quem sabe liquefazer-se. – Astuciou Ulisses.
O vizinho esforça-se para subtilizar os instrumentos das cordas vocais. Por sorte a mente colabora.
-Vencido no jogo ebriático do álcool mas não convencido. Para liquefazer… escrever, dizem que é importante ter um estilo, e utilizar metáforas. Quando inventaram a pólvora diziam a mesma coisa. Na era do nuclear, inventaram outras contendas. No tempo em que o pensamento domine a matéria, não gostarão dos raios luminosos extraordinários: «porque o tom azulado deste pensamento está muito carregado, a tonalidade daquele pensamento rosa está demasiado clara, o matiz desse pensamento vermelho foge à cor do sangue.» Os editores continuarão a perseguir-nos e dirão: «o estilo e a metáfora das cores, não tem harmonia na estrutura, falta-lhes carácter». Sempre escravos da vontade deles. Estes são os verdadeiros ditadores benévolos. Só a sua ponderabilidade é imanente. Enfim, nenhum poder que se preze apoia intelectuais. Nos intelectos reside o prazer da resistência vital. Quem disser que a escravatura acabou, é um sonhador. A democracia dos escravos é a revolta.
Ulisses mergulha a mente, docemente nos mares espumosos, superficiais cristais oceânicos. Sucede-se uma praia que se deleita com a nudez horizontal de Penélope. A ondulação melodiosa sobe e desce transparecendo a areia que encosta, refrescando o desejo da fremente epiderme. Penélope senta-se, enche as mãos de areia e passa-a pelos seios que avolumam, depois afunda-as na púbis, na vagina da leal ausência. Olha longínqua para o infinito oceano, e desprende-se:
- Meu esposo, nos mares onde navegas é fácil enfrentares a fúria das ondas. Em Ítaca não suporto as ondas da intempérie humana que me perseguem. Os dias passados são perdidos, irrecuperáveis. Tudo muda. Só o bater das ondas do mar permanece imutável. Se as pessoas fossem assim…
Ulisses cheio de vocação na terra emocionada usa o cansaço da rouquidão.
- Mas não são, nunca serão!
- Mas gostam dos momentos dessas semelhanças… conduzem-se como focas.
- Conduzem-se como loucos, vivem em carros loucos, em loucas estradas, que se altercam loucamente. Destarte é a civilização.
Gil Gonçalves
Divinos devaneios para quem sabe liquefazer-se. – Astuciou Ulisses.
O vizinho esforça-se para subtilizar os instrumentos das cordas vocais. Por sorte a mente colabora.
-Vencido no jogo ebriático do álcool mas não convencido. Para liquefazer… escrever, dizem que é importante ter um estilo, e utilizar metáforas. Quando inventaram a pólvora diziam a mesma coisa. Na era do nuclear, inventaram outras contendas. No tempo em que o pensamento domine a matéria, não gostarão dos raios luminosos extraordinários: «porque o tom azulado deste pensamento está muito carregado, a tonalidade daquele pensamento rosa está demasiado clara, o matiz desse pensamento vermelho foge à cor do sangue.» Os editores continuarão a perseguir-nos e dirão: «o estilo e a metáfora das cores, não tem harmonia na estrutura, falta-lhes carácter». Sempre escravos da vontade deles. Estes são os verdadeiros ditadores benévolos. Só a sua ponderabilidade é imanente. Enfim, nenhum poder que se preze apoia intelectuais. Nos intelectos reside o prazer da resistência vital. Quem disser que a escravatura acabou, é um sonhador. A democracia dos escravos é a revolta.
Ulisses mergulha a mente, docemente nos mares espumosos, superficiais cristais oceânicos. Sucede-se uma praia que se deleita com a nudez horizontal de Penélope. A ondulação melodiosa sobe e desce transparecendo a areia que encosta, refrescando o desejo da fremente epiderme. Penélope senta-se, enche as mãos de areia e passa-a pelos seios que avolumam, depois afunda-as na púbis, na vagina da leal ausência. Olha longínqua para o infinito oceano, e desprende-se:
- Meu esposo, nos mares onde navegas é fácil enfrentares a fúria das ondas. Em Ítaca não suporto as ondas da intempérie humana que me perseguem. Os dias passados são perdidos, irrecuperáveis. Tudo muda. Só o bater das ondas do mar permanece imutável. Se as pessoas fossem assim…
Ulisses cheio de vocação na terra emocionada usa o cansaço da rouquidão.
- Mas não são, nunca serão!
- Mas gostam dos momentos dessas semelhanças… conduzem-se como focas.
- Conduzem-se como loucos, vivem em carros loucos, em loucas estradas, que se altercam loucamente. Destarte é a civilização.
Gil Gonçalves
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